Assumindo o terceiro mandato, Luiz Inácio Lula da Silva recebe do povo a faixa-símbolo da democracia
Fazendo jus ao princípio fundamental da democracia de que todo poder emana do povo, a cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (77) entrou para a história ao ter a simbólica entrega da faixa presidencial feita pelas mãos de representantes do povo brasileiro. Eleito o 39º mandatário do País, Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, acompanhado do estudante Francisco Filho (10), do cacique Raoni (90), do metalúrgico Weslley Rocha (36), do professor Murilo Jesus (28), da cozinheira Jucimara Santos, do artesão Flávio Pereira (50), do influencer anticapacitista Ivan Baron (24), que tem paralisia cerebral causada por uma meningite, e da catadora Aline Sousa (33), grupo responsável pelo gesto histórico, já que o ex-presidente Jair Bolsonaro (67) se recusou a seguir o rito democrático de passar a faixa. O momento catártico ainda teve presença da primeiradama, Rosângela da Silva (56), a Janja, e da cachorrinha Resistência, vira-lata adotada pelo casal após ela acompanhar militantes que fizeram vigília na época em que o político ficou preso.
“Somos um povo de muitas cores e todas devem ter os mesmos direitos e oportunidades”, destacou Lula, sem esconder as lágrimas e a emoção ao voltar ao posto mais alto do Executivo após passar 580 dias preso, garantir sua liberdade e vencer Bolsonaro nas urnas. “É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas mentiras. Chega de ódio, fake news, armas e bombas. Nosso povo quer paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz”, emendou Lula, que chega ao seu terceiro mandato — ele governou o País de 2003 a 2011 — com a voz mais rouca, os cabelos brancos, mas com o mesmo vigor para liderar a nação.
Ao longo da cerimônia, o protagonismo da primeira-dama foi evidente. Coordenadora da posse, Janja foi a responsável pela ideia de reunir representantes do povo para entregar a faixa e manteve os detalhes guardados a sete chaves. “Hoje é um dos dias mais felizes da nossa vida. Todo o povo brasileiro inicia hoje um novo capítulo de direitos, de cidadania e de respeito. Começamos agora, juntas e juntos, a escrever um novo capítulo na nossa democracia. O Brasil do Futuro é agora!”, destacou ela. Cuidadosa, Janja dispensou as cores branco e vermelho — ao que tudo indica, para mostrar neutralidade política — e preferiu um figurino de calça e terninho em tom palha com bordados feitos com capim dourado e junco, em clara referência à natureza. Assinado pela estilista Helô Rocha (42) em parceria com bordadeiras do Timbaúba dos Batistas, no Rio Grande do Norte, o modelito ainda traz na calça o simbolismo de uma primeira-dama ativa e pronta para trabalhar.
Acompanhada por uma multidão de pessoas que não perdeu o entusiasmo mesmo com as altas temperaturas da capital federal, a cerimônia começou com a sessão solene no Congresso Nacional, na qual Lula e seu vice, Geraldo Alckmin (70), foram empossados diante de autoridades, chefes de Estado e personalidades. Na ocasião, houve um minuto de silêncio em memória do rei Pelé e do papa emérito Bento XVI, que morreram na semana anterior. “É hora de união por um pacto contra a desigualdade inaceitável que está na raiz dos males que enfrentamos no Brasil”, frisou Alckmin, acompanhado de sua Lu Alckmin (72), elegante a bordo de vestido branco com capa. “Sob os ventos da redemocratização, dizíamos ‘ditadura nunca mais’. Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer democracia para sempre”, reforçou Lula, em seu discurso.
De lá, Lula, Janja, Alckmin e Lu seguiram a tradição e desfilaram pela Esplanada dos Ministérios no
Rolls-Royce presidencial de modelo Silver Wraith, de 1952, acenando ao público rumo à rampa do Planalto. “O Brasil é grande, mas a real grandeza de um País reside na felicidade de seu povo e ninguém é feliz de fato em meio a tanta desigualdade”, reforçou Lula. Para completar a programação protocolar, na sequência, o presidente recebeu chefes de Estado em um coquetel no Itamaraty. Enquanto a população tomava as ruas e fazia a festa em ode à democracia, um poderoso time de personalidades marcou presença em cada uma das etapas da posse.
Da classe artística, nomes como Leandra Leal (40), Fafá de Belém (66), Gil do Vigor (31), Ana Hikari (28) e Fátima Bernardes (60) com o amado, o deputado federal Túlio Gadêlha (35), marcaram presença. “Dia de reencontros com colegas, amigos, com a democracia. Na torcida por um País mais justo, menos desigual, mais sustentável, com respeito e afeto entre todos nós. O caminho é longo e precisamos estar sempre atentos. Que assim seja”, desejou Fátima. “A felicidade tomou posse, Brasil!”, vibrou Ana, que apostou em look vermelho. Já na lista de autoridades, destaque para os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes (54), Rosa Weber (74) e Ricardo Lewandowski (74), além dos ex presidentes José Sarney (92) e Dilma Rousseff (75). E para completar, delegações internacionais, chefes de Estado e representantes de nações como o rei Felipe VI (54), da Espanha, o presidente do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou (49), o presidente da Argentina, Alberto Fernández (63), o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier (66), além do ex-presidente uruguaio José Mujica (87) felicitaram o novo mandatário brasileiro. “A América Latina se uniu e lutou. O sonho se tornou realidade. Desejo o melhor para esta gestão, o futuro será de profunda fraternidade. Com uma perspectiva mais justa, livre e equitativa, alcançaremos o desenvolvimento dos nossos povos”, afirmou Fernandez.
E quando a festa parecia ter acabado, Lula, Janja, Alckmin e Lu ainda encontraram forças para celebrar no Festival do Futuro, atração paralela à cerimônia de posse que agitou a público ao longo de todo o dia com shows de estrelas como Pabllo Vittar (29), Gaby Amarantos (44), Maria Rita (45) e Alceu Valença (45). “Eu tenho muito orgulho de ser uma das primeiras artistas a levantar a bandeira do Lula. Lula pelo povo, pelos porteiros, pelos professores, pelas pessoas que não têm voz. Pelos LGBTQI que são mortos todos os dias sem proteção pública. Hoje, eu, Pabllo Vittar, tenho orgulho de fazer parte da posse”, discursou a cantora.
Por lá, Janja, que também foi responsável pela concepção do festival, surgiu com um longo azul também assinado por Helô Rocha em colab com a grife Neriage. E mais uma vez os simbolismos se fizeram presentes. Com produção 100% nacional, a peça tem como essência a sustentabilidade, temática que pontuou parte dos discursos do novo presidente. Não à toa, já durante a sessão solene, Lula revogou alguns decretos da área ambiental que foram instituídos no governo Bolsonaro. “O mundo espera que o Brasil seja um líder nas políticas climáticas e na preservação ambiental”, disse o político, que encerrou o dia dando um beijo, digno de cinema, em Janja, e provando que o amor está no ar. “O presidente e a primeira-dama não podem se beijar muito em público!”, brincou ele. “Esse meu boy é demais!”, retribuiu Janja.
FOTOS: LINCOLN IFF E EDUARDO IFF; GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO INSTAGRAM E RICARDO STUCKERT