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Teatro / ENTREVISTA

Lola Fanucchi avalia adaptação de Rocky para musical: 'Outro ponto de vista'

Em entrevista à CARAS Brasil, a atriz Lola Fanucchi relembra mudança de carreira e fala sobre viver a protagonista Adrian em musical de Rocky Balboa

Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin
por Bárbara Aguiar, sob a supervisão de Arthur Pazin
bvieira@perfilbr.com.br

Publicado em 15/04/2025, às 11h30 - Atualizado em 23/04/2025, às 17h51

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Lola Fanucchi em ensaio inspirado em Rocky - Divulgação/Stephan Solon
Lola Fanucchi em ensaio inspirado em Rocky - Divulgação/Stephan Solon

Lola Fanucchi (39) está em cartaz como Adrian, par romântico de Rocky Balboa na adaptação musical do filme de 1976 protagonizado por Sylvester Stallone (78). Ao lado de Daniel Haidar (25), intérprete de Rocky, a atriz assume o papel até o dia 18 de maio, quando o espetáculo chega ao fim em São Paulo. Em entrevista à CARAS Brasil, Lola avalia adaptação da obra cinematográfica para musical: "Outro ponto de vista", declara.

Reconexão com um clássico

No palco, Lola Fanucchi vive Adrian, personagem icônica da franquia Rocky, agora revisitada no musical brasileiro que adapta o longa de 1976. Para a atriz, relembrar essa história tão conhecida pelo público traz uma camada a mais de desafio — e de prazer. “Mexer nesse território da memória afetiva do público com um filme tão clássico é realmente um desafio, mas não necessariamente ruim”, destaca Lola, que também tinha suas próprias lembranças da obra original estrelada por Sylvester Stallone.

Ao mergulhar na versão teatral, a artista se deparou com uma liberdade criativa que a encantou. “Nos debruçamos muito no estudo do texto da peça, no desenvolvimento de uma linguagem teatral funcional e original que, inclusive, deixa espaço para o público preencher alguns pontos com suas próprias memórias”, explica. A nova versão, segundo ela, não busca competir com o filme, mas sim apresentar “outro ponto de vista” da história, com mais nuances emocionais e espaço para introspecção.

Essa abordagem mais subjetiva permitiu que Lola se conectasse com Adrian de forma íntima. “É uma personagem que mistura delicadeza com resiliência”, define. “Parando para pensar, é emblemático mesmo que tenha chegado na minha vida após um ano que realmente me pediu essas características”, conta ela, refletindo sobre os paralelos entre a própria trajetória e a da personagem que enfrenta seus traumas em silêncio até encontrar força para se transformar.

Complexidade feminina nos palcos

Antes de Adrian, Lola já deu vida a outras personagens marcantes, como Mocinha em As Cangaceiras e Iara Iavelberg em Codinome Daniel. Olhando para trás, ela reconhece um fio condutor entre essas figuras femininas intensas, embora garanta que não tenha sido algo premeditado. “Eu gostaria de dizer que foi tudo premeditado, minha estratégia de carreira e escolha, mas não foi”, confessa. Ainda assim, sente orgulho por ter sido escolhida para papéis com tanto significado. “Sou apaixonada pelas personagens que tive a honra de viver. Apaixonada mesmo".

Lola reconhece que, no universo do teatro, as oportunidades vêm com uma combinação de esforço e sorte. “Não foram só ‘escolhas pessoais’ porque é um meio muito disputado. Temos várias atrizes brilhantes, fazemos muitos testes... Então, também existe aí uma parcela de sorte que gosto de salientar”. Mesmo assim, ela revela buscar sempre histórias que a desafiem artística e emocionalmente: “Eu me interesso muito por essas mulheres que trazem complexidades, vulnerabilidades e reflexões tão reais e humanas".

Para a atriz, esse tipo de personagem reverbera com profundidade no público, e isso reforça seu propósito na arte. “Acho que são histórias que me tocam e que talvez toquem também o espectador de um jeito mais profundo”, afirma. E completa, com carinho: “Torço para que elas continuem me escolhendo como intérprete nesse encontro meio mágico de ator e personagem".

Entre o boxe e a poesia

Apesar do universo de Rocky girar em torno do boxe, Lola admite que não tinha qualquer vínculo com o esporte antes da peça. “Sendo honesta, não é um esporte que eu acompanhava até antes da peça. Agora, obviamente, por todo trabalho desenvolvido nos ensaios, estou entendendo um pouco melhor, porque também já vi o Daniel [Haidar] apanhar muito”, brinca a atriz, referindo-se ao colega de cena que interpreta Rocky Balboa.

Curiosamente, essa distância com o boxe acabou servindo como elemento dramático para a construção da personagem. “Ela rejeita muito esse universo, né? Ironicamente, é o boxe que a afasta por muito tempo do Rocky”, pontua Lola. Essa rejeição não vem do nada: para Adrian, a agressividade está associada a traumas passados, e isso cria uma tensão interna poderosa. “Ela não se interessa por nada que remeta à agressividade. Então posso dizer que o boxe me ajudou muito na construção dela, mas num lugar de receio e temor".

Entrega para criação

Mesmo que Adrian não tenha uma habilidade técnica específica, como a dançarina Muna de Órfãos da Terra (2019), Lola mergulhou em novas experiências físicas para compor sua personagem. “Ela adora patinação no gelo. No filme mesmo, o primeiro encontro dela com o Rocky é num ringue de patinação. Temos essa cena no musical de uma forma bem mais teatral. Como eu nunca tinha patinado no gelo, resolvi me aventurar e experimentar".

A tentativa rendeu mais do que apenas uma pesquisa corporal: foi um mergulho nas inseguranças e fragilidades de Adrian. “Foi muito produtivo para ver exatamente como o corpo desequilibra, que movimentos utilizar para a criação da nossa cena, até porque nem eu e nem Adrian patinamos bem”, relembra. Para Lola, esse tipo de laboratório amplia a conexão com a personagem e expande seu repertório artístico.

Desejo de rir mais

Mesmo após um ano pessoalmente desafiador, Lola reconhece com gratidão o presente que foi Adrian. “Tenho muito orgulho de honrar todos os dias a história dela no palco, pois leva uma mensagem muito poderosa de que, independente das dificuldades que vivemos no passado, podemos escolher transformar nosso futuro”, afirma. A personagem, que mistura doçura e firmeza, veio em um momento simbólico: “Foi um ano que realmente me pediu essas características”, revela.

Com olhos voltados para o futuro, Lola não se prende a grandes expectativas de papéis específicos, mas deixa espaço para desejos criativos. “Eu não tenho muito essa coisa de sonhos específicos com uma personagem. Até porque acho que, se tivesse, eu ia ficar tão nervosa no teste que não ia dar certo”, brinca. Ainda assim, um gênero em especial a chama: a comédia. “Adoraria criar nesse campo, talvez numa obra aberta como uma novela, porque a resposta do público é sempre muito imediata".

A atriz acredita que esse retorno rápido do público pode ser libertador — e quer viver essa energia em cena. “Deve ser um trabalho muito prazeroso e, como ainda não experimentei, definitivamente está na lista dos sonhos", conclui.

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