Apresentadora do Esperte Espetacular recebeu a Revista CARAS em seu apartamento no Rio e recordou desafios da carreira ao estrelato na TV
Coragem é a palavra que melhor define Bárbara Coelho (36). Na adolescência, ela saía escondida de casa, no Espírito Santo, para ir ao Rio de Janeiro assistir aos jogos no Maracanã. Em 2010, vendeu o carro para ir à África do Sul fazer uma cobertura independente da Copa do Mundo para seu blog, apostando que a experiência enriqueceria seu currículo. E os esforços deram frutos! A jornalista acaba de participar da cobertura do Jogos Olímpicos de Paris pela TV Globo, mas antes de embarcar nessa jornada parisiense, a apresentadora do Esporte Espetacular recebeu CARAS em seu apartamento, no Rio. Carismática e cheia de autoconfiança, ela refletiu sobre o machismo e a presença feminina no esporte.
– Como começou sua paixão por esportes?
– Com meu pai. Ele sempre gostava de ir ao estádio e, como eram outros tempos, o meu irmão o acompanhava. Mas fui crescendo e ficando curiosa para entender por que meu pai gostava tanto. Escolhi meu time e queria vir ao Rio de Janeiro assistir aos jogos. Eu tinha 13 anos, dizia que ia dormir na casa de uma amiga e pegava uma excursão para vir. A gente não tinha grana, vir para cá numa viagem em família para ver jogo de futebol era uma coisa inviável, então dei meu jeito. Isso é um traço da minha personalidade. Desde nova eu me viro como dá e faço acontecer o que eu quero.
– Já adulta, se mudou para o Rio com a cara e a coragem...
– Vim para cá no ônibus com um ventilador e uma TV. Consegui uma república para morar, porque eu tinha um colega de trabalho que a filha estudava aqui no Rio e ela tinha um quarto. Fui batendo na porta mesmo, com currículo debaixo do braço e foi assim que consegui os meus empregos aqui, sem ajuda de nada nem ninguém. Uma estrada construída na raça e com muitas pessoas, obviamente, que reconheceram e me deram uma oportunidade, mas ninguém pegou na minha mão. Uma vez fui despejada de um apartamento e, tentando arrumar um outro lugar, cheguei em uma corretora e o cara falou que o apartamento custava X, mas falei: ‘Só tenho isso, me ajuda!’. Ele disse para eu pedir dinheiro para o papai. Morei com uma amiga que queria ser atriz e a gente dividiu cama por muito tempo. Graças a Deus deu tudo certo.
– Hoje, estar no comando do Esporte Espetacular é uma vitória para você, não é?
– Eu me sinto muito honrada. É uma responsabilidade enorme, porque falo em nome de muitas mulheres que sonham em estar ali e quero que elas cheguem a uma caminhada de muito respeito, acolhimento, de espaço igual ao que os homens têm. Quando cheguei ao Esporte Espetacular, falei para minha mãe: ‘Acho que deu certo tudo o que a gente passou!’ O meu ‘deu certo na vida’ é ter chegado a esse lugar de prestígio.
– Para quem tirou dinheiro do próprio bolso para ir para a Copa de 2010, hoje você trabalha na cobertura dos Jogos Olímpicos...
– É minha terceira Olimpíada, eu fiz Rio, Tóquio e agora Paris. Faz parte das minhas realizações profissionais. Os Jogos Olímpicos têm valores que deveriam estar na escola. Quando falo que o esporte é uma metáfora para a vida, acho que esses grandes eventos simbolizam essa minha fala. Então, representar a TV Globo e ser a porta- -voz do Brasil como jornalista em uma cobertura como essa é uma baita realização.
– Como é ser mulher em um ambiente que, até pouco tempo, era muito masculino?
– Todas nós passamos por situações difíceis na nossa carreira. Uma mulher que diz que nunca sofreu machismo ou nenhum tipo de preconceito está um pouco desconectada da realidade. Acho que dificilmente ela não tenha sofrido, talvez ela só não tenha entendido que aquilo tenha sido um assédio ou algum desrespeito.
– Você ainda sofre?
– Eu sofri muito, ainda sofro, ainda sou estereotipada por ser uma mulher magra, alta, de olho claro, branca. Isso ainda me traz problemas em alguns ambientes, mas tenho uma carreira sólida que construí nos últimos 14 anos e isso também me dá respaldo para muita coisa. Eu me considero uma voz e não é porque estou onde estou, com tudo que eu construí, que fico alienada da realidade. Acho que tenho que me posicionar cada vez mais porque minha voz é importante para quem está vindo.
– Precisa ficar provando o tempo todo que é boa?
– Quando um homem erra ele se equivocou. Quando a mulher erra ela é burra. Às vezes, a gente participa de um programa de 3 horas de debate e a gente se confunde, todos nós, homens e mulheres, e quando eu tenho qualquer tipo de problema o hate já vem atribuindo o meu erro ao meu gênero e não ao erro. Faz parte ser cobrada por um erro, estou exposta, mas sempre colocam meu gênero em pauta e é o que me incomoda.
– Te perguntam muito se quer migrar para o entretenimento?
– Muito! Mas deixa eu curtir o que estou vivendo (risos). A gente tem essa ansiedade de querer estar sempre num lugar que a gente não está e eu estou muito feliz onde estou. Adoro projeto novos, participei da Dança dos Famosos e fiz outras coisas legais durante esses anos, mas não quero sair correndo de onde estou, não, está tudo ótimo. Posso fazer outras coisas, abraçaria novos projetos, mas meu lugar, meu calorzinho no coração está no esporte.
– Participar da Dança dos Famosos foi difícil?
– Foi revolucionário, mexeu muito comigo emocionalmente, porque me levou para um lugar de uma Bárbara que nem eu mesma conhecia. Porque é uma Bárbara que precisa mexer um pouco com essa sensualidade, atuar e eu não estou acostumada a atuar. No Esporte Espetacular sou eu, do jeito que estou aqui, fico no programa. Então, para mim, foi muito incrível. A produção do Domingão é espetacular, não imaginava lidar com pessoas tão generosas. Meu parceiro, Vitor Avelar, foi um príncipe que entrou na minha vida e teve muito cuidado comigo, porque eu tinha dificuldade em alguns momentos de mais aproximação, de mais toque e ele foi muito cuidadoso entendendo essas minhas limitações ou dificuldades. Foi muito bonito tudo que eu vivi lá.
– Tem consciência de que é referência para outras mulheres?
– Eu tenho que ter essa consciência e responsabilidade de carregar esse peso e não é ruim, mas quando eu me expresso, me posiciono, eu tenho que pensar nessas pessoas que olham para mim como uma referência. As mulheres da minha geração viveram uma outra realidade, com menos espaço, com preconceito mais escrachado, com coisas mais absurdas. Se a gente souber construir melhor as nossas falas, a nossa maneira de expor as nossas opiniões e as nossas bandeiras, tenho certeza de que quem está vindo aí vai ter uma estrada e uma vida um pouco mais fácil que a nossa.
FOTOS: Marcelo Farias