Em entrevista à CARAS Brasil, Juliana Martins fala sobre interpretar histórias de liberdade sexual feminina no palco com a comédia O Prazer é Todo Nosso
Publicado em 15/03/2025, às 11h30
Até o dia 26 de abril, Juliana Martins (51) apresenta para o público paulista a comédia autobiográfica O Prazer é Todo Nosso. Baseada em histórias da vida pessoal da atriz e de amigas próximas, o monólogo fala, sem tabus, sobre liberdade sexual feminina. Em entrevista à CARAS Brasil, a intérprete reflete sobre abrir intimidade e debater o prazer feminino no palco: "Busco me entender e evoluir", revela.
Juliana conta que o texto da peça surgiu de uma mudança pessoal em si, quando passou a encarar sua própria história com mais leveza e naturalidade. "A mudança emocional que tive, de fato, foi antes da peça. A peça veio a partir dessa mudança. É claro que continuo mudando. Faço terapia, estou sempre em busca de me entender e de evoluir, de ter mais inteligência emocional e por aí vai. Mas acho que a grande mudança se deu antes", explica.
Com a apresentação em um formato dinâmico e interativo, a montagem permite que Juliana dialogue diretamente com o público e ajuste a sua performance conforme a resposta da plateia. "Monólogo é uma diferença radical! Diferença de estar sozinha no palco, de ter que resolver tudo no palco. Diferença num camarim solitário, diferença na disciplina. Tenho que ser muito disciplinada em termos de texto, de dormir cedo. Monólogo não é bolinho", brinca a atriz. "Artisticamente, esse monólogo me engrandeceu muito. É uma peça que eu me divirto muito e aprendo muito com ela".
Além do crescimento pessoal, O Prazer é Todo Nosso marca Juliana como um mergulho em uma nova faceta de sua persona artística: a veia cômica. "Sempre me falaram que eu tinha uma veia cômica e que precisava usar isso no meu trabalho. Agora, com esse monólogo, eu trouxe esse lado para o palco. É libertador", confessa.
A comédia, no entanto, não se limita a entreter. Segundo a atriz, a proposta é usar o humor como meio de discussão sobre autonomia e direitos das mulheres. "A gente parte do princípio que, antes de tudo, a peça é um entretenimento. Para as pessoas rirem. Mas a gente dá material para as pessoas pensarem também! E como é uma forma mais livre, mais igualitária, mais feminista de pensar, mas não totalmente igualitária, feminista de pensar — se a gente fosse jogar muito isso na cara, as pessoas não iam embarcar com a gente".
"Através do humor, a gente consegue fazer as pessoas embarcarem com a gente e concordarem com o que a gente está propondo. Porque tudo que falo na peça sempre foi permitido aos homens. Então, é isso que tento mostrar. E se for de uma maneira taxativa, as pessoas não vão querer ouvir. Então, através do humor, é mais fácil fazer as pessoas ouvirem."
Outro ponto essencial na construção do monólogo foi incluir diferentes perfis femininos para ampliar a representatividade no palco. A intérprete explica a decisão: "O mundo não é padronizado, e falar por um tipo específico deixa tudo muito pobre, né? Porque a sociedade é eclética. As pessoas são diferentes. Tem que incluir para todos se reconhecerem", destaca.
Juliana conta, ainda, que sua própria percepção de mundo mudou ao longo do tempo, especialmente ao observar as novas gerações: "Minha filha tem 24 anos. A geração dela entende perfeitamente que todo mundo é diferente mesmo, e que essa é a graça da vida!".
Ainda que a peça tenha forte inspiração autobiográfica, a atriz criou uma personagem para manter um certo distanciamento. "O personagem da peça tem um nome, que se chama Andréia, que não é o meu, então, de alguma maneira, tem um distanciamento. Embora muitas histórias sejam minhas, outras são vivências de amigas", explica.
A guinada que rendeu o nascimento de O Prazer é Todo Nosso veio com as vivências acumuladas por Juliana após o fim do casamento de 19 anos: a união durou dos 20 aos 39 anos, e, depois da separação, a artista buscou viver intensamente sua liberdade sexual.
A ideia do monólogo surgiu ainda na pandemia, quando ela começou a gravar relatos de suas experiências. Antes de colocar os planos em andamento, a atriz contava as histórias para amigos, que a incentivaram a encantar um público maior: "Comecei a contar essas histórias para amigos e eles riam, se impressionavam. Fui guardando tudo e percebi que isso dava uma peça", relembra.
Mesmo sem arrependimentos sobre seu caminho até aqui, ela reconhece que gostaria de ter vivido a experiência de morar sozinha antes de se casar. "Comecei a namorar aos 20 anos e fomos casados até meus 39 anos. Eu não me arrependi, até porque acho que a vida não tem um script. Acho que para minha história foi ótimo, mas morar sozinha antes de casar é uma coisa legal", pontua.
Com uma carreira consolidada, a estrela segue aberta a novos formatos e desafios, mas sem pressa. "Quero levar a peça para mais cidades, talvez até para Portugal e Espanha. E quem sabe transformar essa história em uma série ou filme? O público pede muito isso!".
Falar sobre liberdade feminina, segundo a intérprete, é essencial — e a comédia é um dos meios mais poderosos para abrir esse diálogo. "Já avançamos muito, mas a estrada é longa. Enquanto houver tabu e desigualdade, temos que continuar falando, rindo e refletindo", conclui.
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