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TV / PEDAÇO DE ANGELA CHAVES

Angela Chaves encara novos desafios após sucesso na Netflix: 'Adaptar não é tarefa simples'

Em entrevista à CARAS Brasil, autora de Pedaço de Mim, da Netflix, fala sobre novo projeto e avalia sucesso de sua obra, carreira na TV e cenário do audiovisual

Arthur Pazin
por Arthur Pazin
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Publicado em 15/10/2024, às 11h00

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Angela Chaves, autora de Pedaço de Mim (Netflix) - Foto: Perola Rodrigues
Angela Chaves, autora de Pedaço de Mim (Netflix) - Foto: Perola Rodrigues

Angela Chaves esteve entre as dezenas de nomes de roteiristas que circularam entre os anos 90 e os últimos anos na Globo. Sem ter o rosto tão conhecido, como Manoel Carlos (91) ou Aguinaldo Silva (81), a autora de programas, séries e telenovelas levou um pedacinho de suas histórias ao público por muito tempo, mas foi neste ano ao inovar no streaming brasileiro com Pedaço de Mim, da Netflix, que ganhou uma fatia maior para chamar de sua neste mercado.

A dramaturga carioca, agora, encara novos desafios em sua carreira ao abraçar a adaptação do livro A Casa das Sete Mulheres, de Letícia Wierzchowski (52), para uma série curta. Em entrevista à CARAS Brasil, Angela Chaves fala sobre o processo de escrever para a TV e analisa o sucesso de Pedaço de Mim na Netflix e os próximos passos na carreira.

Adaptar não é tarefa simples. É um grande desafio – e cada vez eu acho maior”, afirma a autora ao ser questionada sobre a nova versão da obra que originou a épica minissérie global de 2003. “É um projeto ainda, uma possibilidade e espero que se realize, porque é uma obra muito interessante que permite um novo olhar e gostaria de escrever”.

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Formada em Letras e com mestrado em Literatura brasileira, Angela Chaves começou a escrever para a TV justamente para fazer adaptações. Como dissertação de mestrado, defendeu Tubiacanga, o processo de Transcrição Dramática, trabalho que nasceu após uma adaptação realizada para a oficina de roteiro da Globo a partir de um conto de Lima Barreto, A Nova Califórnia. “Eu chamei de transcriação: criar para além de”, relembra.

Em 2019, Angela foi a responsável pela quinta adaptação para a TV de Éramos Seis, sucesso literário de Maria José Dupré (1898-1984). Dessa vez, o romance foi para a telinha na faixa das seis da Globo, como um remake da versão do folhetim de Silvio de Abreu (81) e Rubens Ewald Filho (1945-2019). “Adorei escrever Éramos Seis, é um registro relevante de uma época sob o olhar de uma mulher”, conta.

‘A FORÇA DO GÊNERO’

Quem assistiu a Pedaço de Mim percebeu que a emoção é um dos elementos que mais “abraça” o telespectador. Questionada se a produção da Netflix tem algum “pedaço seu”, Angela Chaves garante que a obra “tem muito” de si. “Toda a jornada de Liana de aceitação e compreensão do que viveu traz questões importantes femininas, questões que me atravessam e que dialogam com emoções que muitas mulheres da minha geração viveram”, conta.

Em relação à construção da trama, a autora compartilha que o processo de escrita e criação é o mesmo se comparado ao trabalho desenvolvido nas novelas, mas faz ressalvas no que diz respeito ao número de capítulos. “Construir uma história com seus núcleos, reviravoltas e ganchos, uma sinopse bem detalhada e desenvolvida a partir de uma ideia original. Mas é claro o tamanho foi uma determinante importante em Pedaço de Mim em relação às novelas da TV aberta: a forma de contar mais concisa, com um arco narrativo mais condensado, com mais ritmo e sem redundâncias”.

Para ela, o sucesso da obra foi “uma grata surpresa” que “se deve à força do gênero”. “As pessoas gostam de uma boa história, e Pedaço de Mim é um drama de família, que tem um apelo universal e atemporal”, pontua.  

A trama, inclusive, serviria até mesmo para a TV aberta, segundo Angela, mas precisaria de outra abordagem, “menos ousada”. “O streaming permite mais liberdade e ousadia. E Pedaço de Mim pôde falar de temas relevantes sem maniqueísmo”, explica.

Foto: Reprodução/Netflix
Foto: Reprodução/Netflix

SÉRIE OU NOVELA?

Logo que estourou na Netflix, Pedaço de Mim trouxe uma enorme discussão nas redes sociais: afinal é série ou novela? Segundo Angela Chaves, a produção protagonizada por Juliana Paes (45) não é uma novela. “Novelas são bem diferentes. São obras abertas, que podem ser alteradas de acordo com a reação do público. São escritas na medida em que são gravadas – mesmo que haja uma boa frente, é possível mudar, mexer. Além disso, tem mais capítulos, mais personagens, mais núcleos. A reiteração é uma característica do gênero também, mesmo que as novelas hoje tenham mais ritmo. Enfim, não acho que seja novela. Para mim, é uma série, mas sim! com um DNA de novela, que é o meu DNA: uma estrutura narrativa simples, que busca a comunicação e a emoção. É um bom melodrama com as ferramentas do folhetim”.

Quem ajudou neste DNA também, de acordo com a autora, foi a atriz escolhida para protagonista. Angela conta que Juliana Paes foi uma sugestão da Netflix e “foi uma sorte” para a produção. “Juliana é uma atriz de muitos recursos e com uma entrega apaixonante. Ela construiu com verdade uma personagem que é uma mulher comum, que tem na maternidade sua principal tradução”, avalia.

Foto: Perola Rodrigues
Foto: Perola Rodrigues

VONTADE DE CONTAR HISTÓRIAS

Ao longo de sua carreira, Angela Chaves colaborou na Globo ao lado de nomes como Gilberto Braga (1945-2021), em Celebridade (2003), e Manoel Carlos, em Páginas da Vida (2006), Maysa: Quando Fala o Coração (2009), Viver a Vida (2009) e Em Família (2013). Como autora principal, além do remake de Éramos Seis, comandou, ao lado de Alessandra Poggi (50) a novela chamada de supersérie Os Dias Eram Assim (2017), que tratava sobre o período da Ditadura Militar no Brasil. Além disso, participou da equipe de séries como Brava Gente (2002), Divã (2011) e Cidade Proibida (2017), entre outros programas como o infantil Gente Inocente (2000-2002). Para ela, a vontade de contar histórias é o que predomina e motiva.

Eu sempre gostei de escrever e essa é a minha principal forma de expressão. Trabalhar com Gilberto Braga e Manoel Carlos foi um privilégio da minha formação como autora - e devo isso à Globo, que aliás me formou roteirista. Fiz uma oficina de roteiro com Flavio de Campos e Luiz Carlos Maciel nos anos 90! Daí que começou tudo e fui em frente. Trabalhei em muitos programas diferentes nos 24 anos que fiquei lá, não fiz só novela, não. E agradeço ao Sílvio de Abreu a oportunidade que me deu, ele teve a coragem de descobrir e lançar novos autores”, diz.

Com as novas direções do mercado e esta transição de formatos, Angela Chaves afirma estar encantada com as possibilidades do streaming, mas descarta escolher um lugar ideal ou fixo. “Sou uma roteirista no mercado, cheia de ideias, e estou sempre aberta – desde que seja bacana, que eu queira fazer, eu faço”, afirma.

Junto a ela, a autora levará uma espécie de medalhação, a melhor dica que recebeu de Manoel Carlos. “Ele me disse que a primeira pessoa a se emocionar com o que a gente escreve deve ser a gente! Ou seja: é preciso buscar a verdade, sem truques. Se a gente não acredita, se não tem verdade, não funciona. Eu acho essa a dica de ouro”, conclui.