Em entrevista à CARAS Brasil, Luciana Malavasi destaca a participação feminina em seus projetos e comenta sobre o espaço das mulheres no audiovisual
Publicado em 31/08/2024, às 12h23
Depois de recepção de sucesso para seu primeiro trabalho como diretora com A Janela de Íris, obra que ganhou cinco prêmios em festivais internacionais — dois deles como Melhor Direção —, Luciana Malavasi se prepara para lançar novos projetos: o curta O Novo Corpo e o longa O Que Sobrou do Céu. Em entrevista à CARAS Brasil, a diretora, roteirista e produtora defende a participação feminina no audiovisual e declara: "Não é um sacrifício".
Até então maior sucesso de Luciana como diretora, A Janela de Íris — disponível em várias plataformas de streaming — é um curta-metragem e narra a perspectiva de uma mulher vítima de trabalho análogo à escravidão. A ideia para o filme nasceu do caso narrado no podcast A Mulher da Casa Abandonada e, de acordo com a diretora, também se baseia em histórias de milhares de mulheres do Brasil.
"Essa história, na verdade, é muito comum no nosso país. É uma coisa triste de se falar, mas é muito comum. Muito mais do que a gente imagina, porque a gente não vê", reflete. A abordagem com um olhar delicado sobre o tema pesado é marca da obra, que busca enfatizar o protagonismo feminino e trazer sororidade para as histórias do cinema.
Luciana revela que o desejo em destacar mulheres, tanto em frente às câmeras quanto na equipe de produção, a acompanha há muito tempo, desde sua carreira no teatro: "Comecei produzindo uma peça a convite de um amigo e, quando fui criando os meus projetos sozinha, era automático pensar em mulheres. Eu pensava em atrizes, amigas, sabe? Competentes e boas atrizes, que jogassem junto, parceiras", diz.
"E aí nasceu um desejo de chamar as mulheres que eu confiava, que eu admirava, que eu me sentia confortável. Então, eu entendi: 'não, isso daqui é o que eu gosto mesmo de fazer'. Acho que as mulheres têm não só uma competência profissional, como uma sensibilidade de olhar aquele tema", explica.
A diretora conta que grande parte da sua equipe na produtora Fantasia Filmes é feminina, mas ela também tem bons colegas de trabalho do sexo masculino. "Essa é a atmosfera que eu quero trabalhar, eu acho que flui muito, que tem um olhar diferente, e no cinema, mais e mais, a gente tem que furar essa bolha, essa ideia de que é um meio masculino", compartilha Malavasi.
Em seus projetos, ela busca dar espaço para o trabalho feminino e não vê a iniciativa como sacrifício: "É gostoso, é bom, a mulherada é muito competente, é gostoso trocar. Então, assim, é zero sacrifício", diz.
Em outubro, Luciana iniciará as gravações do curta O Novo Corpo, escrito e dirigido por ela, que também terá protagonismo feminino, mas sob uma perspectiva, como ela explica, completamente diferente de A Janela de Íris.
"Quando leio o roteiro desse filme, vejo que ele permeia em tantos lugares. Essa coisa das mulheres, da sororidade, de estenderem as mãos, sabe? O Novo Corpo fala mais sobre o meio ambiente do que histórias femininas, mas as mulheres sempre estão lá. São duas protagonistas mulheres e elas sempre estão lá", conta.
Outro trabalho em desenvolvimento pela diretora é o longa O Que Sobrou do Céu, definido como um grande passo de sua carreira por ser o primeiro filme de sua produtora.
"Vai ser maravilhoso porque a minha diretora vai ser a Susana Lira, que é uma mulher que eu admiro para caramba e a Dani Pereira de Carvalho, roteirista que sempre tem textos com temas muito relevantes. São mulheres incríveis e a protagonista do filme também vai ser mulher", compartilha.
Na produção, que tem previsão para ser gravada em 2025, a personagem principal trabalha no mercado financeiro e enfrenta um burnout, além de questões com a maternidade. "A gente fez uma escolha de ter uma mulher de 45, 50 anos, uma mulher de verdade, que não é uma super mocinha, heroína. É uma mulher de verdade, com erros e acertos", detalha.
Luciana revela que está muito animada com a produção e com o novo momento de sua carreira: "Não vejo a hora da gente filmar, porque realmente é uma coisa muito, muito importante nesse momento artístico para mim", conclui.