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Revista / INTENSIDADE E FORÇA

Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello rompem barreiras com a arte: 'O etarismo é real'

Em entrevista exclusiva à Revista CARAS, Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello abrem intimidade e confessam sobre maturidade, filhos e vida na arte

Fabricio Pellegrino
por Fabricio Pellegrino
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Publicado em 19/09/2024, às 15h00

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Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos - Renam Christofoletti
Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos - Renam Christofoletti

Juntos na vida e na arte, Claudia Raia (57) e Jarbas Homem de Mello (55) não param! Após o sucesso do espetáculo Tarsila, a Brasileira, o casal volta a dividir cena em Conserto para Dois – O Musical, em SP. E em meio aos ensaios e à agenda de apresentações, eles ainda encontram tempo para se dedicar ao atual protagonista da família: o pequeno Luca (1).

“Quando você tem 30 e poucos anos, quer estar em vários lugares e fazer várias coisas ao mesmo tempo. Com 57, você sabe onde quer estar e onde realmente está sua prioridade. Hoje, se me convidarem para fazer uma série no sertão da Paraíba e ficar por seis meses lá, longe do meu filho, não vou. E não que não queira fazer a série, só não quero perder coisas do Luca como perdi da Sophia e do Enzo, embora tenha lutado muito para estar presente”, avalia Claudia.

Entre os palcos e a agitada rotina com o herdeiro, Claudia e Jarbas reservaram tempo para conversar com exclusividade com CARAS. Em seu refúgio, em Bragança Paulista, no interior de SP, eles abriram o coração para falar sobre os desafios do teatro e os novos projetos. A atriz foi além, e ainda narrou a jornada da gravidez e debateu temas como menopausa e etarismo.

– Vocês encerraram a temporada de Tarsila no primeiro semestre e agora voltam com Conserto para Dois…

Claudia – Tarsila é um espetáculo icônico. Quero trazê-lo de novo em 2026. É um espetáculo grande, envolve 65 pessoas, caro, mas muito necessário. O Fagundes viu e disse: “Esse espetáculo tinha que ser fixo. É a história do Brasil”. Ele tem razão.

– Como nasceu Tarsila?

Claudia – Tarsilinha disse que queria fazer um espetáculo sobre a tia, mas só faria comigo produzindo e assumindo o papel, porque ela acha que sou a única mulher que tem a força de Tarsila. Foi muita responsabilidade. É a história real de uma pessoa importante no País, alguém que fez a identidade artística do Brasil. Não podia esquecer de nada, omitir nada, são fatos. As letras das músicas foram manifestos do Oswald de Andrade escritas por Mário de Andrade. Tudo que falam no espetáculo foi dito ou escrito por eles.

– É um espetáculo brasileiro de grandes dimensões.

Claudia – Tudo que trazemos da Broadway, fazemos grandão. Já o que é brasileiro, fazem menor. Temos um pouco a síndrome de vira-lata. O direto Jorge Takla, viu Tarsila e disse: “Vocês botaram o sarrafo do musical brasileiro lá em cima”. Isso é legal, mas um desafio, pois precisamos continuar, não podemos padecer. Abracei os projetos de espetáculos brasileiros, mas não significa que não farei montagens americanas, inglesas…

– Essa temporada de Conserto para Dois tem mudanças?

Claudia – Esse espetáculo é o terror de todos nós (risos). Tudo acontece rápido: mudanças de cenário, trocas de roupa… tudo deve ser preciso. Então, enxugamos o figurino, fizemos cortes e ensaiamos de novo para lembrar tudo.

– E tem mais projeto de teatro por aí, né?

Claudia – Em janeiro estreamos Menopausa, em Portugal. A peça usa a arte para prestar serviço. É um assunto sobre o qual falo nas redes com a mulher de 50+ e tenho a missão de informar sobre isso.

– Por que estrear em Portugal?

Claudia – Por que não se fala sobre esse assunto lá. Há seis meses, era proibido a mulher fazer reposição hormonal em Portugal. Aí, uma farmacêutica que decidiu fazer uma campanha pró-mulher e, principalmente, sobre a menopausa resolveu patrocinar o espetáculo. Tudo encaixou. Serão seis semanas em Lisboa e seis semanas rodando por Portugal. Depois, vem para o Brasil.

– Entre tantos temas femininos, por que falar sobre menopausa?

Claudia – Primeiro, por experiência. Depois, as mulheres precisam de uma mão feminina estendida para discutirem. Participei de um simpósio sobre menopausa e longevidade em Portugal e descobri lá que uma suposta dor muscular que achava que tinha, na verdade, era a menopausa.

– Falta informação?

Claudia – A mulher é preparada para menstruar, engravidar, amamentar... mas ninguém fala sobre menopausa. Ninguém diz que se trata de um dos momentos mais difíceis de vida da mulher. A mulher com 40 e poucos anos cai em um buraco e só vai se levantar aos 80, para virar a velhinha fofa. Até lá, fica no limbo. Não estamos acostumados que uma mulher mais velha seja uma Jane Fonda. A nova mulher de 50 não está nos livros. Os médicos não sabem lidar com ela. Quando engravidei do Luca, dizia para a médica: estou na menopausa, fiquei grávida, ou seja, foi uma pausa na meno (risos). Quando perguntei se depois do nascimento voltaria para a menopausa, ela não sabia dizer, não há protocolo para isso.

– E voltou?

Claudia – Sim, a menopausa voltou. Quando engravidei, falavam: ‘Ué, mas ela transa?’. E, sim, super! É o machismo estrutural. É como se a mulher mais velha perdesse a serventia. Todos, inclusive médicos, me desencorajaram a engravidar. Fiz tratamento para a inseminação, mas não rolou e engravidei naturalmente, o tratamento estimulou os hormônios.

– Hoje, como avalia essa jornada da gravidez?

Claudia – Na hora, não dimensionei o quanto seria desafiador. Só fui. E fui muito feliz. Hoje, penso que fui bem inconsequente. E não fazia nada que minha médica pedia. Ela dizia para ficar de repouso, eu malhava, fazia o que eu queria.

– Foi uma gravidez tranquila?

Claudia – Sim, mas nos últimos três meses tive insônia e não dormia em hora nenhuma. Eu desenvolvi síndrome do pânico por não dormir. Caía o dia e eu ‘panicava’, porque sabia que não dormiria. Me curei com auxílio do psiquiatra, sound healing, terapia... E tive pressão alta na gravidez, mas depois que o Luca nasceu, não tive mais.

– O que aprendeu com o Jarbas como pai de primeira viagem?

Claudia – Sou mais apavorada em relação aos cuidados. O Jarbas me traz uma tranquilidade que eu, mãe de três, fico sem entender!

– Quando a Sophia mudou para Nova York, bateu a síndrome do ninho vazio?

Claudia – Eu, Jarbas e Enzo levamos a Sophia para lá e ficamos até ela se acomodar. Quando voltamos, o Enzo pensou em se mudar, mas pedi para ele esperar um pouco, porque sair todo mundo junto assim seria difícil (risos). Ele topou. Aí, engravidei e ele decidiu ficar até o bebê nascer para me ajudar. Agora ele está procurando apartamento. Meu ninho está cheio e meus filhos estão sempre por perto. Sou um grude com eles.

– Na adolescência, você morou em Nova York. O que falou para a Sophia sobre a cidade?

Claudia – É uma cidade difícil para morar, exigente, dura com todos. Quando fui, eram condições diferentes. Vivi de favor com um coreógrafo, depois fui para um apartamento pequenininho, fui garçonete... Ela adora lá, mas sabe que é um lugar difícil, de poucas possibilidades, que os latinos estão sempre abaixo dos americanos.

– Sophia estuda cinema, Enzo produz. Vem projeto em família?

Claudia – Imediatamente ainda não temos planos, mas para o futuro, sim. Produzo teatro desde os 19 anos e produção é produção, independentemente para onde seja. Mas tem características que eu quero aprender, então farei coprodução de audiovisual. Produzir me dá autonomia.

– Não fica refém de convites!

Claudia – Exato! E tem mais: o etarismo é real. É difícil você ter uma protagonista de 60 anos. Como não acontece normalmente, você corre atrás. É o que eu tenho no teatro. Vou atrás de personagens que quero fazer.

– Como foi deixar a Globo após 40 anos de contrato fixo?

Claudia – Tenho carinho e gratidão pela Globo. Lá, fiz uma carreira linda, amigos que levarei para
a vida. E tive algo raro nessa profissão: estabilidade por 40 anos. O que me deixou feliz foi ter construído uma carreira fora de lá. Não parava nunca. Isso me deu uma força profissional que andava junto com a Globo. Nunca deixei de fazer teatro por estar na TV.

– O que Claudia aprendeu com você como pai de 1ª viagem?

Jarbas – Quando ela estava para dar à luz, eu disse que precisaria ter paciência comigo, porque nunca fui pai. Ela respondeu: “Não se preocupe, a gente está junto. Nunca fui mãe do Luca e para cada filho
a gente é uma mãe diferente”. Isso me tranquilizou. Claudia é experiente, uma mãe sábia. Aprendo
com ela todos os dias.

– E como é o Jarbas pai?

Jarbas – Fico dizendo como o Luca está bonito, inteligente, entende tudo... Claudia fala que estou fora do tom (risos). A vontade é aplaudi-lo o dia todo. Mas a gente aprendeu a elogiar o esforço, a dedicação e a paciência dele para conseguir algo.

Claudia – Aprendi com meus outros filhos que você não pode colocar sua experiência à frente da experiência da criança. Dizer: ‘Não sobe aí que você vai cair’ é uma frase fatal. Em vez disso, podemos dizer: ‘Cuidado, você pode cair, mas a mamãe está aqui perto’. Dar a ideia de que aquilo é perigoso, mas não o impedir de fazer.

– Por que escolheram Bragança Paulista para ter uma casa?

Jarbas – É nosso refúgio. O paraíso que construímos. Em 2020, alugamos uma casa para uma temporada, mas ficamos cinco meses. Em princípio, queríamos um terreno pequeno para fazer uma horta.

Claudia – Mas o terreno era grande e decidimos fazer uma casa com horta. A casa ficou pronta em 2022 e nós viemos em 2023. Mas engravidei e não era uma casa projetada para criança, então adaptamos. A horta ficou para segundo plano, mas ainda vai sair (risos).

– Como surgiu o plano de coordenar um curso de musicais para crianças da periferia de SP?

Jarbas – Vim da roça. Quando você cresce na periferia, dentro de um nicho, acha que não pode ir além desse limite. E é difícil quebrar essa crença limitante. Mais do que ensinar, dar um ofício para a pessoa, nesse curso, dou um horizonte para elas. É uma missão.

Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos/ Fotos: Renam Christofoletti/ Stylist: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira
Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos/ Fotos: Renam Christofoletti/ Stylist: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira
Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos/ Fotos: Renam Christofoletti/ Stylist: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira
Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos/ Fotos: Renam Christofoletti/ Stylist: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira
Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos/ Fotos: Renam Christofoletti/ Stylist: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira
Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos/ Fotos: Renam Christofoletti/ Stylist: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira
Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos/ Fotos: Renam Christofoletti/ Stylist: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira
Claudia e Jarbas narram rotina dentro e fora dos palcos/ Fotos: Renam Christofoletti/ Stylist: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira