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Depois de uma separação, a saudade às vezes leva à idealização do outro

Maria Vilela Nakasu Publicado em 25/03/2014, às 20h25 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Duas pessoas têm amor uma pela outra, vivem uma situação de carinho e de amizade. De repente se afastam. De que forma, do ponto de vista psíquico, as emoções são processadas nessa separação? Não me refiro apenas às separações matrimoniais, mas às separações de namoros, de “ficadas”, de relações nas quais a troca afetiva passa a não existir mais.

Toda separação parece ser marcada por dor, sofrimento, solidão e saudade. Mesmo que os últimos meses, ou anos, ou dias, possam ter sido períodos de tempestades, de brigas ou discussões, a separação dói, sobretudo, se o tempo junto ao outro for emocionalmente significativo.

O tempo é relativo quando se fala de amor. A pessoa pode viver uma grande paixão durante um mês, e sofrer com o final dessa paixão por um ano ou por uma vida. De outro modo, o casal pode morar junto por décadas com uma qualidade ruim de união e sofrer a perda por poucos meses.

Quando se separa, a saudade é, na maioria das vezes, vivida com intensidade. A pessoa pode se lembrar dos momentos ruins que viveu ao lado do outro, dos seus defeitos e diferenças, das desavenças e das brigas; porém, é mais comum a lembrança dos bons momentos, de trocas de afeto, de risadas, de construção de sonhos, como quando se olha um álbum de fotos e se enxerga naquelas imagens a força do amor e a alegria que se viveu junto ao companheiro ou companheira.

A pessoa começa a recordar o amor que sentia pelo outro, a segurança que habitava em seu coração. Os que tiveram filhos se lembram da unidade familiar que se formava quando estava “todo mundo junto”. Sente-se muito a ausência do outro, até que a pessoa se pergunta: “Afinal, por que mesmo eu me separei?” Tenta puxar pela memória algo que a conduza a uma resposta e não se lembra. Idealiza o outro e, como em um passe de mágica, todas as experiências difíceis e sofridas desaparecem da lembrança; sobra apenas a memória dos bons momentos. Instala-se uma sensação de que, junto ao outro, se estava “completa”, “preenchida”, e não “vazia” como se está agora. Daí a conclusão: “É junto dessa pessoa que posso encontrar a felicidade”.

Este é o mecanismo da idealização. Projeta-se no outro um estado de perfeição absoluta. A idealização é traiçoeira e pode resultar em duras frustrações. Como lidar com esse processo?

Muitas vezes a vida se encarrega de mostrar, por meio de algum acontecimento, que essa pessoa não é tão perfeita assim. Mas a idealização pode ter longa duração. Nutre-se o sentimento de que aquele homem ou aquela mulher é a pessoa ideal para se viver a eternidade, embora a vida tenha se encarregado de separar. Mantém-se um investimento libidinal nela e uma quota da energia amorosa fica ali, parada, fixada na imagem do outro, bloqueando a emergência de novos processos, de novos relacionamentos.

Preste atenção, portanto, quando se pegar colorindo um quadro que na verdade se tornou branco e preto há muito tempo. Cuidado para não fazer de sua vida amorosa um constante processo de recomeço. Brigas, despedidas, separações trazem lições. Esquecer e apagar da mente as razões que conduziram a uma separação é perpetuar um estado de infelicidade no amor.