No ar na novela 'Cara e Coragem', da Globo, Bruno Fagundes narra função social da atuação e usa a moda para quebrar rótulos
No repertório artístico de Bruno Fagundes (33) não há espaço para a palavra limite. Apaixonado pela arte em todas as formas de expressão, o ator — filho de Antonio Fagundes (73) e Mara Carvalho (60) — já soma mais de 15 anos de carreira e procura fazer do ofício uma ferramenta de função social. “É indissociável uma coisa da outra. Meu trabalho carrega uma função social, que é se comunicar. Deve se valer disso para tocar em assuntos que se tem dificuldade em abordar. Essa é uma das razões pelas quais escolhi a arte”, explica ele, durante ensaio exclusivo para CARAS, no Rio.
Além do trabalho, o paulistano usa a moda e a maquiagem para romper com estereótipos. E não se cala diante das críticas. “O conservadorismo está voltando de forma muito agressiva. Sempre militei a favor da liberdade individual e da liberdade de expressão, da autodescoberta, da forma como você se expõe... a moda é uma maneira de desenvolver a identidade. Tem opinião que ignoro, por que isso é muito pequeno, mas é importante rebater, para quebrar a estrutura baseada no machismo e enraizada no preconceito, na homofobia, no escárnio. Isso é colonial, antigo, é retrógrado. As palavras autoritário e conservadorismo atrasam a discussão real e se transformam em opinião. Às vezes, é importante rebater e esbravejar a verdade”, dispara.
A desenvoltura e convicção com as quais se posiciona diante da vida também entram em cena quando o assunto é a carreira. Vivendo dupla jornada, afinal, está no ar com a global das 7, Cara e Coragem, e na série Só Se For por Amor, da Netflix, Bruno celebra os resultados de seus esforços, mas não deixa de manter os pés no chão. “Estar em duas plataformas tão grandes é algo legal e novo para mim. Defino essa fase como mais uma e espero que venham outras depois dessa. A gente vai acumulando histórias, personagens, renovando os desafios e o aprendizado”, aponta ele, feliz com seu desempenho na trama global. “A recepção tem sido muito calorosa. É um personagem com uma função dramaturga, que é causar raiva. As pessoas ficam irritadas com o personagem e isso é esperado, desde a primeira aparição ele já mostrou dinâmicas bem tortas de relação. Eu costumo dizer que, se estou deixando alguém com raiva por meio do meu personagem é porque eu estou fazendo meu personagem direito”, explica ele, que no folhetim dá vida ao explosivo Renan.
Já na série, Bruno prova sua pluralidade artística ao dar vida ao homossexual Rafael, um produtor musical que é o oposto de Renan. “Eles são muito diferentes. Os dois são desafiadores, a gente pega um texto, palavras no papel, e tem que transformar isso em vida. Além disso, a questão musical na série é algo com o qual eu nunca tinha me envolvido diretamente. A grosso modo, o Renan acaba sendo mais desafiador, porque é muito diferente da minha personalidade, tem outra temperatura, é um cara agressivo, que resolve as coisas no grito, na briga, é mais bélico, possessivo, ele mente, manipula. E eu preciso entender como o personagem pensa, tenho que fazer um exercício louco de entender a lógica dele, que é diferente da minha”, detalha.
Dono de currículo invejável — são mais de dez peças de teatro, além de atuações em séries, novelas e cinema —, Bruno não para. “Nunca relaxei, estou em um trabalho já pensando no próximo. Fazendo um em paralelo ao outro, gosto assim!”, diz ele, que vê o advento da internet e das redes sociais como um divisor de águas no meio artístico. “Isso deixa o mundo mais democrático e todos têm a oportunidade de ter voz e de criar seu conteúdo. Por outro lado, as barreiras que separavam essas vertentes já não existem mais e isso deixa tudo mais desafiador. Eu, no entanto, na essência, não mudei. Estou fazendo meu trabalho como sempre, estudando e me dedicando. Nunca usei a carta da celebridade, nunca foi minha busca. Apesar de querer desenvolver esse lado da internet, que todos nós estamos, sou primeiro ator, meu foco não mudou”, frisa.
Com o DNA artístico correndo em suas veias, Bruno nunca se abalou com as comparações entre ele e seus pais, ao contrário, transforma o privilégio de ser filho de dois talentos da dramaturgia em uma fonte de inspiração. “Minha personalidade foi muito moldada pelo que eu vi. Dois profissionais excelentes, respeitados no meio, e é isso que tento reproduzir. Como artista a gente tem que deixar algo a mais para quem nos acompanha e nisso sempre me inspirei neles”, fala ele. E engana-se quem pensa que entre pai e filho o assunto é sempre trabalho. “Nós trocamos experiências como amigos que dividem as mesmas dificuldades, mas não dependemos da opinião um do outro. Essa relação de sentar e trocar figurinhas e ensinamentos é meio romantizada. Temos uma relação normal de pai e filho. Muitas vezes estamos juntos e não falamos de trabalho, falamos de qualquer outra coisa!”, conta ele.
Arrancando suspiros por onde passa, Bruno avisa: “Eu estou solteiro!”. E para conquistar o coração do ator é fundamental ter humor, inteligência e curiosidade. “Uma pessoa que não ri de si mesma e das coisas, que não me faça rir... que não busque se aprofundar e se afinar politicamente e que não tenha interesse e curiosidades por assuntos diferentes dos seus... não me interessa!”, dispara ele, vaidoso assumido. “Gosto de me cuidar, de me sentir bem, treinar e me alimentar bem. E também tento me nutrir de coisas que me inspiram artisticamente e intelectualmente. Gosto de cuidar da minha pele, do meu cabelo e me vestir de acordo com minha personalidade”, diz ele, definindo seu estilo como urbano. “É um street style com conforto, peças oversized e uma pitada de rock’n’roll. O estilo reflete nossa personalidade e nosso olhar. Você é seu estilo e seu estilo é você. Eu me interesso por arte, teatro, arte moderna, então, meu olhar é moldado por isso”, define. E nas raras horas vagas? Quando está de folga, ele gosta de mergulhar nas artes! “Eu adoro programas culturais, exposições, cinema, vou muito ao teatro, viajar, cozinhar, ler, assistir a séries...”, elencou Bruno.
Fotos: Sergio Baia; Make: Vivi Gonzo; Moda: Paulo Zelenka