Em Campinas, Luciano Szafir conta sobre seu novo programa de TV e também revela como está se sentindo após internações: 'Você muda a maneira de encarar a vida'
Após uma experiência de quase morte, devido a complicações da covid-19, o ator e apresentador Luciano Szafir (53) vive uma nova fase pessoal e profissional. Em seu confortável lar em Campinas, interior de SP, o artista mora ao lado da mulher, a cantora Luhanna Melloni (38), e dos filhos Mikael (7) e David (8), e grava seu programa, o Casa Szafir, exibido pela VTV, emissora filiada do SBT. O clã ainda pode ser visto no reality show Os Szafirs, transmitido pelo canal E!.
Pai também da estilista e modelo Sasha Meneghel (23), recentemente, o paulista retirou a bolsa de colostomia que usou durante dez meses e ainda passou por um susto, ao ser internado com um quadro de suboclusão intestinal. Já recuperado e cheio de energia, ele retoma as filmagens da atração e planeja voltar ao teatro ainda neste ano.
– É a primeira vez que você tem um programa para chamar de seu. Era um desejo antigo?
– Eu já apresentei alguns programas por um dia, Você Decide apresentei também, mas são propostas totalmente diferentes do Casa Szafir. Não sei se eu tinha esse desejo, não, é uma coisa que foi surgindo. Após a pandemia eu queria sair do Rio e, depois que tive covid-19, eu queria ter mais qualidade de vida, queria ficar perto da minha mãe e da minha filha, da minha família. Só não queria morar em São Paulo, capital, pensei em Campinas e a partir daí que surgiu a ideia do programa.
– Como tem sido estar do outro lado agora, entrevistando as pessoas, fazendo as perguntas?
– Gravar o Casa Szafir tem sido muito prazeroso, estou com sorte com os convidados. Está sendo delicioso, porque eu sou uma pessoa muito curiosa. Existe um roteiro feito pra mim, mas confesso que eu presto tanta atenção no que a pessoa está me falando que, por diversas vezes, saio do roteiro, devido a uma curiosidade minha e que eu acredito que seria a do público também. Você entrevistar é saber sobre o convidado, é deixá-lo à vontade, é ser curioso, criar novas perguntas.
– Desafios assim te movem?
– Desafios me movem o tempo todo. Existe um livro que fala sobre longevidade, que explica que a partir de certa idade a gente deve fazer novas atividades. Não que você precise largar as outras, mas eu sempre gosto de coisa nova. E não fico só no programa, estou trabalhando com diversas outras empresas também.
– Abandonar a atuação então não é uma possibilidade, né?
– Eu jamais vou parar de atuar. Não vejo a hora de pisar no palco de novo, escutar o terceiro sinal. Fora o cinema também, tenho dois ou três projetos já e fui convidado para um quarto. Mas só vou fazer isso depois que eu melhorar a perna. Pretendo fazer uma cirurgia para botar uma prótese no quadril e, a partir daí, vou ter uma movimentação livre. Então acredito que, até o final do ano, eu esteja nos palcos.
– Recentemente você ficou internado. Teve medo de passar por tudo novamente?
– Um pouco de medo sempre dá quando você é internado novamente, mas são coisas que tenho que passar. Então me dou uns 5, 10 minutos de choro, de tristeza, depois levanto a cabeça e falo: “Vambora, tem que fazer!”.
– Passar por uma experiência de quase morte te fez encarar a vida de uma outra maneira?
– Eu acho que você muda a maneira de encarar a vida, todos os princípios mudam, seu tempo muda, o dizer “não” acontece com muito mais frequência. Quando você sabe que está falando aqui e agora e não sabe como vai estar daqui a 15 minutos, você procura estar cem por cento. Assim eu sou no meu dia a dia, procuro estar completo com minha família, e não pensando em outras coisas. Procuro ensiná-los tudo que eu sei, procuro escutar mais. Você não vira nenhuma Madre Teresa de Calcutá, um Gandhi, eu também me irrito, fico nervoso, porém eu prefiro entender o outro lado e julgamento zero. Eu olho mais para a minha vida e para a de todo mundo ao mesmo tempo. Você fica com muita compaixão.
– O que aprendeu com tudo isso que passou?
– Eu aprendi com tudo isso que, literalmente, nós não somos nada. A gente está aqui hoje e vai embora amanhã e a única coisa que vai ficar é o que a gente fez de bom para o outro, é o amor que você recebeu e o amor que você deixou, porque o resto... A gente não é dono de nada, a gente não tem absolutamente nada. A sociedade determinou o sucesso da pessoa pelos seus bens e que, por exemplo, um idoso já é descartável. Muito pelo contrário, o idoso é uma peça de extremo valor, que tem toda uma sabedoria. A gente tem que olhar tanto a parte física quanto a mental e, infelizmente, a sociedade olha só a física.
– E hoje você está bem? Sofre alguma sequela?
– Eu não estou bem, não. Estou maravilhoso, ótimo! Sequelas? Claro que sim. Dores? Claro que sim! Mas estou aqui, então eu estou ótimo!
– Sente que virou uma inspiração para as pessoas também?
– Particularmente eu não me sinto uma inspiração, mas eu sei que eu já ouvi de muitas pessoas que eu sou uma inspiração para elas. A única coisa que eu fiz foi lutar pela minha vida até onde eu podia, o que estava ao meu alcance eu fiz. E, sim, as coisas que eu fiz, como por exemplo o desfile no São Paulo Fashion Week com a bolsa de colostomia, foi porque eu senti que eu precisava quebrar esse tabu, que pessoas precisavam perder o preconceito. Mas não me sinto nada especial ou que seja uma pessoa diferente, acho que para isso eu tenho que fazer muita coisa. Espero que eu consiga ainda.
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Fotos: Rodrigo Marconatto
Stylist: Myrna Seguel
Make: Fabíola Margiotto
Cabelo: Guilherme Kadima
Agradecimentos: EMS Produções, Claudia Desti e Lucia Freitas