Em entrevista à CARAS Brasil, Gilda Nomacce refletiu sobre lugar que ocupa dentro do mercado do audiovisual e comentou sobre desafios que ainda enfrenta na profissão
Com mais de 20 anos de carreira, Gilda Nomacce (52) tem visto sua carreira entrar em um novo momento com a chegada do streaming, onde há alguns meses estreou com a série Desejos S.A, do Star+. Em entrevista à CARAS Brasil, a artista abriu o coração e confessou que tem travado uma batalha pessoal para conseguir um pouco mais de exposição dentro do mercado, que valoriza mais personalidades populares.
"Cada fase da vida tem um desafio diferente. Neste ótimo momento da minha carreira, o meu desafio é conseguir, além de estar em grandes projetos, como já estou, participar de suas divulgações. Coisa que ainda não aconteceu. É claro que preciso criar uma intimidade com o público que ainda não criei. Um rosto desconhecido atrai menos divulgação, mas como ser conhecida se não for divulgada?", desabafa.
"A divulgação pessoal é tão necessária quanto decorar textos. Passei muito tempo sem entender isso. Então, este tem sido meu investimento no momento: a exposição da minha imagem de forma potencializada", completou ela, que vive uma empregada doméstica na série, que se vê envolvida em uma trama de suspese e terror.
Uma das protagonistas de Desejos S.A, ela acabou ficando de fora do plano de marketing da produção, que contava com nomes como Marcos Pasquim, Carol Castro e Silvero Pereira. Para ela, apesar de ser saber que é uma pessoa querida dentro da profissão, ainda é triste ter que lidar com essas barreiras.
"Foi muito triste ser uma protagonista e não estar na divulgação oficial. E estes são os paradoxos da profissão. Você é uma atriz respeitada pelo trabalho, mas desrespeitada por não ser conhecida da mídia e nas redes sociais. Quero receber o mesmo tratamento. Acho que isso é um desejo muito humano, ser tratado com igualdade", desabafa.
- Gilda, poderia dar mais detalhes de sua protagonista? Como você avalia Desejos S.A.?
- A Lucimar é uma mulher como muitas brasileiras que trabalham em longas jornadas. No caso, minha personagem dorme no trabalho e simplesmente não para de trabalhar, já que ela não tem um espaço próprio. Ela nunca está à vontade. São 25 anos trabalhando naquela casa sem poder descansar. O estado é de exaustão. E, apesar de tudo isso, ela mantém viva a possibilidade de sonhar.
Avalio a série Desejos S.A. como um trabalho muito primoroso, todas as equipes são perfeitas. A fotografia, a direção de arte, figurinos, caracterizações, tudo. E os diretores, maravilhosos. Fui dirigida pela genial Mariana Youssef, que dirigiu dois dos seis episódios. A série traz personagens muito cotidianos e explora suas vulnerabilidades, mostrando do que somos capazes diante da oportunidade de realizar um desejo - mas com uma contrapartida. São personagens complexos, surpreendentes e apaixonantes.
- Você tem desejo de estrear em alguma novela?
- Dediquei minha juventude ao teatro e não me arrependo, porque tive um mestre, Antunes Filho, que acredito ser um dos maiores pensadores do teatro, investigadores, cientistas da alma humana. Foi um privilégio ter passado anos no Centro de Pesquisa Teatral, me fez muito bem. Já o cinema é minha casa. Me sinto muito bem recebida, amada e valorizada.
O streaming mudou muito a possibilidade de trabalhos mais vistos, porque traz uma janela extra de acesso, mais uma possibilidade de ver o trabalho do nosso audiovisual. E para conhecer um público ainda maior, tenho, sim, um desejo enorme de fazer novela.
A novela é um lugar onde você é visto popularmente por muitas pessoas e isso é um desejo que acho um pouco intrínseco a ser ator. Porque fazer televisão é muito parecido com fazer streaming, que também é parecido com fazer cinema, que é o lugar do audiovisual onde me sinto muito confortável e tenho um treinamento enorme. Estou aguardando uma oportunidade.
- E no momento, em quais projetos você está engajada?
- Neste momento, estou filmando “Dolores”, escrito por Chico Teixeira (in memorian), com direção de Maria Clara Escobar e Marcelo Gomes, e com produção da Dezenove Som e Imagens. Na produção, sou Marlene, amiga da protagonista Dolores (Carla Ribas), uma personagem que está em um momento muito bom de sua vida, apaixonada.
O filme é um projeto que faz parte da trilogia do afeto, mas um afeto imperfeito, que traz consigo ciúmes, ressentimentos, invejas, rejeições e frustrações. Um afeto que, às vezes, é doce e, às vezes, é amargo. Um afeto que é destruído pelo desafeto, e encontra grandes dificuldades para ser reconstruído.
- Você também tem muitos projetos no cinema, poderia dar mais detalhes?
- A próxima estreia, na verdade, é uma reestreia em Paris, de “Os sentimentos vastos não têm nome", um projeto surrealista realizado no período da pandemia pelo Sesc em Casa, inspirado na obra de Hilda Hilst. Donizeti Mazonas e eu somos autores, diretores e atores.
Esse projeto marca a minha estreia como autora e diretora. Estamos muito felizes com essa reestreia do longa, que fala sobre morte, saudade, devoção, transcomunicação, e é uma homenagem ao nosso mestre Antunes Filho e às nossas mães, Luzia (mãe do Donizeti) e Tatau (minha mãe).