À frente do Instituto Ayrton Senna, Viviane fala dos valores do campeão brasileiro que morreu há 20 anos e é inspiração de muitas histórias de superação
Ainda é impressionante chegar perto de um carro de Fórmula 1 pilotado por “Ayrton Senna do Brasil” há 24 anos. Viviane Senna (56) — irmã do tricampeão, que morreu aos 34 anos, em acidente no circuito italiano de Ímola, em 1º de maio de 1994 —, colocou a McLaren na entrada do Instituto Ayrton Senna, em SP. Conta que não é raro ver alguém chorar ao entrar ali. “O legado de Ayrton vai além dos campeonatos. O importante eram os valores por trás das vitórias”, diz a presidente da entidade. “Ele foi um campeão que levantou a nossa bandeira quando atravessávamos uma época extremamente sombria. Éramos um País que não dava certo economicamente, socialmente, politicamente, malvisto no exterior e por nós mesmos. Uma nação que não ganhava nada, nem a Copa. Perdemos para a França, em 1986. No dia seguinte, Ayrton venceu o francês Alain Prost, em Detroit, e pela primeira vez acenou com a bandeira brasileira na volta da vitória”, diz a mãe de Bianca (34), Paula (28) e do também piloto Bruno Senna (30).
A McLaren é resultado da aposta feita em 1990 entre Ayrton e Ron Dennis (66). Às vésperas da corrida em Monza, ele disse ao presidente da escuderia que, se vencesse o GP da Itália, país da adversária Ferrari, levaria o carro. Dito e feito. “Ayrton venceu no Primeiro Mundo em algo muito avançado, não foi pelo ‘jeitinho’. Lutava também fora das pistas e sem trapacear. Com garra e honestidade, suava a camisa, o que não era comum naquela época na F1. Criou um modelo de gente honesta que dá duro, não desiste e vence. É isso que admiram”, fala ela, revelando que recebe e-mails do mundo todo com histórias inspiradas em Senna. “Um rapaz da Letônia contou que tinha um pôster do Ayrton no armário. Levantava todo dia, olhava para ele e pensava: ‘Como você, não vou desistir, vou vencer as dificuldades e superar tudo’. E conseguiu.”
Os frutos da empreitada a emocionam. “Chorei muito com o relato de um aluno da primeira turma do primeiro projeto do Instituto, há 20 anos. Usávamos o esporte para incentivar o estudo. Só ficava quem fosse bem na escola. Ele, de família pobre, concluiu o curso, fez Educação Física na USP, mestrado na Unicamp e é doutor em Ciência do Esporte pela University of Technology de Sydney. Treinou a equipe australiana de canoagem, ouro na Olimpíada de Londres”, diz ela, que integra os conselhos do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, CDES, de Desenvolvimento Sustentável de SP, de Educação da CNI e Fiesp e os conselhos consultivos da Febraban, Energias do Brasil, EDP, ADVB, World Trade Center e Todos pela Educação. Atua ainda em conselhos de administração e consultivo e comitê de orientação e investimentos sociais de três bancos e coordena o grupo Novos Rumos da Educação, do CDES. Foi apontada pela revista Time e pela CNN um dos Líderes para o Novo Milênio. É a única brasileira do grupo Amigos Adultos do Prêmio das Crianças do Mundo, com a rainha Silvia (70), da Suécia, e o Nobel da Paz José Ramos-Horta (64). Não à toa, é direta: “Meu maior sonho? Ter mais tempo para mim. Trabalho cerca de dez horas por dia.”