Em entrevista à Revista CARAS, o ator José Loreto abre o coração ao falar sobre paternidade, maturidade e trajetória na arte
Ator, empresário, mas, antes de tudo, pai da Bella (6). O ator José Loreto celebra a chegada dos 40 anos ao lado de seu maior presente: a filha. Em papo exclusivo com a Revista CARAS no hotel Fairmont, no Rio de Janeiro, o intérprete do Marcelo, da novela global No Rancho Fundo, reflete sobre maturidade, carreira, futuro e paternidade: “'Ser pai da Bella mudou tudo".
– Chegou aos 40 como imaginava ou tem algo diferente?
– Não é do jeito que imaginei, eu me imaginava casado, mas é surpreendentemente linda a forma que cheguei aos 40. Eu não imaginava estar tão bem profissionalmente, ser um pai tão maduro e várias coisas, minhas conexões com a minha família, aos 40, parece que tudo está mais objetivo e potente. Estou vindo de três personagens seguidos, quatro, porque tenho uma série para lançar no Disney+, e estou deixando de fazer coisas legais também, porque não dá para abraçar o mundo.
– A maturidade ensinou isso?
– Foi. Antigamente a gente queria fazer tudo e hoje vi que não preciso, que às vezes menos é mais.
Quando acabar No Rancho Fundo, vou dar um tempo, quero tirar férias, viajar com minha filha, mas
também penso em fazer um projeto de teatro, uma série minha e outros convites que estão surgindo. Não imaginava que ia dar essa consolidada. Hoje tenho uma tranquilidade de poder parar de
trabalhar um tempo. Antigamente não, já começava um projeto pensando no próximo, porque os boletos não param e hoje sei que consigo empreender, tenho uma rede de restaurantes, tenho interesse em investir na moda, fora outras vontades.
– Gosta mais do Zé dos 40 do que o Zé dos 20?
– Com certeza, sou um Zé muito mais tranquilo. Aos 20, eu não conhecia a terapia; aos 40, fui forçado a conhecer (risos). Tenho uma molecagem que vou levar para o resto da vida, mas tenho uma maturidade também, que não me deixa fazer besteiras, cair nos mesmos erros ou perder tempo.
– Antes a sua vida amorosa era assunto, agora falam do seu trabalho. Gosta dessa mudança?
– É bom, acho que estou mais pacato na vida amorosa (risos) ou
param de... porque muita coisa é inventada, né? As pessoas voltaram a falar de mim como ator e
isso é muito interessante. Quando eu estudava no teatro, meu sonho era esse, eu não queria nem ser conhecido, queria ser mais off.
– Isso te incomodava então...
– Quando falam da vida amorosa, parece que estou ali para ser uma celebridade e me promover
em cima disso, e não é. Sou ator, esse é meu ofício, gosto de fazer arte, de emocionar, de fazer as pessoas rirem com as histórias, refletirem, então isso me incomodava, de: “Ah, beijou não sei quem”,
muito menos não sendo verdade, dói. Estudei tanto, tive que batalhar, meus pais queriam que eu fizesse Economia, larguei, fiz Teatro, fiz peça infantil em Praça de Alimentação de shopping para ganhar R$ 20, fazia com o maior amor. Agora que tenho essa visibilidade o povo vai ficar me botando
em outro lugar? E a internet é aquela terra de ninguém, te criticam, xingam, mas recebo muito
mais amor do que ódio. E quanto mais luz você tem... Você só vê mosca em lâmpada acesa.
– Ser pai é o seu maior papel?
– Com certeza, vai na frente de tudo. Desculpe minha mãe e meu
pai, até antes de filho, ser pai vem na frente. Ser pai da Bella mudou tudo, veio na hora certa e vira uma
chave mesmo. Até aquela coisa de espírito jovem, de pular de asa delta, tudo isso me segurei. Agora
penso que não posso dar chance para o azar, que não posso faltar, calculo todo o meu tempo para estar o máximo com ela. É tanta preocupação, mas é tão gratificante, vale a pena acordar com
um beijinho, um cheirinho. Ela vai para a casa da mãe e eu sinto uma saudade tão gostosa, é minha parceira!
– E por ser pai de menina acha que te transformou ainda mais?
– É demais essa experiência. Eu, homem, nascido numa sociedade tradicional, machista e conservadora, e sou pai de uma menina, sou artista, com a cabeça aberta. Ela é um ganho, é um aprendizado diário. Me sinto uma criança, ela me apresenta toda semana uma coisa nova. Ela é de outra geração, não vê muita diferença se é primo ou prima, no azul e no rosa, ela tem um olhar cru que não vê as
diferenças que a gente já foi acostumado a ver desde pequeno e que estamos quebrando. Ela é uma aula pra mim e eu tenho que ser professor dela ao mesmo tempo.
– Vocês têm uma relação bonita. Durante as fotos toda hora você a elogiava, a beijava, abraçava...
– Ela merece, né? (risos) Ela é muito incrível! A minha maior preocupação, agora nessa fase com a Bella, é que ela fala que eu sou o melhor amigo dela e ela é minha melhor amiga. Eu quero que seja assim a vida inteira.
– Já está preocupado com a adolescência (risos)?
– É lógico que ela vai ter outros amigos. Mas, às vezes, eu elogio e ela já fica: “Para, estou com vergonha”. Quando deixo na escola, fico olhando até ela sair do meu campo de visão, mando coração,
beijo e ela já está começando a ficar com vergonha. Mas não tem problema, quando ela ficar com
mais vergonha, vou chegar com um carro de som (risos). Eu vim de uma casa onde meus pais... Eu os
amo, eles me amam, são superzelosos, mas a gente não falava muito ‘eu te amo’, era mais na atitude e
eu falo todo dia pra minha filha. A gente aprende também com as coisas que a gente não recebeu,
então se me incomoda não ter recebido tantos ‘eu te amo’ e eu mesmo não falar tanto, eu aplico nela e vejo como ela sente confiança, como se sente protegida, como ela sorri.
– Pensa em ter mais filhos?
– Tenho pensado muito no presente, só de trabalho que tento ver um ano na frente, mas tenho vontade de casar de novo, ter uma relação e, de repente, vai depender muito dos combinados. A Bella já disse que não quer ter irmão, ela tem ciúme, mas ela está com 6 anos ainda. Se eu casar e a pessoa quiser ter e eu estiver na disposição ainda, vou ter. Hoje não penso, porque não estou com ninguém, só tenho minha filha e está superlegal também. E sou geminiano, imagina começar tudo de novo? Mas não descarto, não.
– Como se imagina no futuro?
– A Bella quer uma fazenda para andar a cavalo. Em Pantanal, ela se apaixonou e começou a fazer hipismo. Eu quero ter, meu lado rural pede por isso e também para ela crescer, se desenvolver com
árvores e tudo mais. No futuro, vejo a gente com uma fazenda, morando no Rio, trabalhando. Quero diminuir o ritmo, a intensidade, não. Quero ter mais espaços entre uma coisa e outra, quero ter mais tempo com a Bella, quero viajar. Não estou desenfreado por trabalho, agora quero escolher os bons personagens e celebrar essa fase. Vou fazer 20 anos de carreira, quero mais 20, mais 40!