Em entrevista à CARAS Brasil, Igor Angelkorte fala sobre alta procura para últimas apresentações da peça Sidarta e ressalta importância do teatro
Dono de papéis marcantes da Globo, Igor Angelkorte(36) se tornou assunto nesta semana ao desabafar sobre ter apresentado o espetáculo Sidarta para um público de 12 pessoas. O que ele não esperava era que, após o vídeo se tornar viral, a divulgação da peça cresceria e as últimas sessões receberiam uma alta procura.
"Tive centenas de compartilhamos. Nunca fui tão divulgado na minha vida, estou me sentindo reconhecido. Acabou sendo um ponto de virada", diz Igor Angelkorte, à CARAS Brasil. "Deu um novo fôlego imenso, me sinto cheio de confiança e muito grato à vida que, por caminhos surpreendentes, prega peças em nós."
O artista comanda a quinta temporada do espetáculo no Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro —antes, ele se apresentou duas vezes na capital carioca e outras duas na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Agora, as apresentações acontecem de quinta à sábado, às 19h, e aos domingos, às 20h.
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"A temporada agora que está chegando ao fim, está super procurada. As pessoas estão compartilhando muito o trabalho e tomaram para si como uma valorização importante da arte e do Teatro Ipanema, um teatro municipal que precisa ser visto", completa ele, citando o local que foi reaberto este ano.
Apesar disso, Angelkorte reforça que, independente do número de pessoas na plateia, ele continuava seu ofício carregado de humildade e amor. Para ele, o ato de estar no palco o traz autoconhecimento e também funciona como uma espécie de oração.
"Posso até me frustrar de ter pouca gente, mas, isso é muito pequeno perto do amor que eu sinto pelo meu ofício. Mesmo que tenham 12 pessoas, uma, ninguém ou 100 mil, existe a prática para mim. Isso me traz doçura, serenidade". Abaixo, Igor Angelkorte fala sobre a falta de divulgação da arte, reforça a importância do teatro e comenta ataques que recebeu. Confira trechos editados da conversa.
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No vídeo, você comentou que parte disso acontece porque, muitas vezes, é difícil encontrar as peças em cartaz. Para você, como isso poderia ser mudado?
Eu também não sei, mas penso que é importante começarmos a pensar sobre isso. É algo que eu percebo que todo mundo, tanto da classe artística quanto do público, comenta a dificuldade de encontrarmos lugares que unifiquem essa divulgação de uma agenda cultural. Não é a minha área, então daqui, peço ajuda de pessoas especialistas. Talvez a maior das coisas é voltar a ter espaço, tanto nas rádios, nos programas de televisão, nos podcasts. Tem muita gente legal fazendo um trabalho lindo de divulgação, mas a gente perdeu espaço nos últimos tempos. O teatro é importante nesse momento, em um mundo essencialmente intermediado por telas. Essa arte é a arte da presença, um ritual de comunhão, que é efêmero e se dá só com quem está ali experienciando aquilo, é cada vez mais revolucionário e importante para a nossa saúde mental e sensação de pertencimento. A principal coisa é olhar para o teatro com esse amor e resgatá-lo. O teatro sempre renasce. Resgatá-lo é um ato de amor à própria vida.
Qual a importância de continuar com o espetáculo, independente de quantas pessoas estejam na plateia?
É me lembrar que estou à serviço com humildade, com amor. O ato de fazer essa peça é uma oração, uma prática espiritual para mim. Me lembra da importância do momento presente, me conecta com o meu corpo e com a vida, com o aqui e agora. Fazer teatro, para mim, é um lugar de exercício de auto conhecimento e de ser portal para o agora. Quanto mais pessoas estiverem na plateia, mais pessoas vão se beneficiar. Mas, mesmo que tenham 12 pessoas, uma, ninguém ou 100 mil, existe a prática para mim. Isso me traz amor, doçura, serenidade. Quando eu faço a peça, posso até me frustrar de ter pouca gente no público, mas isso é muito pequeno perto do amor que eu sinto por estar fazendo meu ofício. Fazer arte sempre foi um ato de coragem e resistência.
Você recebeu ataques de grupos após o seu desabafo. Como você lidou com isso?
Recebi ataques de muitos grupos que politizaram essa visão e celebraram o que, para eles, seria o fracasso da peça de um artista que não votou no presidente que eles têm preferência. Primeiro fiquei assustado, triste, mas procurei encarar isso como um exercício de me manter em paz independente do que aconteça. A peça fala muito sobre Buda, por exemplo. Me lembro de uma passagem, que não está na peça, mas pertence à lenda do Buda, que ele atravessa uma aldeia e as pessoas o detestam por alguma razão e o expulsam. Quando ele está indo embora, ele agradece àquelas pessoas. E alguém pergunta porque ele está agradecendo e ele explica do exercício que ele faz, que ele se vê como um rio e que as pessoas eram como tochas lançadas ao rio, e quando elas tocam a água, elas apagam. Não alteram a beleza e a profundidade em nada aquele rio. Para mim, foi uma oportunidade de exercitar coisas que há tanto tempo venho praticando, que é me manter com o coração aberto, amoroso e em paz em qualquer circunstância da vida. E até me surpreendi por ter lidado com isso com um certo humor e gratidão, porque, querendo ou não, a peça foi muito divulgada por esses grupos. A procura pela peça aumentou consideravelmente.
Apesar dos ataques, também houve muito apoio e ajuda na divulgação. Isso traz um novo fôlego para esse fim de ano?
Não só essas pessoas divulgaram a peça de maneira direta e indireta, como também houve uma grande reação de pessoas que fazem teatro, trabalham com arte, e do público que ama cultura que falou: 'Peraí! Vocês estão politizando algo que não tem nada a ver, vamos compartilhar essa peça'. Eu tive centenas de compartilhamos. Nunca fui tão divulgado na minha vida, estou me sentindo reconhecido. Acabou sendo um ponto de virada. A temporada agora que está chegando ao fim, está super procurada. As pessoas estão compartilhando muito o trabalho e tomaram para si como uma valorização importante da arte, do Teatro Ipanema, um teatro municipal que precisa ser visto e valorizado. Trabalho de formação de plateia. Não temos essa cultura no Brasil ainda, mas estamos virando isso. As pessoas se sentirem no direito de ir ao teatro, confortáveis e pertencentes a esse espaço. A porcentagem da população que já foi assistir peças é ainda pequena. Mas, com fé e com amor, espero que essa procura seja crescente. Deu um novo fôlego imenso, me sinto cheio de confiança e muito grato à vida que, por caminhos surpreendentes prega umas peças em nós. Estamos aí, firmes e fortes.
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