“Eu busco por meio de meu ofício uma reconexão com a nossa ancestralidade”. Nando afirma que o agro é sustentável e tem uma rica história de superação e de formação de um povo
O cinema é considerado a sétima arte da cultura humana. No Brasil, mesmo sem uma indústria da grandeza de Hollywood, há diretores que vão pela contramão e insistem em produzir filmes no país. Um deles é Fernando Dias Gomes – Nando, como é conhecido profissionalmente.
Nascido em Guarulhos (SP), Nando tem também a graduação em Tecnologia em Marketing pela FGV/EBAPE. Há anos mora em São Paulo e se diz um “homem da cidade”, mas com raízes profundas no Brasil rural.
Nando Dias Gomes tem 44 anos, e é pai do Mateus, 12 anos, “um menino que adora ler”, diz ele sem esconder sua satisfação pelo interesse de seu filho na leitura.
Como um autêntico diretor de cinema brasileiro, Nando quer ajudar a recontar histórias de um Brasil rural, ou como diz, “de um Brasil profundo”. Seus trabalhos, entre tantos que realizou, tem um olhar voltado para o agro. “Eu busco através do meu ofício de cineasta uma reconexão com a nossa ancestralidade”.
“Todo brasileiro possui uma ligação com o campo”, ele afirma, “se não for nesta geração, é de gerações passadas”. A ancestralidade é um fator que permeia sua extensa obra dentro da cinematografia brasileira. Hoje, já são 27 anos de trabalhos dedicados ao Audiovisual e ao Cinema Brasileiro – ele começou ainda adolescente.
Sua filmografia é prova inequívoca de que o agro e produtores rurais estão intensamente presentes em seus trabalhos.
Apesar de ser um “homem da cidade, urbano”, sua conexão com o rural se manifesta em lembranças da infância e “da minha família, pois tenho ancestrais que eram produtores rurais no sul da Bahia, ainda no século 19”.
Nando dirigiu a série documental “Mulheres e Homens da Terra”, exibido pelo canal Terraviva do Grupo Band de televisão. Ele foi o diretor do documentário “Paralelo 14, Filhos do Sol", exibido pelo canal Cine TV Brasil.
“Quando Ouvi a Voz da Terra”, outro documentário do cineasta, conta a história de Carmen Perez, pecuarista referência em bem-estar animal “para o Brasil e para o mundo; uma mulher incrível”, ele relata. O longa conta com quatro episódios, que mostram o manejo na cultura do mel, cacau, leite e café.
“Queríamos mostrar histórias como ninguém mostrava. Todos gravam a produção, gado e as plantas, mas ninguém falava que a fazenda tem rio, reserva e mata. No detalhe, quebramos um paradigma quando colhemos os depoimentos dos produtores em meio à natureza; não, em meio aos bois e máquinas”. Um diretor que, ao mesmo tempo atento à ancestralidade, não perde de vista a sustentabilidade do agro.
Nando conta que quando entendeu esse significado em profundidade quis realizar o longa de forma mais ampla. “Lembro bem que em uma das primeiras conversas que tive com um presidente de sindicato rural, ele disse: ‘só quem passar um dia no campo com um fazendeiro, não consegue voltar para a cidade da mesma forma’. Além do trabalho, ele acaba enxergando que as pessoas são como ele, de carne e osso, com desafios e demandas”.
O diretor ainda faz um alerta. Muitas vezes os produtores no Brasil são, de certa forma, colocados no papel de vilões. “Quem trabalha no campo foi um herói no início da nossa sociedade, e depois passou a ser visto como um vilão. Isto me incomodou. Com o cinema, eu posso ter uma cena tocante e poética e quem está do outro lado vai materializar as ideias do filme. Por isso, toda vez que estou no set de filmagem, estou buscando esses fragmentos de humanidade: em cada gesto, em cada palavra e em cada momento”, explica.
O trabalho de Nando Dias Gomes também é reconhecido internacionalmente. O cineasta e roteirista foi premiado no Latino Native American Film Festival (Menção Honrosa), em 2022, e no Los Angeles Movie Awards (Melhor Edição), em Hollywood, em 2011.
A sétima arte de Nando Dias Gomes é como um amálgama entre o campo e a cidade, entre o trabalho duro e a poesia dos rincões. O que ele deseja, por intermédio de seu ofício, é que os brasileiros não deem mais as costas ao Brasil profundo.