Intérprete do Ademir na novela Terra e Paixão, Charles Fricks diz: ‘É uma profissão tão difícil. Sou feliz de viver do que eu escolhi'
Destaque na global Terra e Paixão como Ademir, Charles Fricks (51), que estreou na novela sendo adorado, viu o jogo virar quando o personagem começou a ter falas machistas. Em conversa exclusiva com a CARAS no Three Monkeys House, no Rio, o ator reflete sobre o machismo enraizado e conta como procura desconstruir isso nele mesmo.
– O Ademir tem se mostrado machista. Como tem sido para você reproduzir as falas dele?
– Não é que ele mudou, na verdade, vocês estão vendo agora o outro lado dele, que não aparecia. Ele não é perfeito, ninguém é. Ele é tridimensional, tem qualidades e defeitos. E é muito legal poder discutir o machismo, o preconceito, que andam lado a lado. Acho que, infelizmente, deve ter muita gente que assiste ao que ele faz e fala ‘está certo’. ‘Imagina casar com uma mulher da vida.’ Isso é que dói. Que bom que a gente está podendo mostrar isso no horário nobre, para que as pessoas discutam em casa, assim como a questão da transfobia com a Luana (Valéria Barcellos). O Brasil é o país que mais assassina pessoas trans no mundo, então que bom a gente ter uma personagem trans que vai ser feliz. E sobre o Ademir, torço para que ele aprenda a ser melhor.
– O machismo está enraizado. Como descontrói isso em você?
– Lendo e ouvindo. Tenho 51 anos, sou nascido e criado no interior do Espírito Santo, em Cachoeiro de Itapemirim. Nós sobrevivemos aos anos 1980, a gente teve uma criação homofóbica. Não estou falando só de família, mas de sociedade. A gente vive, ainda hoje, numa sociedade homofóbica, transfóbica, machista, preconceituosa. O preconceito é ignorância. Quanto mais você ignorar um assunto, mais preconceito você pode ter. Eu vejo o preconceito em mim e fico o tempo inteiro trabalhando isso. Tem
brincadeiras que a gente fazia que não pode fazer hoje. Tem coisas que não são mais toleradas, nunca deveriam ter sido. Então, você tem que se policiar e melhorar como ser humano mesmo.
– Você é bissexual, um ativista da causa LGBTQIAPN+. Acha importante usar sua visibilidade para falar sobre o assunto?
– Eu nem me sinto tanto ativista, mas acho que a gente viveu nos últimos anos momentos tão difíceis, que senti necessidade de falar. É uma coisa que eu tinha dificuldade até alguns anos atrás, de falar sobre a minha sexualidade. Não é à toa que, pouco antes do outro governo assumir, em 2018, teve um aumento de 40% nos casamentos e uniões estáveis do mesmo sexo. Não foi coincidência, as pessoas estavam com medo. Não acho que tem obrigação de se colocar assim, mas vendo os holofotes que um artista tem quando está no ar, em evidência, acho importante poder falar sobre o assunto pra levantar essas questões e mostrar que está tudo bem. Porque a gente viu muita coisa ruim acontecendo e sendo falada nos últimos anos, muito preconceito, até pastores tendo falas homofóbicas, transfóbicas, então, acho importante quando tem uma pessoa falando sobre isso, acho que pode ajudar pessoas que se sentem mal por serem gays, não binárias, trans e isso tem que acabar. Muita gente sofre por causa de pessoas que falam coisas horrorosas, seja um pastor ou um presidente, e isso mata. Então, é importante falar para normalizar, porque é normal!
- No início da novela teve uma cena sua que bombou horrores, a famosa cena que você abre a camisa, que o pessoal ficou te chamando sugar daddy. Como é que você recebeu isso? Você esperava essa repercussão? Virou Crush de um monte de gente...
- Foi tão inesperado pra mim. Eu acho engraçado, me divirto com isso. Acho que faz parte do imaginário da TV, como que uma cena assim as pessoas vêm talvez o que não tem
FOTOS: MARCIO FARIAS; PRODUÇÃO DE MODA: VANINHA COMPAN; BELEZA: DAIANNE MARTINS; TERNO: CRIS MARTINS; AGRADECIMENTOS: THREE MONKEYS HOUSE
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