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Bem-estar e Saúde / RECENTE DESCOBERTA

Injeção para emagrecer, Mounjaro vira febre e especialista explica como funciona

Em entrevista à CARAS Brasil, o nutrólogo Gustavo Sá detalha nova sensação entre os medicamentos para a perda de peso e contraindicações

Dr. Gustavo Sá
por Dr. Gustavo Sá

Publicado em 02/07/2024, às 18h14

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Medicamento mudou a forma como o planeta trata a obesidade e o sobrepeso - Freepik
Medicamento mudou a forma como o planeta trata a obesidade e o sobrepeso - Freepik

Lançado em 2022 para fazer frente ao Ozempic e aprovado no Brasil em setembro de 2023, o Mounjaro é a nova sensação entre os medicamentos para a perda de peso, e tem como princípio ativo a tirzepatida. Em entrevista à CARAS Brasil, o nutrólogo Gustavo Sá explica como funciona a ação do medicamento no organismo e explica contraindicações.

“Mounjaro é o nome comercial de uma medicação que foi recentemente descoberta e que mudou o mundo do emagrecimento, mudou a forma como o planeta trata a obesidade e o sobrepeso. Essa molécula é chamada de tirzepatida, seu nome comercial é Mounjaro, seu nome farmacológico é tirzepatida. A única autorizada a produzir essa substância é a Lilly, que foi quem desenvolveu a pesquisa com a medicação, essa empresa norte-americana que hoje vale quase 900 bilhões de dólares, isso mesmo, você não escutou errado, tamanha foi a revolução da produção dessa medicação”, diz.

De acordo com Gustavo, o primeiro ponto de atuação dessa medicação é atuar no GLP-1, O glucagon-like peptide-1. “Essa dinâmica físico-química auxilia no processo de emagrecimento. A grande novidade – porque isso seu antecessor, o Ozempic, a semaglutida, já fazia – que o Ozempic não faz, é atuar no GIP, que é um peptídeo inibidor gástrico. Essa atuação melhora demais a velocidade do tratamento de emagrecimento, além de também atuar na resistência insulínica, melhorando o quadro de diabetes mellitus tipo 2. Então, essa medicação faz tudo isso de forma físico-química. De forma fisiológica. E essa fisiologia gera uma sensação de saciedade”, informa.

“Então, ela tira aquela compulsão que o paciente tem. Aquela perversão noturna pelo carboidrato. Ou aquela coisa de o paciente ficar comendo desesperado. Transforma o combustível alimentar mesmo. Segura aquela coisa de o paciente olhar e falar assim: ‘Nossa, eu não devia ter comido isso. Por que comi tanto assim?’. Esse tipo de questionamento. Essa gula é cortada pela raiz. Então, essa dinâmica também é interessantíssima. Além de poder atuar num processo chamado browning, que é o bronzeamento da célula de gordura”, emenda o especialista.

Ele explica que pega uma célula de gordura grande, espumosa, amarela, branca, e a converte numa brown fat cell, uma célula de gordura marrom, com mais mitocôndria, mais termoativa. “Essa é a verdadeira dinâmica dos parâmetros que essa medicação atua. Além disso, ela pode diminuir a motilidade do trato gastrointestinal, fazendo com que o alimento fique mais tempo por ali, isso também ajuda no processo de emagrecimento”, fala o nutrólogo.

CONTRAINDICAÇÕES

Segundo Gustavo Sá, essa medicação não pode ser usada por quem está amamentando. “Há pouco estudo ainda em quem está amamentando. Depois que a mulher descobre a gestação, também não recomendamos, não indicamos o uso dessa medicação no período gestacional. Lembrando que essa medicação diminui a resistência insulínica e trata uma doença que impede as mulheres de engravidar, que é a SOP, a Síndrome dos Ovários Policísticos. Essa medicação é uma aliada para aquela mulher que muitas vezes está tentando engravidar e não consegue”, destaca.

O nutrólogo alerta também para os cuidados. “Existem vários cuidados que precisamos ter. Quando o paciente está em uso dessa medicação, é importante que façamos a indicação de nutrientes como vitaminas, minerais, aminoácidos, porque, como essa é uma medicação que também tem a ação de reduzir a vontade de comer, aquela fome maluca que temos, não podemos esquecer que não estamos deixando de comer apenas calorias. Estamos deixando de comer vitamina, mineral, aminoácido”, fala.

“Então, junto disso, podemos fazer uma reposição endovenosa desses nutrientes associado a soro fisiológico mesmo. Por quê? Porque precisamos manter o paciente sempre hidratado. Aqui no nosso instituto, fazemos, no mesmo dia em que é feita a aplicação do Mounjaro, a medicação, de forma endovenosa, uma terapia de hidratação e reposição de nutrientes endovenosos para esse paciente”, acrescenta o especialista.

Gustavo garante que não há possibilidade do medicamento parar de fazer efeito. “O Mounjaro não tem essa apresentação de a medicação parar de fazer efeito. O que precisamos sempre fazer, independente da medicação, é otimizar para sair do estado de inércia. Então otimizamos, por exemplo, com Xigduo, com Jardiance, que são medicações que agem no mecanismo da glicose, meio que levando esse açúcar, essa glicose para a urina. Podemos otimizar a via da gordura com Orlistat, um estático, um químico, que é outra medicação que faz um bloqueio nas micelas de gordura. Então, precisamos estar sempre otimizando para que o paciente consiga sempre resultados melhores a cada dia”, informa.

Ainda de acordo com Gustavo, é importante fazer o desmame. “Importantíssimo, precisamos fazer o desmame dessa medicação, tá? Não é subir as escadas que você subiu degrau por degrau e, quando chegar no último, pular. Não, vai dar errado. Ou a mesma coisa de você estar dirigindo uma Ferrari a 300km por hora, ver a curva e pisar no freio de uma vez, puxar o freio de mão, é óbvio que você vai capotar. Então é preciso fazer o desmame progressivo dessa medicação, por isso é necessário sempre o acompanhamento médico para fazer todas as aferições”, explica.

“Agora, o interessante dessa medicação é que, além de melhorar toda a questão de peso e também da resistência insulínica, ela é muito eficaz em reduzir o colesterol total, o perfil lipídico, reduzir triglicérides, então é uma medicação que melhora a saúde cardiovascular”, continua.

APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO

Gustavo Sá informa que em 2 de junho deste ano, a medicação foi aprovada para o tratamento de apneia obstrutiva do sono, ou seja, para aqueles pacientes que têm muita apneia, muito ronco. “A Universidade da Califórnia publicou essa matéria, esse artigo, esse estudo, no dia 22, em um importante jornal médico, o New England Journal of Medicine. No dia 22, foi publicado isso aí, então tem muita coisa vindo por aí. Estamos literalmente cravando o caminho para o fim da cirurgia bariátrica, porque hoje esses tratamentos são muito eficazes e ajudam demais nossos pacientes”, finaliza.