As lições da artista que não se deixa desanimar com as dificuldades: ‘Eu não tenho medo da morte. Quando ela vier, ela vem!'
Com um sorriso de orelha a orelha, Suely Franco (83) chegou à confeitaria Que Doce!, na Urca, Rio de Janeiro, para um bate-papo exclusivo com CARAS. Enquanto era maquiada, a atriz fazia algumas piadas e logo sua alegria contagiou a todos da equipe. “Eu adoro fazer as pessoas se divertirem. Quando me dizem ‘você melhorou meu dia hoje’ eu fico felicíssima”, afirma a estrela, que foi a grande homenageada do Prêmio Prio do Humor este ano.
Ao longo desses mais de 65 anos de carreira, entre atuações em peças, novelas, filmes e até dublagens, como fez na animação Tarzan, a artista pode dizer que já fez muita gente feliz. “Gosto de fazer tudo que faço. Gosto de fazer comédia, gosto de fazer drama, adoro fazer musical. O que eu gosto mais é não ficar fazendo sempre a mesma coisa, ficar intercalando”, conta ela, que não pensa em parar de trabalhar. Nunca! “De jeito nenhum! Ator se para de trabalhar morre. A gente sente uma falta enorme de viver outras vidas, porque, com cada personagem que a gente faz, a gente aprende uma porção de coisas também. Então é morrer no palco”, explica.
E ela não tem parado mesmo. No ar há dez anos no canal Gloob, com a série infantil Detetives do Prédio Azul, Suely esteve recentemente no teatro com os espetáculos Mulheres Altas e Copacabana Palace – O Musical e gravou o filme Inexplicável. Já as novelas, no entanto, ela segue está afastada desde a global A Dona do Pedaço, de 2019. Assim como muitos colegas de profissão, ela também acha que as oportunidades na TV são menores para atores mais velhos. “A gente sente muita falta. Você vê que os papéis de mais velhos sempre são os menores. E são aqueles atores que são mais chegados ao autor ou ao diretor. Tem muito mais papel em teatro. E fazendo teatro tenho pouca possibilidade de ver televisão. Então, quando volto, já não conheço mais quase ninguém, é tanta gente nova”, relata a veterana, que neste mês começa a ensaiar o texto de seu novo espetáculo, que ela ainda não pode dizer o nome.
Experiente, a atriz alerta que a nova geração deve se preparar, ter um plano B, procurar aprender a fazer outras funções para que elas mesmas consigam produzir seus trabalhos. “Quem está começando agora não tem a menor ideia do que a gente passa na nossa profissão. Por exemplo, a dificuldade que foi se sustentar durante a pandemia”, diz ela, que não precisou trabalhar em outra área. “Eu sempre tive muita sorte, mesmo nas partes mais difíceis aparecia alguma coisa para eu fazer, mesmo que fosse pequena, uma participação, então, eu sempre consegui me manter”, conta ela. Apesar de reconhecer a instabilidade da profissão, ela nunca pensou em desistir. “Nunca poderia ser outra coisa. Desde garota
só brinquei de ser atriz. Com 7, 8 anos, fui fazer radioteatro na Roquette-Pinto”, recorda a diva da dramaturgia.
Feliz e bem resolvida, a artista não se rende a procedimentos estéticos. “Eu levo um susto quando me vejo no espelho. Na minha cabeça, eu sou outra pessoa, tenho 16 anos (risos)”, diverte-se. A estrela observa que o idoso de hoje em dia não é como o do passado. “Olha o que era uma mulher de 50 anos antigamente e uma hoje, com tudo no lugar, bonitinho. Hoje, as vovós estão todas nos bailes, dançando, namorando. Está tudo diferente”, compara ela, que evita ir para bailes e shows por não gostar de tumulto. “Adoro dançar, mas prefiro fazer musical”, explica.
Apesar de ter um perfil no Instagram, Suely também não é adepta das redes sociais. “Nunca gostei de ficar perdendo tempo com isso. Eu prefiro ler, ver outras coisas diferentes do que ficar contando minha vida. Nunca tive esse hábito, não gosto de misturar, botar a vida assim para todo mundo ficar sabendo”, explica.
Lidando bem com o passar dos anos, ela garante: “Não tenho medo da morte. Quando vier, vem. É uma coisa maravilhosa porque a gente não tem mais que se preocupar com a conta que tem que pagar (risos). Pra mim a coisa pior do mundo é ficar devendo. Não aguento isso”, revela a atriz, que acredita em outras vidas e fala em reencontrar os parentes que já se foram. “Eu acho que a gente está sempre em contato, sem a gente saber”, diz. “Eu já me vi em muitas situações que só com um anjo da guarda ao lado que eu poderia ter saído. Caí de uma cachoeira e não aconteceu nada. Depois, eu estava saindo de um apartamento em Copacabana, o policial deu um tiro num ladrão. Se eu saio um segundo antes, o tiro tinha pegado em mim. Então, meus anjos, obrigada, obrigada!”, agradece ela.
FOTOS: MÁRCIO FARIAS; BELEZA: MICAELLE RODRIGUES; SALÃO: TATIANA ARAÚJO HAIR CONCEPT; LOOKS: ZANYA ASSESSORIA; AGRADECIMENTOS: QUE DOCE