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Etimologia

CARAS Publicado em 11/09/2013, às 18h33 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Cautela: do Latim cautela, cuidado para evitar um mal, derivado de cautum, precaução, em domínio conexo com cautor, precavido, provavelmente de uma raiz indo-europeia que designava o peitoral de couro e metal posto no cavalo quando encilhado para o combate. O verbo latino é cavere, cuidar-se, precaver-se. “Cave canem” (“Cuidado com o cão”) era aviso frequente nas vilas e casas romanas. Em Portugal e no Brasil, foi adaptado para “Cuidado com o cão” ou “Cuidado, cachorro bravo”. O sobrenome Couto tem o mesmo étimo, designando o homem prudente, precavido. Designa também documento bancário ou de casas de penhor representando garantia de depósito ou de empréstimo. A fração de um bilhete de loteria também é denominada cautela. Aparece nestes versos do poeta gaúcho Mário Quintana (1906-1994): “Cautela! Há dois sinais de
envelhecimento. O primeiro é desprezar os jovens. O outro é quando a gente começa a adulá-los”
.

Escarpim: do Germânico Skarpa, espécie de saco de pele, pelo Italiano scarpa, calçado, e deste pelo diminutivo scarpino, um tipo de sapato que não cobre todo o pé. Escarpim veio a designar no Português o sapato,
com ou sem salto, mas de solado fino, deixando descoberto o peito do pé, e também o pé de meia que se calçava debaixo das meias propriamente ditas. A variante carpim foi trazida por imigrantes portugueses já
designando também a meia, tornando-se assim sinônimo de peúga.

Feiticeiro: de feitiço, do Latim factitius, artificial, contrário ou alheio à natureza. O feiticeiro invoca seres superiores mediante hipotéticas forças ocultas ou mágicas que só ele tem, pois são entendidas como dons recebidos por méritos familiares, que passam de geração em geração ou por transferências inusitadas. Em entrevista com pessoa que lia mãos, benzia, previa o futuro e melhorava saúde dos que a procuravam, ela revelou que a cigana acreditava ter recebido este dom de uma índia que o detinha e que já à beira da morte decidiu transferir essa faculdade à vizinha de leito, em uma enfermaria. Curiosamente, feitiço foi para o Francês fétiche, designando algo diverso: parte do corpo ou objeto inanimado possuidores de qualidades mágicas ou eróticas, como é o caso dos pés femininos e das lingeries.

Médico: do Latim medicus, étimo ligado à raiz indo-europeia med, presente em meditar e meditação, vinculando originalmente o exercício da Medicina à invocação de forças superiores para que a deusa Salus, Saúde, devolvesse a saúde ao infirmus, enfermo, pouco firme. A ideia está presente também no poder sobrenatural atribuído a benzedores, curandeiros, feiticeiros e charlatães, que precederam o ofício dos médicos. 

Peúga: da mudança de pronúncia do Latim peduca, tendo havido troca do “c” pelo “g” na última sílaba e eliminação do “d” na segunda. É lusitanismo pouco usado no Brasil, onde predomina o sinônimo meia, já redução de meia-calça, esta vinda de alteração havida no calçado romano. O Latim calceus, calçado, designou originalmente artefato, em geral de couro, para cobrir os pés. Quando os soldados romanos, que não usavam calças nem meias, mas uma espécie de minissaia em tiras de couro ou pano, chegaram à Germânia, aprenderam com os habitantes daquela região de clima frio que deviam proteger as pernas. Chamaram calcea a nova vestimenta, extensão de calceus, origem do Português calça e do Italiano calcio, pontapé e, por isso, futebol, para evitar o Inglês football, que o Português adaptou. Reduzida à metade, cobrindo só parte da perna, não mais até à cintura, mudou de nome para meia-calça, e daí a meia apenas.

Tripudiar: do Latim tripudiare, do mesmo étimo de pedes, pé, que deu peúga, meia. Tripudiar era dançar ou saltar batendo o chão com os pés. O tripúdio foi de início uma dança religiosa, alegre, para celebrar vitórias. Estava ligado também ao ato de sapatear sobre os grãos que os frangos deixavam cair ao comer, para descobrir o futuro. Mudou de significado quando a dança se tornou ato de deboche e desprezo pelo inimigo vencido. Vencer e celebrar são atos que até derrotados aceitam, são próprios de combates e jogos, mas tripudiar sobre os vencidos é ação reprovada por civilizados.