Em entrevista à Revista CARAS, Lavínia Vlasak reflete sobre maternidade e faz balanço dos mais de 30 anos de carreira
A ansiedade deu lugar à calmaria; as inseguranças viraram certezas e o olhar para a vida ficou mais leve e apurado. O tempo, sem dúvida, tem sido responsável por inúmeras transformações na vida de Lavinia Vlasak (47). Algumas coisas, porém, seguem imutáveis: sua jovialidade, beleza e disponibilidade diante do novo. “Tento lidar da maneira mais tranquila possível com a passagem do tempo, afinal de contas, ele é um senhor soberano e alcança a todos. Aqueles que ele não alcança é porque já não estão mais aqui. E eu adoro estar aqui!”, diz a atriz, em conversa com CARAS, no Lifestyle Laghetto Collection, no Rio. Com mais de 30 anos de carreira, Lavinia fez pausa no ofício para se dedicar a uma causa nobre: a maternidade. E não se arrepende! Hoje, no entanto, com os filhos mais independentes — ela é mãe de Felipe (15) e Estela (12), da feliz união com Celso Colombo Neto —, as portas estão abertas. “Como mãe sou um porto seguro, mas eles já estão indo para o mundo! Estou nutrida de boas lembranças e meus planos, agora, envolvem ter mais autonomia sobre meus projetos. Estou escrevendo bastante também e daqui a pouco estaremos com novidades por aí!”, adianta a estrela.
– Que balanço faz desses mais de 30 anos de carreira?
– Eu mudei e os tempos mudaram! A televisão não é mais como era em 1996, o teatro e o público já não são mais os mesmos. E a gente, como ator, também muda, ganha novas cores para trazer para o trabalho, novas emoções... As coisas realmente mudaram bastante, dentro de mim e fora de mim. A nossa voz era toda ouvida por meio das emissoras. Hoje, a gente consegue se fazer ouvir por meio das mídias sociais. É como se tivéssemos mais domínio sobre o que é dito e sobre o que é escutado.
– E como tem sido essa sua jornada nas redes sociais?
– Demorei para entrar nas mídias sociais, tinha uma certa preguiça, mas agora confesso que estou curtindo essa interação, poder comunicar minhas curiosidades, frases, pensamentos e interesses. É a sua tribo que te segue e é interessante perceber que a gente não está sozinha nos nossos pensamentos.
– A arte ainda a desafia?
– Sim! Em algumas cidades, principalmente as cidades mais praianas, acredito que não há tanto interesse em determinadas formas de arte, até porque quando faz um sol lindo, as pessoas pensam em ir para praia, é natural. Nós mesmos fazemos isso no nosso dia de folga. Fora isso, nós vivemos em um País onde as pessoas têm que escolher entre pagar um ingresso e pagar 1 kg de arroz e de feijão. E, obviamente, a pessoa escolhe se alimentar. Seria lindo se as pessoas pudessem se alimentar com comida e com cultura. Mas, infelizmente, no Brasil ainda não é possível, mas tenho esperanças. Sou brasileira, não desisto nunca!
– Já teve crises de idade?
– Tive uma crise ridícula aos 25! (risos). Hoje, à beira dos 50, me sinto excelente. Talvez até melhor do que aos 25. As coisas já não me aborrecem mais. Se eu soubesse disso naquele época...
– Dizem, os 40 são os novos 30, já os 50 são os novos 40...
– Sim, ouvimos muito isso! E estou vendo cada vez mais mulheres incríveis, aos 60, que me fazem pensar que talvez os 60 sejam os novos 30. Essa fronteira está sendo cada vez mais empurrada para frente.
– Você é atriz, trabalha com a imagem. Já se sentiu cobrada?
– É natural que haja essa cobrança de imagem, principalmente quando você tem determinados papéis a serem desempenhados. Existe essa cobrança, sim, mas acho que a maior cobrança é a nossa. O ator, a modelo, o influencer, a pessoa que trabalha com isso tem que tomar muito cuidado para não ficar refém de uma imagem anterior. Tento trabalhar muito isso na minha cabeça, trabalho com imagem desde os 15 anos de idade, então é natural que eu ainda tenha a melhor referência de beleza, de imagem, como uma referência mais jovem, mas essa não é a minha realidade atual, eu não tenho mais a pele, o rosto e o corpo de uma menina de 15. Tenho o rosto, o corpo e a pele de uma mulher de 47 anos, que teve dois filhos. Ainda não tive essa cobrança pública, mas tenho essa cobrança em mim e isso é algo que eu trabalho!
– Você trocaria a Lavinia de hoje pela dos 20 anos de idade?
– Adoro a Lavinia de 20 anos, mas ela sofria muito. Hoje, tenho uma percepção do que genuinamente importa, não só pela passagem do tempo, mas pela própria maternidade. A gente aprende, e de certa forma na marra, pelo que vale a pena ou não chorar, simples assim.
– Você vê a maternidade como seu melhor papel?
– Não sei se usaria a palavra melhor, mas o mais desafiador, difícil e emocionante. Criar um ser humano e prepará-lo o é uma tarefa hercúlea, que exige sensibilidade, paciência e amor. Isso não falta, mas é natural que, às vezes, falte um pouco de paciência em repetir pela milésima vez ‘vai escovar os dentes’, por exemplo. Toda mãe sabe disso. Isso é até tolo em comparação ao que a gente tem que repetir à medida que eles crescem, à medida que os interesses deles aumentam em relação ao mundo.
– E qual a maior lição que aprendeu com a maternidade?
– Genuinamente, o outro é o outro. Ele nunca vai pensar e sentir da mesma forma que você. Isso te traz compaixão e complacência em relação a outras pessoas. Você aprende a ter uma tolerância muito maior. A compaixão e complacência ficam mais fáceis quando são pessoas que você ama, mas se conseguir usar essa lição adquirida com a maternidade para saber tratar os outros é lindo!
BELEZA: GUTO MORAES; STYLIST: ELIANE SAMPAIO E RAFAELLA FREITAS; AGRADECIMENTOS: LIFESTYLE LAGHETTO COLLECTION E MÃO NA TABBUA.