Em entrevista à Revista CARAS, Adanilo mostra importância de representatividade indígena ao estrear como ator em Volta por Cima
De Manaus para o mundo! O ator Adanilo (34) acaba de ter sua realidade transformada com mais um trabalho na Globo. Intérprete do motorista Sidney, na global das 7, Volta por Cima, ele festeja as conquistas que a trama traz tanto para ele quanto para quem o enxerga na tela. "É uma oportunidade incrível para debatermos masculinidades. Que acerto da autora Claudia Souto ao propor que um homem indígena esteja em cena discutindo suas questões com um homem preto, vivido pelo Fabrício Boliveira. A amizade deles tem levantado pontos importantes para pensarmos os papéis masculinos na sociedade brasileira atual", sugere Adanilo, em papo com CARAS.
Nascido na periferia de Manaus, Adanilo cruzou o País para se dedicar à sua maior paixão: fazer arte. "Desde criança, eu participei de manifestações artísticas e culturais da minha cidade. Dancei ciranda, fiz e faço graffiti e até um grupo amador de pagode eu tive no início da vida adulta!", relembra. "Em 2011, cursava Rádio e TV e não fazia ideia da cena teatral manauara. Fui ver uma peça do Teatro Experimental do SESC, importante companhia de Manaus, e fiquei encantado. Entendi que era aquilo que eu queria fazer da minha vida", completa ele.
Ganhar um papel tão expressivo no principal produto audiovisual do Brasil é uma conquista e tanto para o ator, que comemora a reação do público nas ruas e nas redes sociais. "Fazer uma novela é tornar--se conhecido do grande público, muita gente assiste televisão. Tem sido muito bonito o carinho das pessoas, principalmente manauaras, amazonenses, gente do norte do Brasil", conta. "É importante se sentir representado e houve uma defasagem dessa representação nortista no audiovisual brasileiro. Estamos aqui, eu e tantos outros artistas da nossa região, para contar e protagonizar nossas histórias, compartilhar a nossa visão de mundo", explica.
Essa é uma das grandes batalhas de Adanilo. Mesmo percebendo que a indústria está cada vez mais aberta à diversidade de novas narrativas, ainda falta um longo caminho a ser percorrido para um mundo de maiores oportunidades para artistas do Norte. "Falando pela ótica de uma pessoa indígena da Amazônia, me sinto muito honrado de viver esses tempos atuais. Nós devemos muito a nossos ancestrais, nossos antepassados que sempre fizeram por onde, resistiram, nos permitiram estarmos onde estamos hoje", diz ele. "Ainda falta muito para melhorar, principalmente em termos de espaços ocupados por nós. Muitas vezes me sinto sendo o único indígena, a única pessoa do Norte a estar numa grande produção audiovisual. Mas o mais importante é que consigamos cada vez mais protagonizar nossas histórias. E quebrar os estigmas sobre o que pensam em relação a gente", pontua.
Manter vivas as raízes indígenas é uma questão crucial para o ator, que também lamenta o cenário de preconceito contra os povos originários no Brasil. "Muita coisa tenho aprendido e vivido. As realidades indígenas são múltiplas e diversas e, infelizmente, a maioria delas ainda enfrenta problemas gravíssimos de racismo, de disputa de territórios e embates pela vida. Chega a ser impressionante que um País que é inteiro terra indígena, ainda lide de maneiras tão equivocadas com nossas culturas", comenta.
Pai dedicado da pequena Léa (7), Adanilo sonha alto com o futuro da filha e, claro, com o seu próprio futuro. "Quero que a minha filha cresça num mundo saudável, justo e igualitário, que ela tenha a oportunidade de viver a natureza do nosso planeta e seja feliz", deseja o artista, cheio de planos para a carreira. "Artisticamente, meu sonho é fazer, como diretor e roteirista, uma série sobre a Compensa, bairro de Manaus onde nasci e me criei. Já estou em processo de elaboração do roteiro e de pesquisas", adianta ele.
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