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Quem tem algo difícil para dizer não deve excluir o outro dessa reflexão

Alberto Lima Publicado em 06/05/2014, às 19h06 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Quando um membro do casal tem algo a dizer e se organiza para fazê-lo, o momento pode lhe parecer bem escolhido e ele, bem preparado para a comunicação. Isso não garante, no entanto, que o momento seja oportuno — nem que o conteúdo seja facilmente assimilável — para o interlocutor. Uma comunicação difícil de ser feita, mas que finalmente se efetiva, em geral é fruto de um processo de elaboração empreendido por quem fala, é o desenlace de uma reflexão. Mas essa pessoa precisará compreender que, para o ouvinte, aquele comunicado é o primeiro passo de um processo que ainda precisará ser desenvolvido, refletido, elaborado.

Indagado sobre o motivo pelo qual ainda não expressou o que tem a dizer, o emissor da mensagem não raro alega que “não quer magoar” a outra pessoa, ou tem medo de que seu par “receba mal” o  que ouviria. Na tentativa de contornar essassupostas dificuldades, a pessoa se dedica muito à construção de sua fala, na tentativa de “acertar”, ou na tentativa de “errar menos”. Acaba refletindo muito sobre o assunto, graças ao tempo de dedicação à elaboração do comunicado e ao processo de preparar-se (psicológica ou emocionalmente) para fazê-lo. A fantasia (ou a esperança) é a de maximizar a possibilidade de ser bem-sucedido, o que significa “ser bem recebido”, “fazer-se compreender”, “conquistar a aceitação da parte do outro”, e assim por diante.

Mas essa reflexão é solitária. Exclui o outro, impedido-o de participar ativamente do processamento de um tema que, na maior parte das vezes, lhe diz respeito. Quando a comunicação é feita, chega para o outro como um “pacote pronto” e, não raro, de grande porte, com profundas e sérias implicações.

Pode magoar — não simplesmente em razão do conteúdo, mas pela forma como foi veiculada; isto é, equivale a um golpe, um ataque, por pegar de surpresa, “pelas costas”. Pode ser mal recebida não por ser ruim ou  indevida, mas por ser intensa, fechada, coesa; por não deixar brechas; por excluir; por não ser dialógica, enfim, coisas que causam desagrado, zonzeira. O chão parece desaparecer.

O importante está nisto: o que é o ponto de chegada para quem faz a comunicação é ponto de partida para quem a recebe. O comunicador talvez se sinta muito potente, mas, sem que queira ou saiba, pode tornar impotente seu interlocutor. Desenha-se aí mais um ato de poder do que de amor.

Melhor seria se o processamento do conflito fosse feito em conjunto pelos parceiros desde o primeiro momento. Cresceriam juntos, construiriam sua compreensão dos fatos de modo articulado, dialógico. Contribuiriam para o amadurecimento das questões que os mantêm ocupados. Abordariam dificuldades e conflitos como se deve, numa perspectiva relacional.

Essa modalidade mais fraterna e mais democrática de relação é compatível com a condição adulta, madura. É mais justa. Baseia-se na confiança, um quesito que delibera sobre a saúde em um relacionamento, em especial aquele que se qualifica como amoroso. Qualquer outro arranjo (menos democrático, apoiado em desconfiança ou não confiança, temeroso,  manipulador, estrategista) costuma ser indício de que o medo — não o amor — é que faz a mediação do relacionamento.