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Revista / ENTREVISTA

Luiza Brunet rompe o silêncio sobre etarismo: 'Nunca me senti tão bem e bonita'

Em entrevista à Revista CARAS, Luiza Brunet fala sobre sua atuação como ativista e as críticas que recebe por defender as mulheres

Revista CARAS Publicado em 11/04/2025, às 11h00

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Luiza Brunet abre o jogo sobre críticas e papel como ativista - Foto: Rodolfo Sanches
Luiza Brunet abre o jogo sobre críticas e papel como ativista - Foto: Rodolfo Sanches

Seja como um símbolo de beleza e estilo ou como exemplo de empoderamento e resiliência, por onde passa, Luiza Brunet deixa sua marca. Aos 62 anos, a estrela usa a força e o alcance de sua imagem — que conquistou o mundo da moda nos anos 1980 e 1990 — para ajudar a combater um mal crônico da sociedade: a violência doméstica. “De certa forma, sempre fui uma mulher à frente do tempo. Sempre que assistia ou sofria abusos, me posicionava, mesmo sem ter conhecimento da causa. Reagia aos maus-tratos contra mim ou pessoas que nem conhecia. Eu me apoderei dessa pauta e sei que sou ouvida, que tenho voz e que sou a voz de tantas que estão na obscuridade e sem falar por medo”, afirma ela, cuja fala é carregada de vivência e experiências próprias. “Sei exatamente o que uma vítima sofre ou sofreu. Conheci vários tipos de violência e violação, mas sei que é possível transformar a dor em um novo recomeço”, garante a ativista, durante papo exclusivo com CARAS, em Nova York, onde participou de evento ligado ao tema a convite da ONU. De lá, ela reorganizou as malas e partiu rumo à Europa para dar palestras na Itália, Eslovênia, Inglaterra, Bélgica e Luxemburgo. “A grande missão é conscientizar mulheres sobre a gravidade da violência de gênero. Uma violação crônica a que a sociedade feminina está exposta”, alerta.

– Nas palestras, quais mensagens leva para as mulheres?

– Eu começo compartilhando minha própria história de violência e violações. Eu conto sobre meu ativismo e como me preparei para seguir firme. Falo sobre a lei Maria da Penha e seus pilares. A importância da denúncia e de ter tratamento psicológico para compreensão e para diminuir a ansiedade no processo. Falo de autoestima, autonomia financeira, saúde da mulher, políticas públicas favoráveis e relações abusivas.

– Podemos dizer que a violência doméstica é universal?

– A violência é um mal que acomete mulheres de todo o planeta. Na verdade, mulheres e meninas. Como sociedade civil, precisamos nos colocar à disposição para minimizar este grave problema e dar apoio e acolhimento.

– Como ativista, como vê o Brasil hoje nessa questão? Ainda há muito para se conquistar?

– Estamos à frente por conta das leis de proteção e prevenção, mas o machismo ainda impera e mulheres são agredidas todos os dias. Muitas vão a óbito, são mortas por companheiros, maridos ou namorados. Os números de feminicídio crescem vertiginosamente.

– Qual o primeiro passo que a mulher que enfrenta esse tipo de situação precisa dar?

– Precisa ter coragem e força. Não é fácil enfrentar um processo judicial sem sofrer. Eu mesma passei por isso e jamais desisti de lutar pelos meus direitos. Temos a Justiça do nosso lado. Não há o que temer.

– Em alguns casos, as mulheres são descreditadas diante do problema. Isso, de certa forma, atrapalha no processo de barrar a violência?

– Um dos fatores que fazem a mulher desistir é a revitimização da vítima ou a violência institucional. Quando ela vai fazer a denúncia, a pergunta sempre é: o que você fez? Uma forma cruel de tratar a vítima de violência doméstica ou qualquer outra violação.

– Durante sua carreira, você inspirou muitas mulheres por sua beleza e estilo. Hoje, também inspira pela força e empoderamento. Qual o tamanho dessa responsabilidade?

– Fico orgulhosa de ter sido uma referência ainda como modelo. Hoje, como mulher e ativista, sei que abracei uma causa importante no Brasil e estendi a outros países. Falo para mulheres brasileiras que vivem no Brasil, mas falo também para brasileiras imigrantes.

– Aliás, o que é empoderamento para você?

– Nascemos empoderadas, mas somos oprimidas o tempo todo. Mulheres precisam acreditar na sua força, porque somos fortes, resistentes e poderosas. E não queremos lutar contra os homens, mas sim trazê-los para este debate.

– E como é a troca com elas?

– Aprendo muito, gosto de ouvir as mulheres e ver como elas são importantes nessa transformação. Muitas são coletivos que encontram sua forma única de salvar outras vítimas. Elas são fundamentais na mudança de paradigmas.

– Mesmo fazendo um trabalho tão bonito, há pessoas que criticam? Como lida com isso?

– Hoje, sou reconhecida pelo meu trabalho sério. Falo em lugares importantes no Brasil e no mundo. Não tenho tempo para ler ou me preocupar com críticas. Me preocupo com a construção de uma sociedade mas igualitária e respeitosa. Tenho dois filhos maravilhosos e desejo que os filhos deles possam se orgulhar da avó e possam viver em um mundo mais respeitoso. Assim como todos os jovens que estão e virão a fazer parte dessa transição e transformação.

– Hoje, se fala muito sobre o etarismo. Como é sua relação com o tempo e a idade?

– Nunca me senti tão bem e bonita. Gosto da mulher que me tornei, ela me dá orgulho. A idade é apenas um número. Precisamos focar em encontrar algo mais importante do que apenas a preocupação com a idade.

– Você já foi cobrada por conta da imagem?

– Todas nós somos cobradas por muitas coisas, mas precisamos entender que somos importantes para a sociedade. O julgamento não deveria nos afetar. Precisamos enfrentar de cabeça erguida. E mostrar nosso verdadeiro valor.

– Aos 62 anos, como se sente?

– Eu me sinto plena, atuante, bem resolvida e feliz.

– Na nossa última entrevista, você disse que estava aberta ao amor. Como está o coração?

– Minha dedicação ocupa tempo, porque estudo e trabalho muito. Não estou namorando ninguém, mas não estou sozinha, minha companhia me agrada. Gosto de estar só, gosto de cozinhar para mim, abrir uma garrafa de vinho. Estar sozinha traz reflexões importantes, principalmente na minha idade. Viver intensamente é o que tenho feito, sou privilegiada.

– Você já escreveu muitos capítulos em sua trajetória! O melhor deles ainda está por vir?

– Sim! Na minha trajetória eu reconheço que quebrei muitos obstáculos e paradigmas, mas quero mais que isso. E garanto: o melhor está por vir, sim!

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