Antonio Cicero morreu aos 79 anos após ser submetido a uma eutanásia na Suíça; médico alerta
O poeta Antonio Cicero morreu aos 79 anos nesta quarta-feira, 23, na Suíça. O brasileiro escolheu ser submetido a uma eutanásia, procedimento em que o paciente pede para morrer de forma indolor. No Brasil, a prática é proibida.
Segundo informações já divulgadas, ele viajou ao país em segredo à Europa para morrer. No país do continente, o procedimento é legalizado, mas seguido por regras rígidas, como comprovação de diagnóstico de doença incurável que cause sofrimento, por exemplo.
Em entrevista à CARAS Brasil, Bruno Burjaili, Neurocirurgião do corpo clínico do hospital Sírio-Libanês e Especialista em Dor pela Sociedade Brasileira para Estudo da Dor, enfatiza que não existe uma intensidade de dor que seja uma espécie de "indicativo" de autanásia.
"Existem diversas medidas para atenuar dores crônicas, mesmo as mais intensas, extremas, e estamos habituados a oferecer opções de alívio o tempo todo. Não devemos jamais imaginar que uma dor "não tem jeito" e que a eutanásia seria uma "saída". Pelo contrário, recomendamos extremo cuidado", alerta.
"Que fique clara a mensagem: eutanásia não é uma solução, nem algo "inevitável" pela natureza de alguma dor ou doença em especial. Ela surge da sensação de que não há mais nada a ser feito, o que quase nunca (nunca?) é verdade", destaca.
Para o especialista, existem no mercado medicamentos com indicação precisa para dores extremas e dores crônicas. No entanto, ele também explica que existem medicamentos que atrapalham o manejo dessas dores, o que obriga a equipe médica a retirá-los.
"Também dispomos de terapias físicas e tratamento psicológico concomitante (porque a dor, nessa intensidade, sempre irá impactar a saúde mental em conjunto). Além disso, há procedimentos percutâneos (por 'agulha') que podem incluir substâncias diversas, radiofrequência, crioablação, entre outras modalidades, que podem ser guiadas por ultrassom, raios-x, tomografia. Até mesmo cirurgias no sistema nervoso para abordar diretamente a propagação da informação dolorosa, entre elas, implantes de eletrodos e ablações minuciosamente planejadas. Outras opções, além das mencionadas aqui, também podem ser utilizadas, e cada caso é único", ressalta.
Para Ivania Konno, especialista em relacionamento e comportamento não há problemas de saúde que especificamente 'levem' alguém a pedir eutanásia. "Vemos regularmente pacientes que lidam com sofrimentos extremamente complexos e intensos, mas conseguem manejá-los com e equipe de saúde adequada, envolvendo diversos profissionais, que atuam de modo coordenado. Muitas vezes, esse desejo está ligado ao fato de a pessoa não haver recebido, realmente, todo o potencial de ajuda possível, mesmo que ela acredite que já recebeu", diz
Konno explica que dores emocionais e físicas causam impacto na qualidade de vida do paciente. Em alguns casos, os medicamentos não fazem efeito, o que muitas vezes interfere no psicológico e no limite de suportar "sofrimento"
"Quando a dor é física os analgésicos não fazem efeito, tenho paciente que precisa entrar em coma para descansar porque a dor é muito alta ele não consegue comer, dormir, dirigir… E se for a dor emocional, a pessoa não quer sair do vórtice do trauma, não quer confronto, quer fugir", revela.
A especialista afirma que é possível reverter a dor, seja física ou emocional. "A dor física ou emocional é uma conexão neural e é possível reverter. A dor física com meditação, com exercícios físicos e formando novas conexões neurais. A dor emocional com o perdão e com a ressignificação do trauma. Tem gente que vicia na dor, vicia no emprego ruim, no relacionamento ruim, isso se chama co-dependência. Para querer sair da dor, vontade, intenção são essenciais!", finaliza.
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