Em entrevista à CARAS Brasil, Isabel Teixeira adianta sobre espetáculo e revela como concilia teatro e TV em um dos momentos mais intensos de sua trajetória na arte
Isabel Teixeira (50) estreou nesta sexta-feira, 11, em São Paulo, Jandira, último texto da atriz e dramaturga Jandira Martini (1945-2024), encenado em um relato auto-biográfico com direção de Marcos Caruso (72). Em entrevista à CARAS Brasil, Isabel afirma viver o auge de sua carreira nos palcos. "Sou triatleta na atuação".
Enquanto grava como Violeta Castilho em Volta Por Cima, atual novela das sete da Globo no Rio de Janeiro, Isabel Teixeira terá que revezar suas semanas pelo menos até o mês de dezembro com o bairro de Perdizes, quase seu vizinho - a atriz é santacecilier assumida - para encenar a peça na capital paulistana. Para ela, a tarefa não será esforço.
"Eu estou tão feliz, tão realizada em poder fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Eu trabalhei muito pra chegar nesse combo e acho que não é novidade. Eu gosto demais de estar começando a dominar - eu não digo que domino porque eu não domino e também não é acostumar porque não é costume , mas a ficar mais íntima - a teledramaturgia, que pra mim é um grande prazer, mas eu gosto demais de fazer teatro, faço há 40 anos", explica.
Isabel conta que no começo, quando surgiu para o grande público do "plim-plim" em Amor de Mãe (2019) chegou a pensar que teria que escolher entre os palcos e as telinhas, mas com o tempo viu que não seria preciso fazer tal escolha. "São duas plataformas totalmente diferentes o teatro e a TV, duas musculaturas diferentes que eu como atriz tenho que ativar e eu gosto demais das duas. O triatleta não pode gostar só de pedalar, nadar, eu sou triatleta na atuação. É puxado, mas me dá uma disciplina que eu me predispus a ter, gosto de ter e isso é o principal. Não pense que é um esforço deslavado pra mim trabalhar de domingo a domingo, porque não é. E ainda tenho a editora que caminha junto e uma peça com a Cia. Munguzá. É um movimento contínuo o tempo inteiro e isso eu tenho e gosto assim".
Embora Isabel Teixeira já tenha levado sua Jandira por palcos de cidades como Rio de Janeiro (RJ) e outras do interior de São Paulo (SP), aqui na Selva de Pedra a peça traz algumas novidades que vão para muito além de sua composição de interpretação e texto: é que além de comunicar-se com um público que era "o público" de Jandira Martini - paulistana em seus trabalhos - e proporcionar que Isabel tenha que fazer um caminho que já fez muitas vezes em sua vida para chegar ao teatro do Tuca, Jandira, agora, é encenada em um palco de arena, cenário que faz parte da História do teatro paulista, onde Isabel foi muito feliz ao se apresentar com "Rainhas", peça de sua trajetória que lhe rendeu Prêmio Shell em 2009.
"A mágica do teatro de arena me aproxima mais do público. Faço teatro desde os 10 anos de idade, mas depois da EAD, passei por muitas companhias, sou uma das fundadoras da Cia. Livre de Teatro e trabalhávamos em arena, fizemos uma ocupação do teatro de Arena em São Paulo que foi importantíssima e ganhamos Shell por isso. Eu sou uma atriz de arena. Sou muito devota a esse formato", conta.
Isabel lembra que quando surgiu o convite para apresentar o espetáculo no Tucarena, ela ligou para Marcos Caruso, diretor da peça e perguntou se Jandira funcionava em formato de arena. "Funciona mais ainda. A personagem vai estar envolvendo um público que a envolve", respondeu o veterano, segundo a atriz.
O próximo passo, agora, é envolver para além do público paulistano. "Eu sinto e quero comprovar que gostaria de fazer essa peça no Brasil todo, em diferentes tipos de formatos, viajar pelos estados, porque tenho a impressão de que essa peça pega o mais íntimo coração de cada um. Ela é sobre a vontade de viver, a alegria de onde a gente está agora. É o que acontece comigo. Uma vontade de honrar o agora, o dia de hoje, que é de muita vida", exalta Isabel.
Isabel Teixeira iniciou nos palcos em 1984. Filha de atriz de teatro de São Paulo ligada à classe, naturalmente ela sempre soube quem eram Marcos Caruso e Jandira Martini, dupla praticamente inseparável na cena paulistana, principalmente, como recorda Isabel, em um tempo onde era difícil "vingar" dramaturgas como Jandira e Consuelo de Castro nos palcos.
Apesar de ter sido espectadora de peças como Porca Miséria, escrita por Jandira ao lado de Caruso e apresentada pela primeira vez em 1993, Isabel não teve contato artístico com sua musa inspiradora do espetáculo de agora e nem com Caruso no passado. "Tínhamos muitos amigos em comum e admiração de sobra, mas nunca os conheci e sempre tive esse dever. Aí por ironia do destino fui conhecer o Caruso não nos palcos, mas na TV", conta a atriz, referindo-se a Elas por Elas, novela de 2023, em que ela interpretou a vilã Helena, filha de Caruso, intérprete de Sérgio na trama.
Para ela, o encontro com Caruso, caracterizado de emoção e felicidade, era desejado por muitos anos. "Sei que Caruso é amante da teledramaturgia. Ele ama fazer novela e eu também, embora há alguns anos eu pensava que não fosse gostar, mas você sente quando o ator gosta. É maratona, tem que ter fôlego para 40 km que é fazer uma novela. Ter o prazer de fazer novela é ter musculatura pra isso e eu sou uma aprendiz porque estou desenvolvendo musculatura para fazer novela", detalha.
De acordo com Isabel colegas de cena como Dira Paes (55), Adriana Esteves (54) e Marcos Palmeira (61) cumprem tal maratona com maestria. "Eles correm a maratona de 40 km como se nada fosse", brinca a atriz, que compara a prática que está enfrentando ao exercício de escrita desempenhado por décadas entre Caruso e Jandira Martini.
"Eles moravam no mesmo bairro e se encontravam com frequência para exercitar, estavam para cumprir 40 anos deste exercício. Em cena com o Caruso na novela começamos a se encontrar para ler teatro e eu adoro, porque percebo que ele tem ferramenta, coisa de labuta, não é sentar e esperar vir", conta. Coincidência ou não, Isabel lembra que os três têm um ponto em comum: "Nós começamos na TV mais maduros. Aí com ironia do destino a gente vai se conhecer não no palco, mas na TV. Então, hoje em dia eu falo que sou do mesmo planeta que eles, onde atores escrevem, atuam, dirigem", afirma.
Isabel conta que passou a ter essa percepção no dia em que sua filha Flora estava com ela no Rio de Janeiro nos tempos de gravação de Elas por Elas. Era o dia em que morreu Jandira. "Falei pra Flora: 'minha filha, quer ver que ele não vai gravar porque morreu a parceira dele'. Quando cheguei no estúdio ele já estava lá, triste, claro, mas trabalhando, dando entrevistas, mas com as cenas decoradas. Falei 'Caruso, você aqui?' E ele: 'vim trabalhar em homenagem a ela'. Claro, depois ele veio para o velório, mas no dia seguinte lá estava ele gravando de novo. Eu achei isso tão forte e a partir daí eu digo que sou desse planeta".
Quinze dias depois, Isabel conta ter sido convidada novamente por Caruso para ler outra peça em sua casa. Dessa vez, os dois terminaram muito emocionados, segundo a atriz, que havia lido Jandira. "Eu tive uma certeza de que eu tive duas vezes na minha vida em relação a personagem e essa foi a terceira que falei quero fazer. O que move o ator é o desejo. A partir desse momento quando vi a gente já estava estreando. E eu vou te contar, não quero chorar, eu adoro ser dirigida, todos os diretores que passaram por mim são pessoas importantíssimas, eu adoro essa relação, dirijo também, mas amo ser dirigida e o Caruso realmente é um acontecimento na minha vida, é o auge da minha carreira ser dirigida por ele. Ser dirigida por um dramaturgo que pesa a palavra. A peça não tem nada. Sou eu e a luz, mas tem muito. É um trabalho de carpintaria artesanal e de domínio de trabalho do ator e da cena, então eu considero o augre da minha carreira e eu tenho estrada", afirma.
"Convivi com ele na TV e foi um aprendizado, alegria. Eu vi ele a novela inteira. ele fez teatro, ele nunca estava de malmor, nunca estava triste, nunca reclamou. E agora a oportunidade de estar em meio a essa parceria dele com a Jandira. Ela escreveu o texto, ela é a autora e o nosso norte. Então acho que isso é uma grande celebração teatral e eu faço parte dela. É muito bonito o que está acontecendo e eu saio muito reenergizada desses lugares, não me canso porque eu vivo para estar nesses lugares".
Na peça, Jandira recebe um diagnóstico e ele pode parecer uma tragédia (segundo Isabel, é), mas ao mesmo tempo (o que de acordo com a atriz é "muito a cara deles", por ser solar e pulsar a vida) se desenvolve por pura dramaturgia. "Não é auto ficcção, é trabalho de uma dramaturga. Ela faz dramaturgia com maestria. Não é um retrato fiel, porque tem muito trabalho ali e isso é para o público. E ele dirige para o público. É um chacoalhão de vida no espectador. E tem outra coisa: o humor. São dois artistas que trabalharam sempre com humor. Eu chorei quando terminei de ler a peça, mas a peça não é pra chorar. A peça é uma pulsão de vida e isso também me une a eles, não só toda a história".
E aí Isabel, a gente acha esse bonde ou ele continua perdido?
– A gente acha, com certeza. A gente acha. O lance é sempre estar buscando ele. Se você está em movimento atrás do bonde perdido você acha. Até que uma hora a gente vai se dar conta que a gente sempre esteve no bonde. O bonde é estar em busca do bonde perdido. A vida é movimento e a gente resiste ao movimento. Eu tô com isso na cabeça, como a gente reclama. A vida é movimento. Estar em movimento é esse bonde, estar em busca do bonde é movimento.
Inédito em São Paulo, Jandira está em cartaz até o dia 8 de dezembro no Tucarena, em Perdizes. Às sextas às 21h, sábados às 19h e domingo às 17h.