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Sylvia Bandeira declara: "Sofri muito preconceito por ser rica"

Em entrevista exclusiva à CARAS Digital, Sylvia Bandeira diz que não há poesia em envelhecer e conta que deixou a Record em busca de mais visibilidade: "Não adianta fazer coisa legal em uma emissora que pouca gente vê"

Flávia Faccini Publicado em 24/02/2014, às 18h40 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Sylvia Bandeira - Ag. News
Sylvia Bandeira - Ag. News

A atriz Sylvia Bandeira passa à limpo sua inusitada trajetória na biografia Mamãe Costura e Esta Noite Vou Te Ver, lançada pela editora Epicuri. Em entrevista à CARAS Digital, a atriz falou com franqueza sobre sua vida pessoal e profissional. Filha de diplomata, Sylvia nasceu na Suíça e teve uma educação esmerada. Viveu na casa dos pais até se casar com o primeiro marido, Bobby Falkenburg, herdeiro do fundador rede de fast-food Bob's, e só bem mais tarde dedicou-se à carreira de atriz.

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A fama de mulher refinada e com posses, acredita Sylvia, a cercou de preconceito. "Sofri muito preconceito por ser rica. Aliás, cansei de pedir desculpas por ser rica. Fui durante muito tempo tachada como bela e burra.  Burra eu sabia que não era, mas ser discriminada por ter nascido em uma determinada classe social me incomodava. Se eu falava algo que as pessoas não entendiam não era para parecer chique, era o ambiente em que eu fui criada", afirmou.

A atriz falou ainda sobre os motivos que a levaram a sair da Record - seu último trabalho na TV foi em Balacobaco (2012) e disse não acreditar nas alegrias do envelhecimento. "Não vou dizer que há uma poesia em ficar velha. Isso é idiotice total". Confira os melhores momentos da entrevista:

- Por que resolveu escrever sua biografia?
Prefiro o termo história memorialista à biografia, que o escritor Luiz Rufatto, que foi meu professor e me encorajou a escrever, usou.  Isso porque não sigo um roteiro de começo meio e fim, dou vozes às diferentes fases da minha vida. Escrever esse livro é um sonho que me acompanha a vida inteira, tenho pensamentos, coisas escritas desde muito jovem, com expressões da época, juntei tudo com coisas que escrevi mais recentemente. Escrever minha história sempre foi uma ideia muito presente em mim. E no dia do lançamento, quase não me contive de tanta alegria. Já plantei uma árvore, tive filhos e escrevi um livro, estou muito contente de ter feito isso.

- E como foi rever momentos mais difíceis da sua vida?
Não tive medo de mergulhar nas coisas dolorosas. Sou uma pessoa de índole otimista, então não deixei de relatar de coisas sofridas, não passei a mão na minha cabeça.

- E qual acredita ter sido seu momento mais difícil?
Tive vários, mas acho que se tivesse que eleger, seria um momento em que passei por uma grande dificuldade financeira, foi um período muito complicado, estava sem contrato. Nessa época, me chamaram para ir a uma festa no MAM, pelos 30 anos da revista Playboy. Sabiam que iam sortear um carro e fui. Achei que o critério fosse sorte, mas quando cheguei lá, para concorrer, a gente tinha que bolar uma resposta para a pergunta: Como você se sente sendo uma das homenageadas pela Playboy? Respondi: "Estou me sentindo tão gostosa quanto a revista", sem pensar. Quando estava saindo da festa, ouvi chamarem meu nome. Tinha ganhado o carro.

- Você casou muito cedo, e sete anos depois se separou. Se arrependeu?
Não, não me arrependo porque não tinha na época o discernimento que tenho agora. Eu me casei primeiro e depois é que fui aprender o que queria ser. Eu tinha 17 anos. Depois viajei, fui estudar, fazer filosofia na Austrália, e resolvi que queria ser atriz.

- E com que olhos uma família tradicional como a sua viu a ideia de ser atriz?
Eles deram o maior incentivo. Eu já tinha viajado bastante, conhecido vários lugares, porque meu pai era diplomata e minha mãe bailarina. Nunca houve um cerceamento. Meu pai tinha o maior orgulho da minha carreira, ele contava para todo mundo que era meu pai.

- Sentiu preconceito por vir de uma família rica?
Sim, sofri muito preconceito por ser rica. Aliás, cansei de pedir desculpas por ser rica. Fui durante muito tempo tachada como bela e burra.  Burra eu sabia que não era, mas ser discriminada por ter nascido em uma determinada classe social me incomodava. Se eu falava algo que as pessoas não entendiam não era para parecer chique, era o ambiente que eu fui criada. Você assistiu ao filme Blue Jasmine [ filme de Woody Allen em que uma socialite nova-yorkina se vê obrigada a morar com a irmã ao ficar pobre] ?

- Sim .
Então, naquele filme, a protagonista está falida, mas viaja de primeira classe. Quando a irmã pergunta porque ela veio na primeira classe, ela fica sem resposta, diz que veio "porque sim". Eu entendo isso, aquele era o mundo daquela mulher, ela sequer pensava que havia outra possibilidade. Acho que é isso, aquela era a minha realidade, eu não via nada demais.

- E como procurava combater isso?
Só tem um jeito de combater preconceito: trabalho. Eu trabalhava muito, procurava responder fazendo um bom trabalho.

- Como foi falar sobre seus ex-amores no livro?
Pedi autorização para o Jô Soares, com quem fui casada, para escrever  um capítulo dedicado a ele. Mandei o que tinha escrito e ele me mandou um email lindo, envaidecido com as coisas que disse sobre ele.  Também falei do meu primeiro marido, Bobby Falkenburg, que era filho do dono do Bob's, campeão de Wimbledon, pai dos meus filhos. E teve outro marido, esse eu não falo nem o nome, me recuso, falo mal porque nossa relação foi um verdadeiro pesadelo. Com os outros, tenho uma boa relação.

- Mesmo com seu último marido, Carlos Eduardo?
Sim, principalmente. Nos separamos porque a relação estava desgastada, mas hoje digo que ele é  meu eterno ex futuro. A verdade é que nós continuamos casados, mas cada um vive num canto. A gente se fala 20 mil vezes por dia, mas ele tem a casa dele e eu a minha.

- E com relação ao trabalho, quais são seus planos?
Quero fazer uma coisa expressiva na televisão, voltar para a Globo. Cansei da Record, estou conversando com a Globo para voltar. Meu período na Record foi bom, mas está na hora de voltar, o bom filho à casa torna. Tenho também projetos no teatro. Agora em julho reestreio o espetáculo Marlene Dietrich - As Pernas do Século no Teatro Maison de France, no Rio.

- Alguma insatisfação específica a fez deixar a Record?
Eu acho que a Record tem um longo caminho a percorrer, tem pessoas muito competentes lá, diretores e atores fantásticos, mas acho que falta uma gerência geral para administrar, falta um pouco sacar quem é quem, para que as pessoas não fiquem tão perdidas. Mas valeu. Contrato longo é bom porque te dá estabilidade, mas também é preciso saber ousar. E sabe o que é também? Não adianta fazer coisa legal em uma emissora que pouca gente vê, é isso. O trabalho lá não é divulgado, e eu sou atriz, preciso que meu trabalho seja divulgado.

- Como é sua relação com o envelhecimento?
Eu sou uma pessoa movida a sonhos, mas não sou hipócrita. Não vou dizer que é uma maravilha envelhecer, que há uma poesia em ficar velha. Isso é uma idiotice total.  Acho que hoje em dia existem recursos para viver mais e bem, então que maravilha se a gente pode usá-los, mas dizer que envelhecer é bom, não é não.