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Revista / Entrevista

Liberdade sem tabus de Christiana Guinle

Christiana Guinle se declara como gênero fluido e não tem medo de julgamentos

Por Fernanda Chaves Publicado em 20/03/2023, às 09h52

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Christiana Guinle - FOTOS: MÁRCIO FARIAS; ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: BRUNO PEREIRA; BELEZA: IGOR LEITE; STYLING: MARLON PORTUGAL
Christiana Guinle - FOTOS: MÁRCIO FARIAS; ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: BRUNO PEREIRA; BELEZA: IGOR LEITE; STYLING: MARLON PORTUGAL

Com mais de 40 anos de carreira, a atriz Christiana Guinle (57) deu uma breve pausa nos personagens da TV, cinema e teatro, para abrir a intimidade: ela se declara como genderfluid, também chamado de gênero fluido — quando a pessoa não se identifica com um único papel de gênero e transita entre eles. “Para mim, gênero não é algo que parece ou deva ser fixo. E nem acho que um dia será, pois sempre pode haver alguma fluidez. Gosto muito disso porque, na minha cabeça, não preciso me rotular como isso ou aquilo. Sou o que eu quiser ser, quem manda no meu corpo sou eu!”, afirma ela, em ensaio exclusivo para CARAS, no Rio. 

Livre, a artista reflete no estilo seu estado de espírito. “Não visto roupa masculina ou feminina, não tem nada a ver isso. Me visto como eu quiser. Um dia posso ser homem, no outro dia posso ser mulher. Posso até ser nenhum dos dois”, diz a carioca, que não se limita: vai do tênis ao salto alto, do vestido à calça jeans. “Não quero esse estereótipo de gravatinha, isso não existe.”

Ao definir o genderfluid, ela frisa que o termo pode ou não ter relação com a orientação sexual. “Confundem com bissexualidade e não tem nada a ver com sexualidade. Por exemplo, posso transar com homem maravilhosamente bem. Só não terei ligação amorosa, de conectar. É mais fácil ter isso com a mulher do que com um homem, mas é só isso”, explica. A atriz se identifica dessa forma desde os 15 anos de idade, mas foi tomar conhecimento do termo há pouco tempo. “Eu nem sabia quem eu era na realidade. Pensava que eu era uma pessoa gay. Esse termo genderfluid ninguém usava. Eu era muito jovem, não entendia direito. Naquela época não existia essa coisa de cisgênero, não binário, agênero, transgênero, andrógino... Eu me considerava apenas lésbica. Não sabia o que era ser fluida”, recorda ela, que sofreu na juventude por não ter liberdade para ser quem é. “Como lésbica, sofri com algumas atitudes, em especial da minha mãe, que não conseguia suportar a ideia de ter uma filha sapatão. Na sociedade, desconfiavam da minha sexualidade, mas eu não me assumia por medo de ser julgada e até perder meu emprego como atriz”, lembra ela, que, apesar de ainda ver preconceito na área, acredita que, aos poucos, o cenário tem se transformado.

Christiana Guinle

Com passagens pela Band, SBT, e Globo, sendo sua última novela na global Boogie Oogie, em 2014, a carioca, que atua desde os 13 anos, sabe que suas declarações podem afetar a carreira. “Sempre fui atriz, tenho mais de 40 anos de carreira, já fiz todos os papéis que você possa imaginar. Então, assim,  sei que pode vir pedrada por aí, mas isso depende do preconceito das pessoas, não meu”, afirma. “Estou preparada para o que vier pela frente, seja uma coisa muito boa ou não. Continuo atriz e nada me impede de fazer um papel, isso vai depender mais do preconceito que os diretores e/ou produtores possam vir a ter, do que meu talento e capacidade de interpretar em si”, observa ela, segura de suas ações.

Disposta a ajudar e inspirar pessoas que lidam com a mesma situação, Christiana está trabalhando no monólogo teatral Gênero Livre. O projeto é baseado em sua história de vida e foi escrito por ela em parceria com o autor e ator Pedro Henrique Lopes. “É um trabalho social que eu estou fazendo para trazer um pouco de paz para as pessoas. Quero que elas se sintam confortáveis para lutar pelos seus direitos, sem ter medo do que os outros podem fazer. As pessoas precisam ser o que elas são. Somos todos indivíduos e únicos. Eu sou o que eu quiser ser”, afirma.

Para a artista, as fronteiras entre feminino e masculino praticamente não existem. E se a causa precisa dessa representação, que bom que ela pode contribuir com isso e fazer um alerta sobre a importância de debater o tema na sociedade. “Essa discussão de gênero é de total importância. Talvez, muita gente ainda não saiba, mas existem pessoas que não têm seu gênero definido no nascimento. São pessoas no mundo todo e, de repente, até aí do seu lado, ou mesmo dentro de você, que, independentemente da sexualidade, não se identificam com o corpo que lhe foi ofertado pela natureza e sofrem. É um assunto que parece bastante complexo, mas que no futuro, espero que muito em breve, será mais fácil de compreender”, torce. 

Christiana Guinle

Christiana Guinle

Christiana Guinle

Christiana Guinle

FOTOS: MÁRCIO FARIAS; ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: BRUNO PEREIRA; BELEZA: IGOR LEITE; STYLING: MARLON PORTUGAL