A atriz Isadora Cruz avalia sua oportunidade como primeira protagonista na TV após o fim de 'Mar do Sertão'
Tudo tem o momento certo para acontecer. É com essa filosofia que a atriz Isadora Cruz (25) tem escrito sua trajetória na TV. Natural de João Pessoa, na Paraíba, a artista foi embora para os EUA ao perceber que não tinha espaço para ela aqui. “Sempre ouvia que meu sotaque era um problema”, diz. Após uma discreta estreia em novelas, na global Haja Coração, de 2016, ela foi estudar em solo americano, onde morou na infância, e investiu na carreira internacional, atuando em filmes como O Chapeleiro do Mal, da Netflix.
Dedicada e talentosa, Isadora, no entanto, nunca desistiu e retornou ao Brasil em grande estilo, como protagonista da global Mar do Sertão. No folhetim, além de brilhar na pele de Candoca, ela teve a chance de valorizar as raízes que tanto defende. “Falta oportunidade para talentos nordestinos por causa dessa barreira do sotaque”, fala ela, de férias nos EUA após o fim do trama. E, para alegria dos fãs, no próximo mês a paraibana regressa para gravar novo projeto na Globo, interpretando outra nordestina. Depois, ela volta para casa, em Los Angeles.
– Como foi viver a Candoca?
– Foi um trabalho de aprendizado, que me fez crescer muito como artista e como mulher. Encontrei na Candoca uma força que eu não sabia que tinha dentro de mim e uma coragem de enfrentar qualquer coisa para realizar os meus sonhos e os meus propósitos.
– Além de ser sua primeira protagonista, Candoca era nordestina. Qual é a importância dessa representatividade?
– Acho que a gente está abrindo caminho para novos artistas. Falta oportunidade para talentos nordestinos por causa dessa barreira do sotaque. A novela provou que a gente pode contar uma história linda, com talentos incríveis, e que não precisam ser pessoas conhecidas pelo público para fazer sucesso. Eu era desconhecida, por exemplo, assim como outros atores do elenco. Então, acho que traz essa vontade de apostar em artistas de verdade, do teatro, independentemente do sotaque, de onde vêm, apostar no talento, na vontade de trabalhar. Mar do Sertão quebrou muitos paradigmas e acho que traz uma esperança de apostarem em novos talentos, como apostaram em mim. Eu queria ter crescido vendo artistas paraibanas, nordestinas, em papel de destaque. E isso nunca aconteceu. Ser esse exemplo é um presente para mim, porque posso estar inspirando atrizes que estão começando a entender que é possível.
– Já te pediram para minimizar ou perder seu sotaque?
– Quando estava fazendo Haja Coração, muitas pessoas do meio me diziam que eu tinha que neutralizar o sotaque na minha vida, porque não iriam conseguir me enxergar em outro lugar. Então, sempre ouvia que meu sotaque era um problema. ‘Acho a Isadora a cara do projeto, mas tem o sotaque.’ A gente vê que muitos artistas do eixo Rio-SP fazem todos os tipos de sotaque e, por algum motivo, a indústria entende que, por eles serem cariocas ou paulistas, conseguem fazer, mas o nordestino não. É um preconceito muito grande. Ouvi tanto isso, que achei melhor começar a carreira fora do Brasil e depois voltar para cá, porque achava que seria difícil conseguir papéis sendo paraibana.
– Foi por isso que você ficou seis anos longe das novelas?
– Depois de Haja Coração, fiz CAL, a Casa das Artes de Laranjeiras, e, quando terminei, passei para fazer a Pérola, protagonista de Malhação Vidas Brasileiras. Só que ela era paulista, assim como a Cris de Haja Coração. Então, não fiz o papel e foi quase um grito de que, quando eu fosse voltar, seria para fazer personagens nordestinos, com o meu sotaque, contar esse tipo de história. E se tiver que neutralizar o sotaque um dia, que neutralize por causa da personagem e não porque não tem histórias nordestinas sendo contadas.
– Se arrepende?
– Não me arrependo, pois foi importante esse tempo de estudo nos EUA. E Candoca foi a melhor personagem possível para me apresentar ao Brasil. Pude mostrar quem eu realmente sou, com uma personagem tão rica e próxima das minhas raízes. Não me arrependo, foi exatamente como tinha que ser.
– E você quase interpretou a Juma no remake de Pantanal...
– Ficou entre mim e a Alanis Guillen e, quando não passei, eles entraram em contato comigo para fazer o teste para Candoca. Foi uma lição: é o personagem que chama o ator. Na época, fiquei triste, decepcionada, mas não esperava que tinha uma personagem muito mais minha cara e que não poderia ter feito se tivesse pego Juma. A Alanis fez um trabalho brilhante. A Juma era dela e a Candoca minha mesmo.
FOTOS: VINICIUS MOCHIZUKI