Em entrevista à Revista CARAS, Natascha Falcão analisa carreira artística e abre o coração ao falar sobre maternidade
Um dia Natascha Falcão (35) chegou a pensar que não havia espaço para ela. Hoje, munida de seu talento, a artista transita entre diferentes artes. Só na trama global das 6, No Rancho Fundo, ela atua, dança e ainda canta na abertura ao lado de ninguém menos que Elba Ramalho (72). São muitas conquistas de uma só vez para essa nordestina que, ao lado do filho, Zion (16), deixou Pernambuco para estudar e tentar a carreira no Rio de Janeiro.
“Isso é uma esperança não só para mim, mas para todos que, como eu, são artistas independentes, lutam, não têm dinheiro, não têm sobrenome, isso é muito importante”, afirma ela, em conversa exclusiva com CARAS na Casa Samambaia, no Rio.
– Atuar, dançar e cantar em uma novela ambientada no Nordeste é representativo..
– É um presente triplo e que se multiplica nos encontros com as pessoas que estão fazendo a novela. O fato de cantar a abertura com a Elba Ramalho é bem grandioso, além de ter uma música do meu álbum na trilha sonora! Minha personagem é deliciosa, me identifico com ela. Representa muitas mulheres, principalmente as nordestinas. É a realização de muitos sonhos ao mesmo tempo
– Tem muitos atores nordestinos no elenco!
– Mais de 50% do elenco é nordestino e isso é importante! É muito bonito que a gente esteja mostrando uma pernambucana, uma alagoana, um paraibano. Nordeste não é um só, são vários sotaques, vários ritmos, sonoridades, culturas, mas a gente se une nesse lugar de orgulho das nossas raízes. Que bom que o Nordeste está sendo mostrado para além da ludicidade, para além dos estereótipos
– Como começou na arte?
– O meu sonho de criança era ser atriz e cantora, porque eu cresci assistindo ao cinema e musicais
antigos; fui criada pela minha avó e assistia com ela. Acho que estou realizando um sonho de várias
gerações, porque minha avó contava que ficava no banquinho, em Belo Jardim, balançando as
perninhas e dizendo para o irmão dela: “Um dia eu vou pra Hollywood!”. Não é Hollywood, mas é a TV Globo, é um lugar muito especial para a gente que cresceu vendo novela. Então, é um sonho de criança fazer o que faço hoje.
– O que veio primeiro, a música ou a atuação?
– Comecei no teatro e de 2015 para cá sou mais cantora. Mas a minha escola é o teatro, foi lá que eu aprendi a respirar; me formei em dança na escola Angel Vianna e sempre fiz balé, então é fluido, as coisas se confundem muito.
– No ano passado, você foi a única brasileira indicada na categoria melhor artista revelação no Grammy Latino. Qual foi a sensação?
– Foi uma loucura, foi surreal quando descobri. Uma artista independente, nordestina, sem padrinho e sem sobrenome. Ninguém veio abrindo as portas para mim, nem me mostrando o caminho, eu fui construindo com garra, perseverança, tudo no instinto.
– Como foi se mudar sozinha e com uma criança para o Rio para lutar por sua carreira?
– Foi uma ousadia, uma loucura. Na época, eu tinha contatos aqui e já estava querendo estudar na Angel Vianna, que me abriu horizontes, porque é uma escola de dança, tinha pessoas do teatro, da
música, do cinema, da TV. Fui morar em Santa Teresa e conheci os vizinhos, me senti acolhida. Mas,
ao mesmo tempo, foi bem difícil, porque não é fácil conciliar cuidar de uma criança e seguir atrás dos sonhos. Foi bem puxado, mas não me arrependo de nada.
– Seu filho te apoiou?
– Meu filho sempre me deu força, ele é perfeito, é muito parceiro. Agora ele já está enorme, já fica sozinho em casa, mas ainda sinto um pouquinho de culpa. Mãe é fogo! Outro dia estávamos almoçando com o pessoal da novela e perguntaram para ele como é ter uma mãe popstar. E ele disse: “É legal, mas ela fica muito tempo fora de casa”. Aí eu fiquei: “Meu filho, mas eu te levo para onde for e faço tudo por você!”. Quero muito que ele tenha orgulho de mim e quero oferecer para ele tudo nesse mundo, quero ajudá-lo a realizar seus sonhos, para que a realização do sonho dele não seja tão solitária quanto foi para mim.
– As pessoas se surpreendem quando sabem a idade dele?
– Todo mundo fica chocado, fui mãe cedo. Um dos meus sonhos sempre foi ser mãe, me sentia muito só e, quando descobri que estava grávida, pensei: ‘nunca mais vou estar só!’ Para o bom e para o ruim, né? Porque realmente nunca mais fiquei só. Ele é minha obra de arte, é a coisa mais linda do mundo. Vê-lo sorrir é tudo pra mim.
– Depois de tanta luta, você está na novela, acabou de lançar um EP. Está realizada?
– Me sinto feliz de estar conseguindo realizar meus sonhos, de ter construído isso, fruto de esforço, trabalho, persistência, convicção e fé. E também porque não sei viver de outro jeito. Trabalhei com várias coisas para me sustentar. Eu era hostess em um hotel e, na hora do meu almoço, eu ia me trocando no mototáxi para fazer show. Por isso sou grata ao Allan Fiterman – diretor artístico da novela pelo espaço.
- Ele me viu inteira e é importante ver que tem espaço para mim. Quando fui indicada ao Grammy Latino também senti isso, é tão grandioso perceber que tem espaço. Eu achava que não tinha, eu me sentia superinadequada e, de repente, tem espaço para mim, para o que eu acredito, para a minha voz, para o meu sotaque, para o meu corpo, a minha cara, tem espaço para tudo que eu sou. É aquela coisa: um céu tão grande tem espaço para toda estrela brilhar. Que bom, graças a Deus!