Em entrevista à Revista CARAS, as atrizes Deborah Evelyn, Suely Franco e Nathalia Dill exaltam a parceria, que se estende para além dos palcos
Três mulheres, três talentos e três diferentes gerações. Esse cenário é protagonizado pelas atrizes Deborah Evelyn (59), Suely Franco (85) e Nathalia Dill (39), que se encontram no palco com a peça Três Mulheres Altas para, juntas, lançarem luz a uma questão comum não somente entre elas, mas com todo o público: a passagem do tempo.
“Embora tenha sido escrita na década de 1990, essa peça é muito atual. Fala de envelhecimento, dos vários tipos de preconceito, homofobia, racismo... camadas tão necessárias de serem faladas e ouvidas hoje em dia. Trazemos tudo isso de uma maneira profunda e bem humorada”, entrega Deborah, referindo-se ao texto do norte-americano Edward Albee (1928-2016).
Em cartaz em São Paulo, o trio prova que a sintonia vai além da construção de suas personagens. Nos bastidores, enquanto cuidam da própria produção, uma troca de experiências e aprendizados sobre
a maturidade, a arte e a vida se estende ao longo de cada ensaio e apresentação. “A nossa convivência
é maravilhosa. Nos apoiamos em todos os sentidos. E a melhor parte é que a gente vê a plateia rir, se emocionar e, no final, ainda recebemos os aplausos. É uma sensação incrível”, descreve Suely.
Entre idas e vindas do Rio de Janeiro, onde grava Dona de Mim, nova novela das 7 da Globo prevista para o final de abril, a atriz entrega que, por conta da trama, precisou equilibrar sua presença nos palcos e vai dividir seu papel no espetáculo com a atriz Ana Rosa (82). “Está um pouco cansativo. Eu tenho 85 anos e, para mim, aeroporto é a pior coisa do mundo. Mas estamos nos ajustando, pois eu não pretendo largar a peça”, avisa ela, animada.
– O que essa montagem significa para cada uma de vocês, como atrizes e mulheres?
Deborah – O texto da peça é realmente incrível. Por ter sido escrito por um homem na década de 1990, se torna ainda mais genial. Não sei se eu estou puxando sardinha para o meu lado, mas minha personagem tem um lugar muito bonito na história. Por estar no meio, entre a mais velha e a mais nova, ela enxerga os 50 anos como o topo. É exatamente o que eu estou vivendo pessoalmente.
Suely – Eu nunca fiz uma peça igual a essa, com essa seriedade e falando sobre assuntos tão vitais ao ser humano. Faço comédia, faço drama... Aqui, não ficamos só em um gênero e ainda abordamos esse tema tão valioso.
Nathalia – Falar sobre a passagem do tempo é algo universal, independentemente da idade que você esteja. Para mim, os questionamentos da minha personagem correspondem muito aos meus pessoais. Essa peça traz um recorte valioso para todo mundo e isso é o mais importante para mim enquanto
atriz.
–O envelhecimento é, muitas vezes, retratado de forma negativa na sociedade. Como vocês enxergam essa temática?
Suely – Confesso que eu nunca pensei nisso. Embora eu seja a mais velha daqui, não me sinto assim. Minha leveza tem a ver com o fato de eu fazer o que eu gosto. Eu não trabalho, eu brinco. Aqui com elas, por exemplo, estou sempre contando piada. A convivência tem sido maravilhosa. A idade não me impede de nada.
Nathalia – Acho que o preconceito com a terceira idade é o mais permissivo que a gente tem. No nível de questionarem o motivo de uma pessoa mais velha querer trabalhar, namorar... Envelhecer é um tabu para a sociedade e principalmente para nós, mulheres.
Deborah – Penso que o etarismo ainda é muito forte. A peça é realmente valiosa nesse sentido, pois traz à tona todas essas questões. É maravilhoso ver alguém como a Suely, aos 85 anos, tão ativa e inteira no palco. Ela é um grande diamante!
–O fato de darem vida a mulheres com idades próximas a da realidade de vocês influenciou a percepção sobre si mesmas?
Nathalia – Com certeza. Nossa peça tem humor, leveza e aquele sarcasmo, mas, ao mesmo tempo, é muito profunda. Tem sido um exercício artístico muito bom.
– Fora dos palcos, qual aprendizado conquistaram nesse convívio de uma com a outra?
Deborah – Acho que eu estou em um lugar de muito privilégio. Não só pela minha personagem, claro, mas eu consigo olhar para a Suely e perceber tudo o que ela me traz de experiência, tudo o que a gente cresceu junto... e a mesma coisa acontece com a Nathalia. É realmente um privilégio.
– Deborah, você tem uma longa carreira no teatro, na televisão e no cinema. Como você enxerga sua evolução?
Deborah – Eu sempre trabalhei muito e sempre me cobrei muito. Hoje, me sinto com mais sabedoria para entender e usufruir do que há de bom na vida. Eu acho que a maturidade me trouxe essa sensação de calmaria.
– Suely, você é uma referência na arte. Qual seu maior aprendizado da carreira?
Suely –Qualquer trabalho traz para a gente algum ensinamento. Um dos que fiz, por exemplo, acabou com meu casamento. Foi quando eu decidi cuidar de mim mesma, olhar mais para mim. Meu trabalho
nunca vai me abandonar.
– Com uma trajetória tão longa, frente a tantos desafios... já pensou em se aposentar?
Suely – Eu comecei a trabalhar em 1959, mas Deus me livre de parar de trabalhar! Só de pensar já me traz uma angústia horrível, é a mesma coisa que morrer! Quando não estou trabalhando, fico correndo
atrás de trabalho.
– Nathalia, como a atriz mais jovem do elenco, quais lições conseguiu ter e compartilhar?
Nathalia –Ter três mulheres em cena, protagonizando uma peça e sendo uma delas a Suely, aos 85 anos, em plena atividade, já é um ativismo por si só. Eu percebo, cada vez mais, a vida acontecendo, a vida nos mudando e a vida nos impulsionando o tempo todo. Para mim, não há exercício melhor do que aprender por meio da arte.
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