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Teatro / ENTREVISTA

Ester Laccava leva história de vida pessoal para peça sobre feminismo: 'Precisei me tornar forte'

Em entrevista à CARAS Brasil, Ester Laccava exalta literatura de cordel e fala sobre união do estilo com relatos pessoais no espetáculo A Árvore Seca

Ester Laccava em A Árvore Seca - Reprodução/Instagram
Ester Laccava em A Árvore Seca - Reprodução/Instagram

A atriz e diretora Ester Laccava (59) encerra neste domingo, 13, a temporada paulistana de A Árvore Seca, espetáculo solo que une a poesia da literatura de cordel a confissões pessoais em cena. Parte da trilogia Grito de Mulher, a peça já foi apresentada em Portugal e na Alemanha e, em breve, terá sua continuação com Ossada, parte final da obra. Em entrevista à CARAS Brasil, a atriz reflete sobre levar sua história de vida pessoal para peça sobre feminismo: "Precisei me tornar forte", revela.

Encontro com o próprio feminino

Em A Árvore Seca, Laccava dá vida à trajetória de uma mulher do sertão que transcende a infertilidade arrancando alegrias dos pequenos momentos da vida. A simplicidade da linguagem do cordel é elevada à categoria de sofisticação máxima, segundo ela: “Como é sofisticado ser simples! O cordel tem essa grandeza. Esse cruzamento entre o cordel e os depoimentos autobiográficos da minha pessoa desafetam a obra e o público para um encontro muito íntimo, muito poético".

O espetáculo surgiu a partir de uma encomenda feita por Ester a um jovem cordelista, Alexandre Sansão, ainda em 2005, na Bahia. Desde então, o monólogo ganhou corpo, atravessou fronteiras e foi apresentado em países como Alemanha e Portugal, além de outros locais no Brasil. A atriz transformou esse processo criativo em uma travessia poética: “Durante o tempo todo de preparação, A Árvore Seca acabou se tornando um rio onde me deixo mergulhar sem medo de abrir os olhos embaixo da água”.

Ester destaca que os espetáculos da trilogia não falam apenas do feminino como identidade, mas como uma estrutura social — afinal, o ser mulher é uma formação. “Quando você toca no feminismo, você toca em questões políticas, sociais, econômicas, humanitárias, ancestrais. Não é só o patriarcado. São muitas as questões envolvidas no ser mulher. Falar sobre o feminismo é falar sobre absolutamente tudo”, reflete.

Ao mesmo tempo, o projeto é uma forma de liberdade criativa e existencial. “Grito de Mulher significa para minha carreira uma emancipação. Uma liberdade, eu poder gritar, me manifestar, denunciar”. Ester se reconhece hoje como criadora completa, que comanda sua obra e sua narrativa: “Você não vai conseguir me enjaular, porque eu já sei como voar”.

Juventude, troca e liberdade

Com 43 anos de teatro, a atriz se reinventa sem abrir mão da escuta. Um dos pontos mais fortes de sua trajetória atual é a relação com o público jovem, com quem estabelece trocas constantes. “Eu não posso chegar para uma geração e dizer que eles não sabem de nada. Quero trocar. Quero mostrar minha playlist e que eles me mostrem a deles”. Na percepção da atriz, esse contato é essencial para manter sua presença ativa no mundo.

“O desafio maior é baixar o julgamento e incluir todas as mulheres. Sermos todas cúmplices". Ao falar sobre seus espetáculos, Ester reconhece o papel do coletivo: “Sou sozinha no palco, mas vêm comigo vinte pessoas no trabalho”. E é essa rede de afeto e parceria que sustenta o impacto de sua obra.

Já encenada no exterior e em espaços tão variados quanto boates e casas de caiçara no Brasil, A Árvore Seca, segundo Ester, mantém a potência da mensagem em qualquer idioma. “O princípio básico de ser mulher é o mesmo em todos os países. A empatia, a troca, a comunicação… é impressionante como chega”, conta.

Mulheres indomesticáveis à vista

Depois da primeira parte da obra, a peça Carne Viva, e A Árvore Seca, Ester se prepara para lançar a última parte da trilogia: Ossada, prevista para estrear ainda este ano. “É um desfile de mulheres indomesticáveis. Quando você abre a jaula e fala: ‘pode sair’, aí você vai ver o que acontece”.

Com dramaturgia adaptada de autoras como Maureen Lipman, Wislawa Szymborska e Laurie Anderson, Ossada promete ser um coro de vozes femininas libertas. A montagem tem dramaturgia costurada por Ester ao lado de João Vadicuri e Elzeman Neves. A construção textual parte de colagens e trajetos poéticos, com base em histórias que revelam diferentes faces da mulher. “A Ossada é uma chuva de mulheres indomesticáveis. É o que acontece quando você liberta essas mulheres.”

Ainda sem data definida, a artista espera anunciar a estreia em breve. “Gostaria que fosse em junho, mas ainda estou esperando duas respostas”, compartilha. Enquanto isso, segue costurando a alma feminina em forma de teatro.

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