A carioca Flávia Reis, que interpreta a Marineide na novela 'Travessia', revela que procura levar tudo com bom humor e defende o veganismo
De volta à teledramaturgia com a global das 9, Travessia, a atriz e comediante Flávia Reis (47) vive na ficção uma filosofia parecida com a que ela mesma segue: a de encarar a vida com otimismo. Mergulhada em ótima fase profissional, com trabalhos também na Netflix, no Prime Video e no teatro, a artista se divide entre o trabalho, a rotina com a filha, Cecília (6), e ainda encontra tempo para defender o veganismo e o consumo consciente. “A vida tem altos e baixos, não é moleza, mas a gente precisa fazer ser divertido, leve...”, ensina ela, em entrevista exclusiva para CARAS, no Rio.
– Dez anos longe das novelas. Por que tanto tempo?
– Eu investi na comédia durante um período, porque as pessoas me viam como comediante e a atriz ficou um pouco de fora, sabe? Foi muito bom ter enveredado por esse lado, mas sou, antes de tudo, atriz. É muito interessante ver esse desenho de carreira, como fui para o lugar da comédia e, agora, tenho a oportunidade de trabalhar em novela, da Gloria Perez, que tem outra proposta de dramaturgia. Estou feliz com a possibilidade.
– A Marineide, sua personagem em Travessia, é muito positiva. Você também prefere ver o copo meio cheio?
– Total! Eu sou muito Marineide nesse sentido, eu sempre vejo o lado positivo, eu sempre quero juntar meus amigos que estão meio deprê para ficar perto de mim, fazer um programa legal. E a Marineide tem essa característica de cuidar um pouco de quem está à sua volta, de sempre levantar o astral, que, apesar de tudo, vamos em frente. Mas sem ser idiota, Marineide não é deslumbrada, pensando só na coisa bacana da vida. Ela é pé no chão também, só que sempre positivo. E isso é muito a minha cara.
– É uma característica que você tem por conta da profissão?
– É, eu tenho uma tendência a olhar as coisas da vida com uma certa diversão. Sabe, me dá um limão, que eu faço uma limonada? É um pouco essa máxima. A gente que trabalha com humor é muito observador das pessoas, da vida, das situações. Trabalhei muito tempo também como palhaça em hospital, com as crianças. Então, realmente a minha filosofia de vida é um pouco essa, de que a vida tem altos e baixos, não é moleza, mas a gente pode fazer ser divertido, leve, gostoso. Eu preciso ver a vida com esses olhos do humor.
– E o humor cura, né?
– Para nosso corpo funcionar bem, o nosso lado mais saudável precisa estar conectado com a alegria. É esse sentimento que traz vida para a gente, leveza, força. É por isso que o humor tem essa função tão importante na nossa sociedade, porque eu acho que a gente sucumbe se não tiver humor. É preciso ter alegria para a gente estar vivo!
– Você, inclusive, faz vídeos bem-humorados sobre a maternidade. Mudou muito depois que se tornou mãe?
– A maternidade é muito cômica! Eu ainda tenho muita coisa escrita para fazer um projeto mais longo. E a maternidade é um lugar de divino na minha vida, porque mudou a minha alimentação, mudou a forma de me relacionar, as minhas escolhas... Eu gosto muito de ser mãe, então, alterei toda a minha rotina para viver a maternidade. ‘Largou tudo para viver para a filha?’ Não é meu caso, a minha vida seguiu, mas eu mudei muita coisa em função de mim, mãe. Não da minha filha, sabe? Esse é o lugar que eu gostaria de me ver como a mulher, como a mãe, como a atriz. Então, muita coisa mudou depois que a Cecília nasceu.
– Como o quê, por exemplo?
– De não ceder a certas pressões de trabalho, de não comer mais besteira, de querer estar bem para estar com ela e por mim mesma. Porque é cansativo, cuido da casa, da filha, do trabalho. Então, tem que ser legal e, para isso, você tem que estar com a cabeça boa, tem que abrir mão de muita coisa. Coisa que não serve mesmo, que você já falava ‘não quero isso’, mas fazia. E quando tive minha filha, falei ‘quero estar na minha casa, feliz’.
– Foi nessa fase que você aderiu ao veganismo?
– Foi. Eu fiquei grávida aos 40 anos e já estava querendo mexer na minha alimentação. Também porque a minha mãe teve câncer de mama e faleceu muito nova, então, eu tinha uma preocupação com a minha saúde. Eu fiz uma transformação na minha alimentação que é além da carne. Eu não como glúten, açúcar refinado, não bebo, não como animais e derivados. Foi durante a gestação, só que você vai tirando e depois faz parte da sua rotina. Sem contar toda a questão política que envolve comer carne, as inúmeras fazendas que precisam ser desmatadas para a criação do gado, os animais que são sacrificados, tem tanta coisa envolvida que juntou tudo e parei mesmo.
– Você também tenta incentivar seu público a aderir a essa filosofia de vida?
– Estou querendo começar uma campanha assim: Tem alguma terra? Planta! A horta urbana você faz em qualquer canteiro, em qualquer espaço pequeno. Para quem tem criança em casa, então, isso é maravilhoso. Saber o tempo das coisas, a importância de cuidar da alimentação. Porque a gente abre um pacote, coloca no prato e, depois, já não quer mais. Sem ter a noção do tempo que aquilo levou para ser semeado, crescer, virar uma planta, alguém colher, colocar em uma embalagem, levar ao
supermercado, às prateleiras. A gente precisa ter essa consciência de novo, a gente precisa entender que é possível viver de outra maneira.
– E você também desmistifica, porque tem gente que acha que vegano não come nada...
– Restringir a alimentação é comer só carne, peixe e frango. O veganismo é o contrário disso, tem uma quantidade gigantesca de coisa que você pode comer de vegetais, legumes, verduras, castanhas, frutas. E a minha mensagem não é no sentido: ‘seja vegano!’ Eu não sou radical. Mas eu gostaria muito que as pessoas tivessem o entendimento sobre a produção dos alimentos que a gente consome. Não é só pelos bichos, é uma questão muito profunda, que diz respeito à nossa saúde também, ao planeta. Eu acredito nisso, realmente é uma bandeira minha.
FOTOS: FREDERICO FABER/GLOBO/FÁBIO ROCHA/INSTAGRAM; STYLIST: PAULO ZELENKA; BELEZA: VIVI GONZO