Compartilhando sua história, Alinne Prado, apresentadora do TV Fama, enaltece luta contra o preconceito racial
Em entrevista exclusiva para a CARAS Digital nesta terça-feira, 29, Alinne Prado (33) comentou sobre seu posicionamento durante o TV Fama, que acabou viralizando na web.
A apresentadora ficou popular nas redes sociais por denunciar o cunho racista na fala de Adriana Sant’Anna (30), quando esta “desabafou” sobre a dificuldade de encontrar uma empregada doméstica barata nos Estados Unidos.
Fundamentada em estudos sociológicos e históricos, a comunicadora explicou a motivação de rebater a fala da ex-BBB no programa ao vivo. “Eu pensei em não falar, mas, para mim, foi muito mais forte ali falar. Apesar do nome do programa ser ‘TV Fama’, eu não voltei à TV e não estou naquela função em busca de fama e número. Enriquecer faz parte, eu quero. Mas, para mim, eu tenho um papel social que é muito fundamental, é de onde eu vim e para onde eu vou”, declarou.
Com uma extensa carreira no jornalismo, Alinne Prado contou que o trabalho não é tão simples quanto aparece nas telinhas. “Eu já fui muito e até hoje sou vítima de preconceito em vários lugares, na Rede TV não é diferente, porque todas as emissoras de rede de televisão tem essas questões. É só olhar os meus pares. Quem são os meus pares? Quantos negros estão na emissora além de mim?”, disse ela. E, como a própria afirmou, a ausência de pessoas negras não é um caso particular dentro de sua emissora atual. “Era assim na Fátima Bernardes, da TV Globo, no Vídeo Show. Todos os lugares que eu passei são assim”, completou.
Para a apresentadora, o processo de reconhecer o racismo não foi uma tarefa simples, ainda mais após sua demissão conturbada do Vídeo Show. “Foi uma movimentação racial e foi muito violento a pra mim, na minha alma. Me feriu a tal ponto que eu entrei numa depressão muito profunda. E, quanto mais eu estudava sobre questões raciais, mais eu me deprimia, porque eu entendia o que havia acontecido comigo durante toda a minha existência até aqui. E não só a minha existência, a de todos os meus antepassados, dos meus pais, dos meus avós", revelou.
Quando a apresentadora se vê sozinha, decide por resgatar toda sua história como impulso para não desistir. “Eu venho de uma família de favelados, eu sou uma favelada. E quanto mais eu ascendi socialmente, mais eu estava nesse lugar de solidão e de sofrimento. Eu fui muito no fundo do poço. A vida cavou mais um pouco e eu fui um pouco mais fundo. Só que, nesse fundo do poço, eu encontrei uma força que ninguém me tira mais. É a força da ancestralidade. Eu não tô sozinha”, relatou.
A comunicadora ainda acrescenta com uma filosofia originária do continente africano: “É a lógica do Ubuntu, ‘eu sou porque somos’. Então, eu entendo que, cada vez que eu subo naquele palco do TV Fama, eu sei que eu não estou sozinha. Nada é para mim, não é para acariciar meu ego, é a caminhada por uma força muito maior. Eu me despi do medo”.
“Quanto mais eu avanço, ao invés de achar que eu tenho privilégios, eu entendo o quão devedora eu sou pelo mundo estar me dando tudo isso. Eu tenho uma dívida universal. Eu preciso retribuir, o universo me dá abundância, eu devolvo abundância. Se me dá esse lugar de visibilidade e de fala, eu preciso, então, devolver. A minha mãe me ensinou uma coisa maravilhosa: ‘quem não vive para servir, não serve para viver’. É o que eu coloco em prática”, afirmou.
Ao passo que a apresentadora demonstra toda sua consciência social, um colega da emissora reproduz discursos cheios de preconceitos contra a comunidade LGBTQIA+. De acordo com Alinne, “quando as pessoas gritam e fazem eco, o grito vem do vazio existencial, porque se não, a gente fala, dialoga, conversa". Por fim, ela deixa uma dica: "Quando a gente grita, quer aniquilar o outro, é porque há um vazio dentro de si. Seria bom buscar um tratamento”.