Em entrevista à CARAS Brasil, produtor contou sobre novos projetos e celebrou o Oscar para Nada de Novo no Front
Publicado em 17/03/2023, às 09h27 - Atualizado em 20/03/2023, às 09h07
Mangueirense de coração, apaixonado por Carnaval, encantado pela culinária mineira, filho de carioca e vencedor de quatro categorias do Oscar. Assim é Daniel Dreifuss (44), produtor brasileiro que esteve no palco da maior premiação de cinema no último domingo, 12, representando o filme alemão Nada de Novo no Front. Agora, após ter entrado para a história da premiação, ele não esconde a vontade de produzir no país que cresceu.
"Fico feliz em ser um brasileiro que pode contar histórias pelo mundo e adoraria contar histórias no Brasil", afirma o produtor, em entrevista exclusiva à CARAS Brasil. Apesar de morar há 20 anos nos Estados Unidos, Dreifuss não esconde a saudade que sente pelo Brasil e adianta que já tem três projetos preparados para o país, sendo duas minisséries e um longa-metragem.
Dreifuss conta que o filme será ficcional, com inspiração na sociedade brasileira, e as séries baseadas em obras de um jornalista brasileiro, Fernando Molica, e um escritor norte-americano. Ele reforça que está aberto a histórias brasileiras que cheguem até ele. Para o artista, o cinema nacional é interessante e possui novas potências de trabalho, que ainda precisam de apoio governamental. "Os últimos quatro anos foram um desastre para a cultura, apoio zero, a indústria é muito dependente do governo."
Apesar do sucesso no cinema e planos para projetos futuros, ele relembra que a carreira artística nem sempre foi uma certeza em sua vida. O produtor nasceu na Escócia enquanto seu pai, o cientista político René Dreifuss, fazia um doutorado. Mas foi em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, que ele cresceu e passou a admirar o cinema.
Ele começou a assistir filmes clássicos do cinema europeu ao lado de sua mãe, e a lista incluia títulos como Cinema Paradiso, Festa de Babete, Minha Vida de Cachorro, Império Conquistador e Império do Sol, e isso abriu uma janela em sua vida, mas não determinou logo de cara o trabalho com o cinema. "Desde pequenininho eu falava que seria gemólogo, depois que ia fazer biologia marinha e na faculdade fiz publicidade, achando que queria marketing."
Dreifuss fez faculdade no Rio de Janeiro e sua relação com a indústria cinematográfica começou quando trabalhava com planejamento estratégico. Com o fim do curso e a morte de seu pai, em 2003, ele resolveu juntar o que tinha em duas malas e se mudar para Los Angeles, com um visto de estudo para a UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e a casa de uma amiga de sua mãe para passar os primeiros meses.
"Vim realmente sozinho", acrescenta o artista. Ele começou a atuar como produtor após concluir o mestrado em produção e logo em seu primeiro filme já recebeu uma indicação ao Oscar. Com No, trama sobre ditadura lançada no ano de 2012, ele concorreu ao Oscar de Melhor Filme Internacional no ano de 2013 e levou, pela primeira vez, o Chile até a premiação.
"Eu já tinha uma compreensão bem clara de que tipo de cinema eu queria fazer", completa Dreifuss. Ele explica que, para investir anos em um projeto, precisa encontrar um gancho pessoal, que o faça ter motivação para continuar na produção. O que não foi diferente com Nada de Novo no Front.
Assim como os personagens da trama, o avô de Dreifuss lutou durante a 1ª Guerra Mundial defendendo a Alemanha. Porém, ele sofreu um ferimento nas costas e voltou para casa, diferente de seu primo, que se manteve no Front e morreu nas últimas horas do embate. "O primo dele é um dos jovens que morreu nas últimas horas da guerra", completa.
Para o artista, produzir o filme "pacifista e antibélico" como classifica, foi o encerramento de um ciclo da história de sua família. Seu avô, um judeu alemão, foi enviado para um campo de concentração na 2ª Guerra Mundial e conseguiu fugir para o Uruguai, país onde nasceu René, pai do produtor. Dreifuss conta que o filme originalmente seria feito em inglês, mas, como as produtoras dos Estados Unidos rejeitaram a ideia, ele sugeriu voltar para a Alemanha, em 2019, e trabalhar no país.
Nada de Novo no Front acumulou nove indicações e venceu quatro categorias, sendo elas Melhor Filme Internacional, Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora Original. Além disso, o longa-metragem bateu recordes no BAFTA, levando sete prêmios. O filme é baseado no romance do escritor Erich Maria Remarque, de 1929, e conta a história do jovem soldado alemão Paul (Felix Kammerer), que se alista para lutar na 1ª Guerra Mundial.
"É um sonho maior do que eu poderia ter sonhado, ser produtor de um filme que ganhou quatro Oscars. Vou ser para sempre produtor de um filme que ganhou Oscar. É o filme mais premiado da história da Alemanha e da Netflix. É o reconhecimento de um trabalho de anos de dedicação. É um bonito fim de um ciclo."
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