Leticia Colin, Fábio Assunção, Mariana Lima, Daniel de Oliveira, George Moura, Sergio Goldenberg e Luísa Lima falam sobre nova série
Nesta segunda-feira, 03, vai ao ar o primeiro episódio do mais novo seriado da Globoplay, Onde Está Meu Coração?.
A trama é sobre o que acontece com a família ao uma médica acabar se tornando dependente química de crack.
A CARAS Brasil participou da coletiva sobre a série com os autores George Moura e Sergio Goldenberg, a diretora artística Luísa Lima e com os atores Letícia Colin (Amanda), Fábio Assunção (David), Mariana Lima (Sofia) e Daniel de Oliveira (Miguel).
Durante a conversa, os sete falaram sobre a questão das drogas ‘no mundo real’ e sobre os preparativos pelos quais passaram para realizar a produção.
Os criadores comentaram sobre a escolha de falar de dependência química no ambiente da medicina. “A escolha da protagonista ser uma médica foi uma escolha dramatúrgica deliberada com a ideia de que essa protagonista tem em si a capacidade de compreender os efeitos nocivos que a dependência química tem. Mas, ao mesmo tempo, ela não consegue se livrar sozinha dessa questão. Então, ela tem em si, uma contradição interna”, disse George. “É a oportunidade de a gente ver isso acontecer em uma família, com uma mulher, que aparentemente tem tudo pra ser feliz, que responde a todos os padrões do êxito social. Isso bagunça muito os preconceitos e ajuda a ver que é uma questão de saúde pública, da sociedade como um todo”, acrescentou Luísa.
O nome da série também foi questionado na entrevista. “Se a gente pensa que a protagonista é uma médica, ‘Onde Está Meu Coração’ pode ser uma resposta fisiológica: tá do lado esquerdo do peito. Só que, ‘Onde Está Meu Coração’ é onde está o teu desejo, a tua pulsação, a tua paixão pela vida. Então, eu acho que a gente trabalhou nesse título com essa ideia, de ter uma concretude e ao mesmo tempo ter uma subjetividade”, começou Moura. “Eu acho que é legal a gente trabalhar com esses títulos que são meio conceitos, ela pode ser vista como uma pergunta e pode ser vista também como uma resposta, cabe ao espectador tocado por ela decidir”, concluiu.
A série foi gravada na Cidade de São Paulo e acabou se tornando um dos personagens da trama. “Tem uma coisa curiosa e rara nessa série, que são 10 capítulos, mais de 400 minutos de produção e não tem nenhum take feito em estúdio”, explicou o autor George. “As escolhas das locações, a arquitetura, ela traz muito da mensagem a cada momento. Então, tem a arquitetura modernista do apartamento da Amanda e do Miguel, é um apartamento de linhas retas, muito de concreto, muito envidraçado, é um apto que traz uma coisa cosmopolita, mas ao mesmo tempo um pouco fria, um tanto brutalista. Quando a gente foi pro hospital onde a Amanda trabalha, é importante que tivesse a verdade de ser um hospital, mas que também representasse o simbólico daquela profissão e daquele lugar para ela”, falou a diretora.
Goldenberg comentou sobre as pesquisas por trás do roteiro. “A gente [ele e Moura] vem do jornalismo, então é quase impossível a gente escrever uma história sem ir, sem conhecer, sem sentir a pulsação, não só dos lugares. Você pesquisar é você mesmo ir lá”, disse se referindo à reuniões de N.A. que foram. “É um ambiente muito vivo, muito rico, de experiências humanas”, acrescentou George.
“O mais legal é quando o público olha uma narrativa com olhos livres”, foi a resposta de Moura quando foi questionado sobre qual impacto ele gostaria que a série tivesse nos telespectadores. “A gente quis uma outra matriz de abordagem. Agora, como ela vai tocar o coração das pessoas, a gente não sabe. Mas, o que a gente deseja é que quem assista saia dessa experiência com um olhar mais generoso e menos julgador sobre essa questão”, prosseguiu.
Já, Luísa quer que o impacto vá, também, em outra direção: “Que as pessoas também se aceitem mais na sua vulnerabilidade. Acho que a série também vai nesse lugar, ela investiga as contradições humanas. Ao mesmo tempo que somos vulneráveis também podemos ser fortes”.
O elenco falou sobre as gravações. “Quase não teve cena em que a gente não se impactou, não se transformou e que a gente não teve que mergulhar a fundo”, disse Mariana. “É difícil a gente não encontrar momentos especiais nessa série. Todas as cenas foram impactantes, nenhuma passava batido. Não teve cena fácil. Foi um trabalho que realmente a gente colocou nosso coração, nossa alma”, concordou Fábio.
Um dos momentos mais emocionantes da coletiva, foi quando os quatro atores revelaram como foram as pesquisas que fizeram em reuniões de N.A. e clínicas de reabilitação. “Eu levei a Letícia no N.A. pra ela conhecer, a gente participou de uma roda de partilha”, contou Assunção. “A gente conversou com psiquiatra, visitou o CAPS, visitou clínica, visitou o N.A. que eu pude acompanhar com o Fábio, eu ouvi uma reunião inteira e me tirou várias dúvidas de como funcionava o sistema”, prosseguiu Colin, que também conversou com pessoas que já haviam vencido a dependência do crack.
“Eu fui também na cracolândia que é um lugar de muito afeto, é um lugar de família, um lugar diferentemente do que todo mundo fala, de medo/ de assombro. É um lugar onde as pessoas se protegem, tem sonhos, tem seus afetos, as pessoas não queriam estar ali. A cracolândia é um espaço de resistência. Eu não estive lá como quem vai ao zoológico, eu conheci pessoas, eu fui pra aprender, eu fui pra escutar, eu respeito profundamente cada pessoa que me deu 1 minuto da atenção e que sentou ali do meu lado pra conversar comigo”, concluiu a atriz.
Levando a conversa para um lado mais leve, os artistas também revelaram quais foram as cenas que mais amaram gravar. “Teve uma cena que foi uma delícia de gravar, nesse sentido de menor intensidade emocional e mais comemorativa que foi da família em um momento que ela tava bem. A gente colocou uma música, aí a gente começou a dançar e tinha uma garrafa cenografada caiu a garrafa, e a gente continuou dançando. Eu nem sei se essa cena tá na série”, contou Mariana, que foi interrompida pela diretora afirmando que a cena está sim no seriado: “Ela tá, ela é imperdível”, afirmou.
Daniel, além de comentar sobre essa cena, disse: “Também recordo daquela noite que a gente foi gravar no interior de São Paulo, naquele lugar maravilhoso”, e Leticia se empolgou. “A Amanda passou por uma clínica de reabilitação que era em um lugar incrível e reabilitou todo mundo! Era num resort e eu encontrei até meus pais, eles foram me ver nas filmagens. E, meu pai assistiu uma cena que eu tava fazendo, uma cena com a Mari e o Fábio, ai meu pai ali assistindo, ele começou a ficar aos prantos, ai a Mari viu, o Fábio viu, meu pai abraçou o Fábio e começou a chorar, aí todo mundo chorava e era uma coisa assim emocionante e era um lugar delícia, tinha tudo, era muito bom! E tinha meu marido também lá”, adicionou, se referindo à Michel Melamed.