Sem se intimidar com as faces do preconceito, Bel Moreira fala de bissexualidade, família e carreira
Na infância, ela ia para a escola envolta em plumas, passeava pelo shopping fantasiada de Batman e seus óculos de natação eram em formato de chamativas estrelas. Desde pequena era fácil notar: Bel Moreira (23) nasceu para as artes! No ar com a trama Poliana Moça, do SBT, a atriz chama atenção não só pelo talento, mas também pela maturidade diante do ofício. “A gente lida com uma vulnerabilidade tremenda, o tempo todo. Tem que ter cabeça. Só o fato de não se deixar levar pelo que cada um pensa, seja uma diretora, um produtor ou até mesmo o público, exige pés no chão e confiança em si mesma”, explica ela, que abriu as portas de seu lar paulistano para bate-papo exclusivo com CARAS.
A certeza e a confiança com que encara a profissão são as mesmas que permeiam suas decisões pessoais. E a mais importante delas, sem dúvida, foi ter assumido publicamente sua bissexualidade. “A sensação era de que eu iria perder tudo e isso me assombrou por um bom tempo. Até que veio a pandemia e percebi o quanto isso afetava minha saúde. Num dia qualquer, eu acordei e falei: ‘Quer saber? Cansei. Fiz o vídeo na hora que acordei e postei sem cerimônia nenhuma. Depois desse dia, me senti livre. O medo que guiava todas as minhas escolhas foi embora. Faria tudo de novo”, diz ela,
que namora a produtora de eventos Halana Lacerda (29). O medo, claro, se fez presente, mas tornou-se coadjuvante com o tempo.
“Temi, principalmente, por ter trabalhado majoritariamente com o público infantojuvenil. Sempre andei muito na linha e, para mim, isso é supertranquilo, porque eu adoro regras! Sempre busquei seguir uma lógica que combinasse com meu público. Agora, vejo que estão mais velhos, crescendo comigo, o que muda um pouco a perspectiva. E as regras!”, avalia a atriz, cujo currículo inclui trabalhos no teatro, como o musical A Noviça Rebelde; no cinema, com o longa É Fada, além da novela Chiquititas, também do SBT.
A transparência de Bel em relação às suas escolhas sexuais em nada abalou a relação com os fãs. Ao contrário, a ajudou a se tornar um exemplo de força e coragem. O preconceito, porém, ainda existe. “Às vezes, a melhor resposta é se impor, é brigar, é sair na rua e exigir o que é nosso por direito. Às vezes, é se resguardar. O preconceito tem várias faces. A gente tem que ser esperto, não deixar eles ganharem. Mas confesso que é cansativo. A gente luta por um grupo, por um conglomerado das mais diversas pessoas e pelo direito de existir em paz”, desabafa ela, confiante com a volta do diálogo na sociedade após a mudança do governo. “No governo anterior, pautas sociais eram ignoradas, feitas de chacota, era humilhante”, lamenta ela.
Em casa, a atriz divide a rotina com as irmãs, Giovanna (29) e Giulia (21), já que os pais moram na França. “Sou irmã coruja e falo delas sem parar! Foi por causa da mais velha que virei atriz. Ela que me mostrou o que era teatro. E a mais nova tem uma consciência de si e do mundo que surpreende”, derrete-se a atriz. Nas horas vagas, Bel gosta de cozinhar — salgados, pois dos doces ela foge! —, tomar uma cerveja e estar com a família. “Para infelicidade da minha conta bancária, eu também gosto muito de fazer compras!”, confessa ela, aos risos.