Ary Toledo garante que foi no Brasil que surgiu o stand up, conta que nunca foi processado e que existe, sim, limites para o humor. Ele ainda elege quem são os melhores comediantes da nova geração. 'O Brasil está vivendo o melhor período de humor'
O ano de 2013 teve sabor de comemoração para Ary Toledo – o humorista completou 50 anos de carreira. Aos 76, ele já tem definidos os primeiros projetos de seu 51º: o lançamento de um novo livro e a gravação de um DVD. Aposentaria? “Quando morrer eu me aposento, mas espero que seja a bem longo prazo”, diz à CARAS Online.
Em um bate-papo bem humorado, Ary Toledo avalia o humor no Brasil. Garante que foi aqui – e não nos Estados Unidos – o berço do stand up, orgulha-se de não ter processo por suas piadas e afirma que existe, sim, limite para o humor. Confira:
50 anos sem perder a graça
“Não tem segredo, mesmo se existisse eu não ia te contar”, brinca Ary sobre a receita para não perder a graça. Para ele, é preciso nascer com vocação para o humor. “Não existe escola de humor, faculdade de humor. Se existisse qualquer um poderia fazer vestibular. Você precisa ter vocação, talento. É como o motor do carro, não vai andar se não tiver motor”.
“Estou há 50 anos fazendo esse gênero, diferente do stand up, que eles abordam um tema só, ficam uns 20 minutos só sobre um tema. Eu não, meu show aborda todos os principais temas da sociedade brasileira: religião, política, esporte, raças, crianças. É bastante eclético. Eu canto, toco violão. A única semelhança é que eu faço de cara limpa, sem cenário, produção. Venho lotando, não estou querendo mudar não. É besteira. Em time que ganha não se mexe”.
Politicamente correto e os limites do humor
Em cinco décadas de carreira, Ary nunca foi processado por suas piadas. “Recebi castigo na época da ditadura, fui preso quatro dias porque contei piada política, mas a gente era julgado pela política em geral”, explica. “Nesses 50 anos nunca me preocupei com correto ou incorreto. Sempre me preocupei de levar o riso para as pessoas, mas conheço o meu limite. Quando dizem que o humor não tem limite, na minha opinião, é mentira. Quando você passa, cai na ofensa, na humilhação. O limite do humor é o riso”, acredita.
Novos nomes do humor
“O Brasil está vivendo o melhor período de humor, nunca tivemos tantos humoristas com aspas e sem aspas como temos agora. Quanto mais humoristas surgirem, melhor. Nossos netos vão rir de quê?”, questiona Ary. Para ele, no entanto, existe muita quantidade e pouca qualidade. “Eu acho o Rafinha (Bastos), os dois Marcelos (Adnet e Mansfield), o Danilo Gentili, o Fábio Porchat... Já é um bom aproveitamento. Considerando que na minha época tinha meia dúzia. Eu acho essa gente muito talentosa”, opina.
Ary dá um conselho à nova geração. “Humor para ser completo, não pode ser de um tema só. Eles cometem um erro de dizer que o stand up teve origem americana. Os americanos copiaram da gente, levaram pra lá e os jovens humoristas importaram dizendo que tem raiz americana. Tinha o Chico Anysio, o Jô soares, eu...”.
Aposentadoria?
Ary vai lançar em 2014 o segundo volume do livro Os Textículos de Ary Toledo, formado por frases que marcaram sua carreira. O primeiro, lançado no ano passado, vendeu mais de 100 mil cópias. Outra novidade é um DVD com seu show. “Será com novos textos, músicas novas. É Ary Toledo 5.1”, antecipa.
Aos 76 anos, ele não faz planos de parar de trabalhar. “O artista nunca pensa nisso. Veja a Dercy Gonçalves que trabalhou até morrer. Não é pelo dinheiro, é por uma necessidade de extravasar. O riso para o humorista é o oxigênio”, explica.
Ary pede para encerrar a entrevista com uma piada. “A ciência diz que as pessoas bem humoradas são menos suscetíveis a doenças relacionadas ao coração. Então, vamos levar a vida sempre com um sorriso nos lábios”, justifica. “Se a vida te der um limão, não fique chateado. Pegue esse limão e faça uma limonada. Se a vida te der uma goiaba, faça e uma goiabada. Se a vida te der um cágado, dê de presente para alguém”.