Quando, num casal, um dos parceiros diz que não se sente respeitado pelo outro, essa afirmação pode ser recebida como terrivelmente ofensiva, especialmente se, à luz de sua consciência, aquele que é acusado se sente, sim, respeitoso. Por seu lado, o acusador talvez se sinta deitado no berço esplêndido do respeito que acredita ter pelo outro. Mas será que este de fato se sente respeitado? O que quer dizer com “respeito” a pessoa que acusa o outro de não o exercer? Do que sente falta? Qual dentre seus valores não tem sido honrado pela conduta do outro? Será que cada um consegue deixar claro qual é sua necessidade e de que forma, aos seus olhos, ela vem sendo negligenciada pelo outro? Dicionários pessoais não reproduzem o conteúdo de dicionários universais. As definições para os verbetes mais importantes nos relacionamentos (sinceridade, respeito, amor, lealdade, fidelidade, cumplicidade etc.) podem ser tão distintas quanto os indivíduos que se orientam por elas. O ingênuo pressuposto de que o significado dessas palavras deveria ser compartilhado por todos é o fator que muitas vezes torna difíceis os diálogos, impossibilitando ou atrapalhando o intento de se fazer entender. Ou, o que é pior, leva a contendas e ofensas mútuas, difíceis de superar. Desse modo, se ela se sente desrespeitada, é necessário que explicite quais comportamentos veria como respeitosos — afinal, é possível que ele pense diferente e, neste caso, a demanda lhe pareça sem sentido. Em qual de suas expectativas ele a frustra? O que ela espera e não obtém? Ele sabe (isto é, ele já foi informado por ela sobre) o que ela espera dele? O mesmo vale para a situação inversa. Se ele pede respeito e ela tem certeza de que o respeita, “acima de tudo”, o pedido parecerá absurdo. O que será que ela proporciona ao marido, sem que ele reconheça? O que será que ela não proporciona, deixando-o ressentido?
O trabalho clínico com casais em psicoterapia revela uma distinção entre a perspectiva masculina e a feminina, determinando a inclusão de elementos adicionais no exame dessas situações de desencontro: a mulher em geral quer que o homem seja “sensível” (palavra que tem a predileção feminina) para perceber quais são suas necessidades ou desejos, sem que
ela precise explicitá-los; o homem, por sua vez, tem imensa dificuldade de frustrar uma mulher, mas geralmente procura atendê-la naquilo que, para os valores dele, seria gratificador, esquecendo-se de verificar se isso bate com o que ela quer.
A conclusão singela e relevante que se pode tirar dessas divergências é: tanto o homem quanto a mulher precisam se posicionar de forma menos autorreferente um para com o outro, ou seja, a mulher precisa aprender a pedir, dispensando o parceiro da obrigação de adivinhar o que ela deseja; o homem precisa indagar sobre o desejo da mulher, em lugar de pressupor que o que é gratificador para ele também o será para ela. Além disso, é importante a mulher ter olhos para o que recebe, autenticamente, ou o homem se sentirá desanimado e desestimulado a permanecer no relacionamento. Ele, reciprocamente, precisa aprender a alcançar a perspectiva feminina, sob pena de passar a vida ressentido por não ser reconhecido em suas “boas intenções”. Cansada de não ser vista, ela também pode se desanimar.