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TV / ATOR

Thardelly Lima, agiota de Mar do Sertão, passou 20 anos sem trabalhos na TV e cinema: 'Me boicotava'

Paraibano, ator vive Vespertino em Mar do Sertão e prepara novos projetos para 2023

Mariana Arrudas
por Mariana Arrudas
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Publicado em 17/02/2023, às 07h30

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Thardelly Lima como Vespertino, o agiota da novela Mar do Sertão - Foto: Divulgação/Globo
Thardelly Lima como Vespertino, o agiota da novela Mar do Sertão - Foto: Divulgação/Globo

"Eu sou daqueles artistas que não tiram férias, eu amo trabalhar. Eu já fico nervoso, não consigo. Me divirto trabalhando". A frase é de Thardelly Lima (40), ator que vive o agiota Vespertino em Mar do Sertão, trama das 18h da Globo. Paraibano, o artista não aceitou de primeira trabalhos fora dos palcos do teatro, mas agora após brilhar nos cinemas e TV, já vislumbra papéis nos streamings.

"Fiquei 20 anos só fazendo teatro, e ia continuar sempre. Eu boicotava testes de filmes, não ia", relembra, em entrevista concedida à CARAS Digital, enquanto se preparava para viajar até Olinda, para curtir o Carnaval, antes de voltar para as gravções de Mar do Sertão. Para ele, a virada de chave para começar a aceitar trabalhos além dos espetáculos teatrais aconteceu após uma junção de fatores. 

Alguns amigos fizeram testes para o filme de sucesso Aquarius e a mudança para o governo Temer, que trouxe uma queda aos incentivos culturais, despertaram a necessidade –e vontade– de explorar novas produções. Então Thardelly decidiu aparecer nos testes de Bacurau, após ser convencido por sua parceira, Helena.

"O filme foi adiado, e o Marcelo Caetano saiu me indicando para outras produções antes de Bacurau, então fiz O Divino Amor, O Pateta, Serial Kelly com Gaby Amarantos", conta. "Fui fazendo outras produções e eu fui gostando. Veio uma outra possibilidade de sobrevivência artística."

Seu trabalho na televisão começou pouco depois dos filmes no cinema. Ele fez uma participação em Amor de Mãe, da Globo, na mesma época em que tinha feito testes para a novela Quanto Mais Vida, Melhor!. O artista ficou sabendo que estaria no próximo folhetim da emissora através de uma conversa com Vladimir Brichta, nos bastidores de seu trabalho na trama das 21h. "Fui do inferno ao céu em um estalar de dedos."

Estrear na novela foi um divisor de águas para a carreira do ator, como ele conta. Encarando um personagem fixo e com uma estrutura maior, Thardelly se encontrou no universo ainda estranho da televisão e teve a certeza de estar fazendo um bom trabalho. "Chegou o momento que o autor da novela me ligou e disse que queria me dar um presente: eu pude escolher uma atriz paraibana para casar com o meu personagem.  Ganhei um casamento no final da minha primeira novela."

O artista indicou Suzy Lopes, sua amiga de profissão, que o acompanha em Mar do Sertão. Ele ainda conta que não esperava ser chamado para a trama de Mário Teixeira, e que a maior surpresa veio após a escalação do elenco, que era composto por diversos amigos e artistas nordestinos. "É um ganho não só para os atores mas também para o público que está assistindo à novela."

Para o futuro, o Thardelly se prepara para o fim das gravações de Mar do Sertão, uma nova temporada de seu espetáculo teatral e também torce para convites de streamings se concretizarem em novos trabalhos. "Já apareceram alguns novos projetos, mas só sondagens de datas… de streamings diferentes, mas também do Globoplay. São todos em aberto, só especulações."

Abaixo, o artista fala sobre sua preparação física para viver Vespertino, sua relação com as redes sociais, a relação com a televisão e mais detalhes do seu espetáculo Alegria de Náufragos, que deve voltar em maio no Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro. Confira a seguir trechos editados da entrevista.   


Como começou sua carreira de ator? Sempre foi o seu sonho?
Eu tive a sorte de morar na rua do teatro, na cidade de Cajazeiras no interior da Paraíba. Meu tio, que trabalhava na rádio local, ganhava convites dos espetáculos para divulgar, e sempre separava uma cortesia para mim. Todo final de semana eu ia ao teatro, e a primeira peça que eu assisti foi Pluft, o Fantasminha. De tanto assistir eu decorei as falas, e eu era aquela criança que falava alto na plateia, até que um dia, após a peça, um dos atores perguntou se eu gostaria de fazer teatro e  me chamou para a próxima oficina. Quando estavam fazendo a oficina para a Paixão de Cristo eu fui, fiz e nunca mais saí. Isso aconteceu por volta de 1999.

Como foi participar de Bacurau? Por que a escolha de ir para o cinema?
Eu estava muito satisfeito com o meu grupo de teatro porque a gente vivia só do teatro, ninguém fazia bicos. A gente tinha uma estrutura, folha de pagamento e até escritório. Eram 15 pessoas, e rodamos o país. Acabamos virando modelo para outros grupos de teatro nordestino. Mas aí com as mudanças de governo foram acabando os editais e a bilheteria não segurava. O cachê do grupo foi secando e a gente não tinha mais como se sustentar, então veio o teste para Bacurau. 

Você é bem ativo nas redes sociais, seja Instagram, TikTok e até mesmo Twitter. Como você começou a usá-las?
[Foi durante a pandemia], a gente se isolou em um sítio da minha sogra na zona rural da Paraíba, a gente se sentia mais seguro, mas o dinheiro foi secando. Foi quando eu comecei a fazer vídeos com poesias, e uma sobre a saudade viralizou. Aí eu tomei gosto e fui fazendo mais, aí fiz um vídeo de humor e consegui fazer publicidade em uma empresa de cachaça nordestina. Eu não usava minhas redes sociais, tinha cerca de 3.000 seguidores. Eu ainda não via as redes sociais como uma ferramenta para a sobrevivência dos artistas. Ainda tenho muitos amigos que são muito cabeça fechada para Instagram, Facebook, Twitter… Mas eu já entendi que não dá para correr.

Você continua no teatro. Tem planos futuros para algum espetáculo?
Fizemos um mês de temporada no Teatro Ipanema, com o espetáculo Alegria de Náufragos, e nós estamos indicados ao Melhor Espetáculo do prêmio Cesgranrio e a quatro indicações ao Prêmio do Humor. Só fizemos uma temporada para circular e deu super certo, já estamos pensando em fazer uma segunda temporada por aqui, talvez no mês de maio.

Antes de Mar do Sertão, você atuou em Quanto Mais Vida, Melhor!. Foi seu primeiro papel na televisão?
Eu considero que sim, antes fiz apenas uma participação em Amor de Mãe. Eu estava como um estranho no ninho, estava muito preocupado em estar dentro daquele universo. Quanto Mais Vida, Melhor! foi o verdadeiro divisor de águas. Era um personagem com uma estrutura maior, fixo, e tinha todo um elenco. O personagem foi tomando corpo, a gente estava gravando na pandemia sem vacina. Então chegou o momento que o autor da novela me ligou e disse que queria me dar um presente: eu pude escolher uma atriz paraibana para casar com o meu personagem. Foi aquela sensação de estar fazendo um bom trabalho. Indiquei minha amiga Suzy Lopes, que está em Mar do Sertão. Ganhei um casamento no final da minha primeira novela!

Há algum papel que você tenha vontade de fazer, ou algum formato específico?
Tenho ainda esse desejo, porque não consegui fazer. Até mesmo em Bacurau, que não era um personagem cômico, as pessoas riam muito das cenas dele. Até então não apareceu, o que vem aparecendo é sempre nesse lugar de conforto, na comédia.