Ator sonha ter uma casa em Lisboa e parar de trabalhar para se dedicar mais à sua família
De tuk-tuk, uma das mais sim páticas maneiras de percorrer as ruas de Lisboa, em Portugal, Thiago Lacerda (39) passaria facilmente por um guia turístico. Apaixonado pela cidade, ele é capaz de contar histórias sobre qualquer monumento. “Sempre fui muito feliz aqui, sempre!”, confessou, enquanto explicava, entusiasmado por dividir a informação, que a origem dos famosos azulejos portugueses é árabe. “Os mouros expulsaram os romanos e tomaram Portugal por mais de 1000 anos. Muita coisa aqui veio deles”, contou. O amor é recíproco.
Os portugueses também idolatram Thiago. Ele nem lembra quando esteve no país pela primeira vez, mas há mais de dez anos fica longas temporadas por lá e garante que jamais deixará o Brasil, porém não descarta a ideia de ter uma residência fixa em Lisboa para passar mais tempo com sua mulher, Vanessa Lóes (45), e os três filhos, Gael (10), Cora (7) e Pilar (3).
– Qual a diferença de assédio do brasileiro para o português?
– O brasileiro é mais efusivo, extrovertido e também mais abusado e mal-educado. O volume é o mesmo, mas o português é mais discreto, educado, menos eufórico.
– Conta piada de português?
– Lógico! Especialmente para os portugueses. A diversão é essa.
– Está celebrando 20 anos de carreira, arrependimentos?
– Tenho o maior orgulho da minha trajetória. Não era sequer um objetivo ser ator. Me apaixonei em cena pelo ofício. Arrependimentos? Talvez meu temperamento. Sou muito discreto, minha natureza é antagônica ao que a carreira sugere. Se pudesse me desenhar, faria uma figura menos tímida.
– Seu corpo muda muito...
– Amo meu chope, não abro mão da mesa com os amigos. E sempre me conformei com a minha beleza, com quem eu sou. Eu mesmo corto meu cabelo, por exemplo. De modo que me sinto zero ofendido quando dizem que estou gordo. Ser bonito é um parâmetro individual. O problema é que ando bem despreocupado com exercício físico. E vou fazer 40 anos. Está ficando complicado.
– Já sente a idade?
– Começando a sentir. (risos) Uma pelada agora é só uma mesmo, não dá mais para jogar três por semana. Mas o bem-estar tem a ver com os prazeres também. Se venho para Lisboa, não vou para uma academia. Prefiro andar pela cidade ou ficar tomando um chope vendo as pessoas passando.
– Tem medo de envelhecer?
– Me acho muito melhor hoje. O tempo é uma coisa muito legal. A gente é o que acumula. Gosto de envelhecer, o que assusta é a finitude. Não tenho medo de morrer, mas de não estar aqui. A morte passa por essa ausência.
– O que une você e Vanessa?
– Do ponto de vista do século XXI, tenho um casamento muito longo, 16 anos, mas vivemos muito bem em torno deste cerne de família. O brasileiro é muito livre do ponto de vista dos compromissos e nós insistimos, persistimos.
– Família em primeiro lugar?
– Adoro ser pai. A-do-ro! É muito difícil, angustiante não saber lidar com as questões que os filhos colocam, mas é maravilhoso. Hoje, posso dizer que vivo para minha família. Meu ofício vem ganhando status secundário. E quero muito que chegue o dia, em breve, que eu só trabalhe se for realmente muito interessante. A ideia de viver a vida com eles me seduz muito.