CARAS Brasil
Busca
Facebook CARAS BrasilTwitter CARAS BrasilInstagram CARAS BrasilYoutube CARAS BrasilTiktok CARAS BrasilSpotify CARAS Brasil
Revista / CAMPEÃ OLÍMPICA

Beatriz Souza supera adversidades e revela segredo de ouro em Paris: ‘Transformação’

Em entrevista à Revista CARAS, Beatriz Souza celebra medalha de ouro no judô e fala sobre planos de ter filhos

Mariana Silva
por Mariana Silva
[email protected]

Publicado em 27/09/2024, às 13h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Campeã olímpica reflete sobre sucesso no judô e fala sobre aumentar a família - FOTO: Samuel Chaves
Campeã olímpica reflete sobre sucesso no judô e fala sobre aumentar a família - FOTO: Samuel Chaves

Aos 26 anos, a judoca Beatriz Souza conquistou muito mais que seu espaço no tatame: ela também está no coração dos brasileiros. Primeira atleta do País a ganhar medalha de ouro durante as Olimpíadas de Paris, ela voltou da competição com status de estrela do esporte nacional. Sua essência e rotina, no entanto, seguem as mesmas. “Para mim, é a realização de um sonho. A superação de todos os obstáculos”, conta ela, que de quebra ainda levou o bronze na competição por equipes.

Ao lado do eleito, Daniel Souza (24), ex-atleta do basquete, Bia, como ficou carinhosamente conhecida pelo público, vive seus dias de glória e colhe os frutos de anos de esforço. “Se seus objetivos não forem maiores que seus obstáculos não vale a pena lutar por eles”, ensina ela.

Filha do judoca aposentado Poscedonio de Souza e de Solange Rodrigues, ela quer seguir evoluindo no esporte e orgulhando aqueles que a cercam.

– Como nasceu sua relação de amor com o judô?

– Eu era uma criança terrível. Já tinha feito todo tipo de atividade para gastar energia, mas eu não me identificava. Até que, um dia, meu pai me levou para assistir a um treino de judô e eu me apaixonei de imediato. Mal sabia eu que isso mudaria toda a minha vida.

– Há três anos, você ficou de fora das Olimpíadas em Tóquio. Desta vez, classificada para Paris, chegou pronta para o ouro?

– Eu sabia que voltaria ao Brasil com uma medalha, só não sabia qual. Acho que o ciclo de Tóquio foi o que mais me transformou. Quando eu não recebi a convocação, em 2021, fiquei muito triste. Cheguei ao fundo do poço e prometi para mim mesma que eu não sentiria aquilo de novo. Naquele mesmo ano, comecei a trabalhar para ter minha vaga em Paris.

– Foi um autodesafio?

– Sim. Em Tóquio, descobri o valor real de uma Olimpíada e o quanto eu teria que pagar para estar lá. Me custou caro, anos de treino, mas esse é o alto rendimento. Se os seus objetivos não forem maiores que seus obstáculos não vale a pena lutar por eles.

– E valeu a pena?

– Valeu, mas há muitas coisas na balança para que, hoje, eu possa dizer isso. Quando pensamos na preparação, isso vai muito além do tatame, porque nele a gente consegue evoluir a cada treino. Mas em questão de saúde, por exemplo, foi bem difícil. A gente lida com lesão, dor física todo dia... Mas, sim, cada passo é uma vitória.

– Em Paris, você foi a primeira brasileira a conquistar o ouro. O que isso representa?

– A realização de um grande sonho como judoca, o resultado da superação de todos os obstáculos. Enquanto pessoa, eu acho que o ouro me mostra a grandeza do meu poder e quão longe eu posso chegar. Hoje, eu tenho o mundo em minhas mãos.

– A medalha foi dedicada à sua avó, dona Brecholina, que faleceu em junho...

– Sim, ela era muito importante para mim. A gente era muito apegada. Tenho certeza de que ela está orgulhosa de mim lá em cima.

– Você começou a praticar judô aos 7 anos. Tinha noção de onde poderia chegar?

– Eu só entendi a grandeza do judô quando saí de Peruíbe, cidade em que eu morava, e vim para São Paulo, aos 13 anos. A partir de então, comecei a acreditar que, assim como tantos outros atletas grandiosos, eu também poderia escrever a minha história.

– Você se tornou referência para muitas pessoas. O que pensa sobre essa responsabilidade?

– Eu acho muito bacana. Seja no judô, em outro esporte ou até mesmo na vida. Eu mesma tive muitas referências, e não só dentro de casa. Queria ser um espelho para alguém também. Hoje, estou tendo essa oportunidade.

– Em algum momento você teve medo de não conseguir alcançar este sonho?

– Medo, não, mas rolava uma insegurança no sentido de saber se realmente daria certo. Meu receio era que eu passasse por tudo o que passei e não conseguisse chegar aonde eu queria.

– Tinha um plano B? Pensava em seguir outros caminhos?

– Não. Só tinha uma bala para dar o tiro certo. E no escuro.

– O que sentiu ao anunciar a vitória para sua família?

– Foi muito grandioso. Meus pais sempre batalharam muito por mim... Minha medalha é uma maneira de mostrar que todo o esforço deles valeu a pena. É para honrar o nome deles.

– Por que eles não te assistiram presencialmente?

– Eu não tenho o costume de levar ninguém para as competições, nem meu marido. E eu não ia fazer esse teste em um jogo olímpico. Talvez isso me deixasse nervosa. Imagine competir com esse peso? Deus me livre!

– Após a vitória, seu Instagram passou de 13 mil seguidores para mais de 3 milhões! Acompanhou toda a repercussão?

– Virei uma semideusa na internet! Ganhei num dia e, no outro, fotos do meu casamento, que foi ano passado, já estavam em quase todas páginas por aí. Ainda é chocante, mas também é divertido.

– Você compete na categoria acima de 78 kg . Sempre foi uma mulher fora do padrão?

– Sim, desde criança. Como uma judoca, isso é ótimo, mas quando eu era adolescente eu me sentia muito estranha.

– Isso ainda te incomoda?

– Na adolescência me incomodava mais. Principalmente quando eu ia atrás de roupas... nossa, sempre foi um pesadelo. Eu não gostava tanto do meu corpo porque achar roupas e calçados para mim era muito difícil. Ainda é difícil, na verdade. –

Difícil em que sentido?

– Meu pé é grande, eu calço 42. O que tem disponível nas lojas é muito caro. Você não vai encontrar algo acessível e plus size.

– Mas você acha que o mercado está se transformando?

– Espero que sim. Quero ser não só inspiração para as mulheres, mas também uma forma de trazer essa visibilidade para as marcas, para que elas nos vejam. Quero entrar em uma loja e achar uma calça 50 de boa qualidade e caimento. Não é só porque eu não sou padrão que eu não posso me vestir de um jeito bacana. Eu não vou andar pelada!

– E por falar em visibilidade, como fica isso em relação ao seu esporte fora das Olimpíadas?

– É bem complicado. Falta visibilidade e investimento. A gente sabe que, aqui no Brasil, nenhum esporte vai ganhar do futebol, mas nós temos outras modalidades e outros talentos. O problema é que o pessoal só lembra disso de quatro em quatro anos. Como a gente vai conquistar o mundo e influenciar pessoas sem dinheiro?

– Qual seu segredo para manter tudo em equilíbrio?

– Faço um acompanhamento psicológico, tenho um coach. A galera vê a saúde mental como fraqueza, mas, pelo contrário, é o que vai te deixar mais forte. É muita coisa para lidar sozinho. Todo mundo precisa de ajuda.

– Daniel torceu muito por você durante as Olimpíadas! Como é se relacionar com ele?

– Acho que todo casal precisa de um certo equilíbrio. Entre nós, ele é o brincalhão e eu sou a brava. Além disso, o Daniel é muito parceiro, me apoia em tudo. Somos um conjunto.

– Vocês estão juntos desde 2019 e se casaram no ano passado. Pensam em aumentar a família?Querem ter filhos?

– Sim! Esse é um dos nossos grandes sonhos. Depois das Olimpíadas de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2028, este será o nosso foco.

Beatriz Souza eleva nível do judô brasileiro - FOTOS: Samuel Chaves
Beatriz Souza eleva nível do judô brasileiro - FOTOS: Samuel Chaves
Beatriz Souza eleva nível do judô brasileiro - FOTOS: Samuel Chaves
Beatriz Souza é casada com Daniel Souza - FOTO: Samuel Chaves
Beatriz Souza é casada com Daniel Souza - FOTO: Samuel Chaves
Beatriz Souza é casada com Daniel Souza - FOTO: Samuel Chaves
Beatriz Souza é casada com Daniel Souza - FOTO: Samuel Chaves
Beatriz Souza é casada com Daniel Souza - FOTO: Samuel Chaves

FOTOS: Samuel Chaves