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Revista CARAS: Veja a etimologia da semana

Deonísio da Silva Publicado em 17/12/2013, às 20h45 - Atualizado em 10/05/2019, às 11h20

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Amálgama: do Árabe al-madjma, fusão, pelo Latim algamala, algamana, almagala, consolidando-se no Português amálgama. Nossos primeiros dicionários acentuaram de forma diferente. O padre Raphael Bluteau (?-1734) não pôs acento algum e Antonio Morais da Silva (1757-1824) pôs o acento no penúltimo “a”, pois deve ter ouvido “amalgáma”. Quem trouxe a palavra do Árabe para o Latim foram os alquimistas, com o fim de designar um dos processos de suas pesquisas para produzir ouro. Atualmente, amálgama é a designação genérica das ligas que contêm mercúrio, aplicada também a outros metais. Amálgama é o mais recente livro de contos do escritor brasileiro Rubem Fonseca (88), sem que uma só das narrativas tenha este título, dando um recado, entretanto, ao leitor, de que algo une todas as histórias. Por coincidência, no conto Borboletas ele diz: “Não sei se já disse que tenho muitas enciclopédias e dicionários. Tenho dicionários antigos e modernos, tenho o Moraes, o de 1789, tenho até um Bluteau, de 1728, vocês acreditam? Na verdade, baixei o Moraes e o Bluteau na internet, eu não teria dinheiro para comprá-los. Vão me perguntar por que, tendo acesso à internet, eu consulto enciclopédias. Muito simples: gosto de ler palavras impressas no papel.”

Cadeia: do Latim catena, cujo étimo está presente também em cadeado, encadear e concatenar. Mas na linguagem popular designa em especial o cárcere. Indicando fatos ou fenômenos que ocorrem sucessivamente, temos cadeia alimentar (modo como nos ecossistemas as espécies devoram umas às outras para se alimentar), cadeia de montanhas (conjunto de grandes montes), cadeia evolutiva (que ocorre, por exemplo, nas palavras que, partindo de um étimo, evoluíram de um significado para outro) e puxar cadeia (o tempo que o condenado passa preso).

Hércules: do Grego Heraklês, pelo Latim Hercules, semideus, famoso pela força descomunal, designando homem valente, de força extraordinária. Dá nome também a um avião, o Hércules C-130.

Logomarca: dos compostos gregos logo, de lógos, definição, linguagem, presente em lógica, e marca, do Germânico marka, limite, fronteira, pelo Latim tardio marca, conexo com o Latim margo, borda, margem, que tomou também o sentido de sinal, traço. Designa representação gráfica, com imagem e letras, ou somente imagem, ou somente letras, de determinada empresa, ideia ou doutrina que se quer anunciar. O escritor mineiro Frei Betto (69), no livro Fome de Deus: Fé e Espiritualidade no Mundo Atual, diz que a cruz é, “segundo publicitários, a mais simples e genial logomarca já criada: dois pedaços de pau cruzados ou apenas dois riscos perpendiculares gravados na parede, ou ainda dois dedos colados, um na vertical, outro no horizontal”.

Pensar: do Latim tardio pensare, que mudou de sentido. Consolidouse no Português com muitos significados, como o de refletir, cismar, raciocinar. No Latim clássico, pensare era pesar, ponderar, meditar, ligado a pendere. Pode ter havido mistura com cogitare, forma culta de designar a mesma coisa, ligando-se, por sua vez, a putare, calcular, como se comprova em palavras do mesmo étimo, como computar e computador. Há no Francês panser, com a variante penser, cuidar. A escritora carioca Paula Parisot (34), que se notabilizou por fazer performances sobre seus livros, faz com que um de seus personagens dê uma bonita definição de pensar em seu livro Partir: “Quando posso, tiro o dia para pensar. Vou pro bar do Queixada e fico ali sentado, viajando na vida, viajando em mim. Pensar é uma viagem que só se faz sozinho, sem copiloto”.

Surrealismo: do Francês surréalisme, formado de sur, sobre, supra, e réalisme, realismo. Como o adjetivo surreal, designa o que está acima e além da realidade. O escritor francês André Breton (1896-1966) designou surrealismo o movimento literário e artístico que deflagrou em 1924, mas a palavra estava no Francês seis anos antes. No Brasil, o surrealismo está também na História. Por exemplo: Santo Antônio foi tenente-coronel do Exército, recebendo soldos, do período colonial aos tempos republicanos. Foi também vereador em Igarassu, no Grande Recife, desde 1754 até 27 de abril de 2008, quando o cargo do santo, simbólico, mas remunerado com dinheiro público, foi suspenso pelo Ministério Público.