O reconhecimento e a representatividade do DJ, cantor e produtor Pedro Sampaio
Antes de embarcar para fazer shows na Espanha e em Portugal, o DJ, cantor e produtor musical Pedro Sampaio (25) passou pela França para conhecer um pouco de Paris e produzir um material exclusivo para a CARAS. “Me senti importante por fazer fotos para a revista”, disse, na maior humildade, um dos artistas mais bombados do momento na cena nacional. Lotando arenas em Lisboa, Açores e Punta Umbría, o carioca teve a mesma receptividade a qual está acostumado no Brasil: foi abraçado pelo público. E, mais do que sua arte, foi abraçado também por ser quem ele é. Antes de embarcar para a turnê na Europa, o músico se declarou bissexual durante uma apresentação no Lollapalooza. O manifesto atravessou o Oceano Atlântico.
– Como foi a turnê?
– Foi um momento muito mágico! Eu sabia que minha música chegava a Portugal e ocupou um espaço gigantesco no país, ficamos em primeiro lugar com Dançarina, mas tem uma diferença entre a música chegar ao país e o artista chegar. A gente fechou a Altice, a maior arena de Portugal. Foram mais de 12 mil pessoas! Me senti abraçado não só pela minha música, mas como artista também.
– Já caiu a ficha de tudo o que você tem vivido?
– Não sei se essa ficha vai cair, porque estou sempre dando vários passos, cada semana acontece uma coisa diferente. E já está há um bom tempo nesse ritmo. Acho que se isso está vindo pra mim é porque tenho a capacidade de abraçar e concluir essa missão.
– Você pensa em investir na carreira internacional?
– Penso, porque um dos meus objetivos como artista brasileiro é ser mais um agente que vai levar o funk lá para fora. A Anitta já abre várias portas, levantando essa bandeira e nós temos vários talentos brasileiros com muito potencial. Antes de começar a turnê, fui conhecer a França porque nunca tinha ido. Aí, estive em uma balada, fiquei sentado com os amigos, tocou vários funks brasileiros que são clássicos e tocou Dançarina. Eu fiquei superfeliz!
– E não é só sua música que tem chegado a outros países. Em um show em Portugal, um fã agradeceu pela representatividade bissexual, fazendo menção ao seu manifesto no Lollapalooza.
– Senti orgulho, porque só quem é LGBTQIAPN+ entende a necessidade da representatividade, de a gente se conectar com pessoas que têm a mesma luta. E a minha manifestação foi muito para isso, para mostrar que está tudo bem, criar essa identificação e gerar essa coragem em quem precisa. Não são todos que precisam, mas, assim como eu, na minha adolescência, isso foi importante no meu processo. E a pessoa levar essa placa no show... Ela escreveu, teve coragem de levantar... São atos de resistência, de representatividade, que são maiores do que a gente pode ver naquele momento rápido que passa. Me tocou muito esse momento e teve outro também.
– Qual?
– Nessa turnê, depois dos shows, eu atendia muitos fãs e um deles me falou: ‘Sua coragem me deu coragem para me assumir para a minha família’. Me arrepia só de lembrar! Esses momentos são além da música, são além de qualquer conexão que a gente possa imaginar, é uma coisa muito mais intensa. Aquilo marcou a vida daquela pessoa, fez ela evoluir, criar asas. Porque esse processo de você falar com a família, para cada pessoa, é diferente, tem gente que tem um processo mais tranquilo, tem gente que é um processo mais árduo, mas a coragem de você falar sobre esse assunto já é um grande passo. Então, quando ele me falou, só me deu mais certeza ainda de que fiz o certo, porque fiz para encorajar, para inspirar outras pessoas.
– Você sempre foi muito discreto. Por que decidiu falar abertamente sobre sua sexualidade?
– Eu comecei a minha carreira muito novo, comecei a tocar com 14 anos e com 17 estava fazendo show. Estava em um processo de amadurecimento como ser humano e como artista também. Acho que esse foi um momento em que eu me senti, de fato, maduro o suficiente para falar sobre esse assunto. Estava resolvido também como pessoa, dentro da minha própria família, eu senti que era a hora certa. E ser no Lolla, com a participação do Lulu Santos, que regravou a música, só coroou tudo. Como artista jovem, acho que isso inspira outras pessoas, dá lugar de fala, mostra que está tudo bem, que não tem problema, não precisa ter vergonha.
– E abre também debates sobre o assunto...
– A visibilidade bissexual é um assunto interessante a ser debatido, porque muitas pessoas descredibilizam isso, acham que são pessoas que estão em dúvida, que não sabem o que querem. Começam as apostas também de ‘Ah, ele é isso, ele não é isso’. E não é por aí, sabe? É uma coisa precisa ser respeitada, pois existe sofrimento no processo de descoberta. O principal é a comunidade estar unida, para um dar a mão para o outro e a gente normalizar isso, mostrar que é normal, lutar contra o preconceito mesmo. Existem vários quebra-molas no meio dessa estrada, mas nesse período eu só senti amor mesmo.
– Se sente mais livre agora?
– Me sinto. Eu estou vivendo agora um momento, pessoalmente falando, mais livre mesmo. Antes de acontecer isso tudo, eu ficava pensando muito em como reagir, se eu devia esconder isso. Essas dúvidas passam pela cabeça.
– Se sentia pressionado, invadido pela mídia?
– Não, eu sei que o meu trabalho é ser uma pessoa pública, então eu posso ser alvo desse tipo de situação, de notícia. Acho que a criação da minha família me deu uma maturidade muito além do que eu poderia esperar, porque são coisas que não me afetam tanto e entendo o lugar que eu estou hoje para que essas coisas aconteçam. Tudo foi caminhando para isso acontecer e, em paralelo, a minha vida pessoal, dentro da minha família, a coisa já estava superavançada, caminhando superbem. Acho que tudo se alinhou.
– Sua carreira é meteórica. Como faz para não pirar?
– A minha família me deu uma estrutura, uma base muito importante. Eu moro até hoje com a minha mãe, meu pai e minha irmã. Acho que isso também ajuda a fincar meus pés no chão. Meus pais sempre me apoiaram, me instruíram muito e acho que isso me deu um suporte para lidar com tudo que está acontecendo. Para mim, o amor da família supera qualquer situação.
– Se cobra para emplacar hits?
– Eu já acertei muita coisa e, por fazer parte de uma gravadora, existe essa cobrança sim, mas a minha missão é não virar refém disso. Eu quero construir uma carreira artística sólida, que vai além de apenas ter grandes hits. Eu preciso ter músicas que me conectem com todo tipo de pessoa. O hit é importante, é a música que te projeta, que te traz números, sim, mas acho que não é isso, senão a gente enlouquece e trabalha para o número e não para a arte.
FOTOS: VICTOR BESE