Quem vê um sorridente e expansivo Marcelo de Carvalho apresentando o programa Mega Senha na Rede TV!, certamente não imagina que trata-se de um homem tímido. É exatamente assim, no entanto, que o vice-presidente da Rede TV! se define. "Sou um cara super tímido, sempre fui. Sou filho único, de pais mais velhos, primos distantes. Eu não tive o traquejo social que meus filhos, que vivem em uma casa cheia de irmãos, têm, por exemplo", afirma.
Além da timidez, talvez escape ao público em geral alguns detalhes curiosos sobre a trajetória do engenheiro químico de 53 anos, pai de Manoela, Marcos, Marcela e Lorenzo Gabriel. Como, por exemplo, o fato de ter iniciado sua trajetória na TV na Rede Globo. Foi trabalhando para a emissora com a qual hoje concorre que, ao lado de seu atual sócio na Rede TV!, Amílcare Dallevo, criou a TeleTV, uma das empresas brasileiras pioneiras em interatividade de massa, que permitia ao público, por exemplo, escolher sua escola de samba favorita no Carnaval ou o final de determinada personagem no extinto programa Você Decide.
Se parte da escalada profissional de Marcelo passou justamente pelas novas tecnologias, hoje o executivo e apresentador mantém-se afastado de algumas delas, e é com o mesmo bom humor que exibe na TV que explica os motivos em entrevista exclusiva à CARAS Digital. "Eu não posso ter Twitter, nem Facebook, nem Instagram porque a Luciana não deixa. Ela tem certeza absoluta que eu teria isso para galinhar, para arranjar mulher fora de casa, e eu então fui banido por ela desses instrumentos de sociabilidade", comenta, referindo-se à sua terceira mulher, Luciana Gimenez.
Conheça mais sobre Marcelo de Carvalho:
- Você é engenheiro químico de formação. Como foi que começou a trabalhar na televisão?
Eu sou engenheiro químico de formação, mas o que eu sempre fui foi vendedor. Desde o primeiro dia da minha facudade, precisei vender. Antigamente, tinha uma lanchonete chamada O Engenheiro que Virou Suco. Eu costumo dizer que eu sou o Engenheiro que Virou Vendas. Quando estava na faculdade, meu pai tinha uma fábrica de vinagre que "foi para o vinagre". Nessa época, no final dos anos 70, meu pai me falou sobre algumas indústrias que estavam precisando exportar, e eu comecei a vender para o mercado internacional. Foi quando comecei a ganhar um bom dinheiro na minha vida. Depois, passei de produtos manufaturados para vender comerciais, projetos. Aí foi uma coisa maravilhosa, muito mais agradável. Meu primeiro trabalho em TV foi na Rede Globo, quando a emissora começou o merchandising. A coisa mais importante que tem na vida é vender, nada existe sem que um produto ou serviço seja consumido pelas pessoas.
- Foi nesta época que você conheceu o Amílcare Dallevo, seu sócio na Rede TV!?
Sim. Primeiro trabalhava no merchandising, era executivo no departamento na Globo. Alguns anos depois, nós fomos convidados para começar um projeto de interatividade na TV, eu e o Amílcare. O desafio era fazer o telespectador participar dos programas de televisão. Não tinha Internet na época, então o jeito era usar o telefone. Antes do 0900, criamos o 0800, através de uma empresa que fundamos, a TeleTV. Eram milhares de linhas telefônicas e o telespectador podia votar, ou na escola de samba da sua preferência, ou no Você Decide, para decidir os rumos de uma determinada história. Foi a primeira empresa de interatividade de massa, foi um boom fenomenal. Em 1999, fundamos a Rede TV!.
- Como foi que surgiu a idéia de se tornar apresentador?
Foi quando estivemos em uma feira de TV em Los Angeles e compramos um formato chamado Million Dollar Password. Quando chegamos no Brasil, começamos a pensar nos apresentadores e achamos os nomes todos muito caros, então eu brinquei durante a reunião: 'imagine, isso eu apresento sozinho, com os pés nas costas, não precisa pagar ninguém'. Passaram-se três meses, e um dia, alguém da produção me procurou e disse: 'Olha o cenário do senhor está pronto'. Eu me espantei: 'Que cenário?'. 'O do programa do senhor'. Eu falei de brincadeira, evidentemente, mas aí me responderam: 'Bom, então o senhor diga quem vai apresentar, porque desde aquela reunião não contratamos ninguém'. Aí fiz um piloto. Ficou horrível. O segundo ficou razoável, o terceiro ficou bom e esse é que foi para o ar. Comecei apresentando com a Luciana, mas logo depois ela ficou grávida, teve que se afastar e eu pensei sinceramente em parar. Só que estava dando audiência e dinheiro. O departamento comercial não me deixou parar. Para minha felicidade, deu cada vez mais certo e hoje é uma das maiores audiências e faturamento do canal.
- Se inspira em alguém na hora de apresentar?
Não, não me inspiro em ninguém. Acho que apresentar é muito pessoal, a única maneira de apresentar um game show é ser absolutamente espontâneo. Vou dizer para você que o dia da semana em que mais me divirto é o que tem gravação do Mega Senha. Eu morro de dar risada.
- Pergunto porque há quem diga que seu estilo é muito similar ao do Silvio Santos. Isso o incomoda?
Não me incomodo, acho extremamente lisonjeiro. O Silvio Santos é um ícone, é o maior apresentador do Brasil e um dos maiores comunicadores. Nós dois começamos como vendedores, nós dois somos donos de televisão e nós dois apresentamos programas, mas essa história de empresário ser comunicador não se restringe a nós. Tem o Roberto Justus, o João Dória. Os grandes CEOs são pessoas muito carismáticas, o Steve Jobs era um comunicador nato, é normal, é uma tendência. Um empresário tem que se comunicar.
- Ao passar a apresentar o programa, seu rosto tornou-se conhecido do público também. Como lida com isso?
Tive duas fases de reconhecimento. A primeira fase foi quando eu casei com a Luciana, que é uma grande apresentadora, uma pessoa de um magnetismo enorme, muito mais apresentadora do que eu, e aí eu saí do anonimato para um semi reconhecimento. Ela foi o meu terceiro casamento e aí eu virei o "marido da Gimenez".
- Ser "o marido da Gimenez" te incomodou em algum momento?
Não, claro que não. Não me incomoda ser marido da Gimenez. Me incomodaria ser marido de mulher feia, aí ficaria muito incomodado. Ser marido de mulher linda e ser conhecido por isso nunca foi um problema e nunca será. Depois, numa segunda fase, passei a ser o marido da Gimenez, empresário e apresentador. Não me incomoda, as pessoas são muito educadas e gentis. Além disso, o programa ajuda as pessoas, então eu não sou visto como vilão, o Mega Senha dá dinheiro, sou recebido com muito carinho nas ruas.
- Você não tem redes sociais. Como é sua relação com a tecnologia hoje em dia?
Eu tenho duas pessoas extremamente importantes em tecnologia na minha vida: a primeira é o meu sócio, Amilcare. Digo sempre que nossa parceria é tecnológica. Ele é o técnico e eu sou a lógica. A segunda é a minha mulher. Eu era um analfabeto tecnológico. Agora eu sou até antenado, pena que eu não posso ter Twitter, nem Facebook, nem Instagram porque a Luciana não deixa, porque tem certeza absoluta que eu teria isso para galinhar, para arranjar mulher fora de casa, e eu então fui banido por ela desses instrumentos de sociabilidade. Fico a par pelo dela, pelo dos amigos, mas infelizmente para mim, é isso. Eu gostaria, poxa. Mas fui limitado por ela ao Whatsapp.
- A Luciana é a mais ciumenta da relação, então?
A Luciana? A Luciana é muito ciumenta, barbaridade. Eu não sou nada ciumento. E ela é o bicho mais extremamente ciumento que eu já vi em toda minha vida. Se você comprar um livro de horóscopo, vai ver que a combinação amorosa de signos mais improvável que existe é Leão com Escorpião. Eu sou Leão e a Luciana, Escorpião. Você lê e diz: não vai dar certo. Mas não é que está dando certo há 10 anos?
- Uma das histórias mais populares na Internet sobre o seu casamento é a de que vocês teriam quartos separados. De onde surgiu isso?
Não é história não, é uma verdade verdadeira! Aliás, quero fazer aqui o meu protesto. Quando a Luciana me fez essa proposta, foi na nossa primeira casa, não foi nessa. Achei um absurdo e depois eu percebi que era uma grande enganação. Porque é assim: ela tem o quarto dela, e nós temos o nosso quarto. O quarto dela é o quarto no qual ela leva o cabeleireiro, o maquiador, o assessor de imprensa, o personal, faz yoga, depilação,etc. No nosso quarto, ela vai dormir. Só que gostei tanto do conceito que queria mudar para um regime de casamento com três quartos: o dela, o nosso e o meu, que eu quero que ela não entre. Mas a Luciana... Você acha que ela concordou? Infelizmente ela já disse que não concorda, mas eu gostaria de tentar convencê-la.
- Por falar em convencer, recentemente, ela disse que gostaria de ter mais filhos, mas precisava te convencer. Você pensa em aumentar a família?
Olha, só se eu comprar um trem. Porque eu já passei de carro quatro portas para SUV, de SUV para picape, agora só se eu comprar um vagão de trem. Porque eu brinco que o meu negócio de verdade é alugar crianças para festa, de tanta criança que a gente tem. Temos muitos filhos, de todas as idades que você possa imaginar.
- E vocês têm o Lorenzo, de 3 anos...
E olha, haja disposição, porque eu sou um pai que faz absolutamente tudo! Eu pego, eu corro, eu luto com espada. O Lorenzo acha que ele é o Darth Vader e eu o Luke Skywalker, eu viro de ponta cabeça, dou cambalhota, jogo futebol, faço tudo. É preciso ter muita disposição mesmo.
- Além de estar com os filhos, o que gosta de fazer quando não está trabalhando?
Adoro cozinhar. Tenho dois grandes prazeres na vida: cozinhar e ler. Sou um leitor voraz. Eu durmo muito pouco. Em regra, não consigo dormir cinco horas por dia. Leio demais, sempre dois livros de cada vez, um mais técnico e um de lazer. E só leio em inglês para treinar. Atualmente, estou lendo a Eternidade Por Um Fio, do Ken Follet, e relendo a história da Pixar. Já na cozinha eu faço tudo que a Luciana odeia, já que ela vive de isopor, ar, água e uma sopa verde que nossa cozinheira faz para ela e que é uma coisa horrorosa, que se eu tomar uma colher morro, desapareço. Eu faço massa, carnes, peixes, e a Luciana não come quase nada (risos).
- Costuma fazer planos, pessoais e profissionais, para o futuro?
Não muito... Me vejo trabalhando, gerando empregos, sou um workaholic inveterado, gosto de família, gosto de trabalhar, de cozinhar... me vejo fazendo a mesma coisas que faço hoje. Construímos uma empresa maravilhosa, que ultrapassou crises enormes e hoje opera totalmente no azul, que não deve um real de imposto, que não tem dívida em banco, que fecha esse ano com o maior resultado da história. As coisas estão dando certo cada vez mais. As pessoas vão anunciar cada vez mais em outros veículos que não a Rede Globo. Não que a Rede Globo não vá ter propaganda, óbvio que não, mas as outras redes vão ter cada vez mais verba publicitária porque as pessoas vão cada vez mais assistirem outras coisas. Vejo isso pelos meus filhos. Se eu disser para eles: 'Olha, vocês só vão poder ver novelas da Globo', eles me matam. Não falo nem de Rede TV, falo de Globo, de Record, tudo. O mercado é bom, e eu me vejo produzindo, tendo idéias e exercendo minha criatividade, que é meu lado mais legal, e vendendo para esse mercado, porque no fundo, é isso que eu gosto de fazer: vender.