Vozes engajadas ganham apoio popular para última edição
Durante 11 dias no final de 2019, o Rio de Janeiro “respirou” cinema. O tradicional Festival do Rio exibiu mais de 100 filmes internacionais e outros 91 brasileiros em 15 cinemas do Rio e Niterói. Protagonista da novela Amor de Mãe, onde vive Lurdes, Regina Casé (65) levou o troféu de Melhor Atriz por sua interpretação no longa Três Verões, de Sandra Kogut (54). Orgulhosa, ela subiu ao palco com o caçula, Roque (6). “O Roque aguentou acordado e fiquei muito feliz de ele ter visto tantos atores, roteiristas e diretores negros no palco e na tela. Isso, há dez anos, não seria possível e é muito legal vê-lo tão bem representado por vocês que foram premiados hoje. Agradeço por terem se esforçado tanto para estarem aqui. Dedico esse prêmio a toda minha família”, disse Regina.
Fabrício Boliveira (37) foi eleito Melhor Ator por Breve Miragem de Sol, de Eryk Rocha (41), e Bruna Linzmeyer (27) foi escolhida para o prêmio Suzy Capó de Personalidade do Ano. “Esse prêmio não é só meu. Quero dividi-lo com todas as mulheres que amei, com as que tive a oportunidade de viver esse amor e as que não tive. Com mulheres que se amam, que vieram antes de mim, as que ainda estão no armário, as que não podem sair, as que ainda não se descobriram... O futuro não será feito sem a gente”, discursou ela.
O longa Tinta Bruta, de Filipe Matzembacher (31) e Marcio Reolon (35), foi o grande vencedor da noite com quatro prêmios: Longa Ficção, Melhor Ator para Shico Menegat, Melhor Ator Coadjuvante para Bruno Fernandes e Melhor Roteiro. Torre das Donzelas, de Susanna Lira (44) levou o Troféu Redentor de Melhor Documentário.
Dessa vez, o Festival do Rio precisou contar com o apoio da população para que o evento se concretizasse. Por conta da perda dos principais patrocinadores estatais, o evento só chegou à sua 21ª edição graças a uma campanha de arrecadação coletiva feita na internet, onde conseguiram 620.000 reais, e o apoio de empresas privadas. Desde a noite de abertura, no tradicional Cine Odeon, centro da cidade, até o encerramento, no Museu do Amanhã, resistência foi a palavra mais ouvida. Com um vestido estampado com cartazes de alguns dos maiores sucessos do cinema nacional, a apresentadora Mariana Ximenes (38) descreveu o sentimento dos profissionais do ramo. “O cinema brasileiro nunca esteve tão forte. Ao mesmo tempo, nunca estivemos tão ameaçados, em tempos tão obscuros. Este é um momento de resistência.” O ator Chico Díaz (60) completou: “O cinema brasileiro é muito rico. Tão rico quanto o próprio povo deste País. Estávamos preocupados com a possibilidade de não realização do festival, mas muitas pessoas se mobilizaram para ajudar e a situação se reverteu. Fico muito feliz”.
Uma das diretoras do evento, Ilda Santiago (53) explicou o processo para conseguir colocar tantos filmes nas telas da cidade. “Sim, por muito pouco o festival não foi realizado em 2019. Foi, ao mesmo tempo, muito difícil e muito diferente porque, mais que nunca, precisamos receber, precisamos de ajuda e precisamos ser procurados. E foi emocionante ver todo o apoio que recebemos.”