Anne Geddes, a fotógrafa por trás das fotos de bebês mais conhecidas do mundo
Redação Publicado em 01/09/2011, às 14h47 - Atualizado em 08/08/2019, às 15h43
Depois de mais de 30 anos de carreira, 19 milhões de livros traduzidos pelo mundo e milhares de bebês registrados, a fotógrafa australiana Anne Geddes, conhecida mundialmente por suas fotos com recém-nascidos, fala da paixão pela profissão, conta momentos marcantes de sua trajetória e divide alguns segredos só desvendados por quem conhece os bastidores dessas fotos.
- Quando você começou fotografar?
"Desde muito jovem, eu sempre tive uma sensação constante de que o futuro reservava algo a mais para mim. Crescendo nos anos 1950 e na década de 1960, eu queria debruçar sobre revistas como National Geographic e Life, minha favorita. Eu continuo a olhar para suas novas edições, sem dúvida, porque coloca um valor muito elevado na força e qualidade de sua fotografia. Eu adorava as imagens das pessoas e me lembro de ser fascinada pelo conceito de que uma única imagem capturava um momento exato no tempo que jamais poderia ser repetido. Quando eu estava quase completando 18 anos, e viajando na Nova Zelândia pela primeira vez, comecei a tirar, literalmente, centenas de fotografias, observando e aprendendo a apreciar as diferentes qualidades da luz natural. Foi então que o meu amor pela fotografia começou lentamente a se desenvolver."
- Como você se especializou em fotos de bebês?
"Vários anos depois de começar minha carreira na fotografia e no retrato, tirando foto de crianças novas, comecei a focar seriamente nos bebês. Eu acho que muitos acreditavam que eu estava fazendo isso naturalmente porque eu era do sexo feminino. Então, gradualmente comecei a ganhar prêmios com minhas fotos, e os veteranos do círculo da fotografia foram, basicamente, forçados a sentar e assistir. Em um estágio no início da minha carreira, quando fui vice-campeã de uma competição fotográfica, o representante local da Kodak me disse, “Graças a Deus você não ganhou – como poderíamos ter uma fotografia de bebê na sala de reuniões da Kodak!”. Incrível."
Ainda hoje, em vários níveis de arte no mundo, bebês não são considerados importantes ou legítimos em termos de assunto, e eu fico espantada quanto ao motivo. Um dos maiores desafios da minha carreira tem sido gradualmente trabalhar na mudança dessa percepção. Mas eu acho bebês fascinantes.
"Eu li na autobiografia do Keith Richards (eu adorei o livro dele), Life, uma citação de Tom Waits que realmente me comoveu. Ele disse: 'Hoje em dia parece ter um déficit de admiração'. Ele sugeriu que nós realmente precisamos nos questionar sobre todas as coisas boas do mundo e nunca parar de questionar sobre isso, para manter um senso de espanto e admiração. Para mim, é exatamente como eu sinto sobre os bebês, gravidez e vida nova. Eu sou tão apaixonada por esse assunto que eu poderia gastar a vida toda olhando para um recém-nascido e sempre me sentir criativamente inspirada."
- Você quer passar alguma mensagem com as suas fotos? Qual?
"A partir do momento que eu peguei uma câmera, descobri que era capaz de me expressar de modo diferente. Fotografia se tornou um sinônimo de comunicação para mim. Durante o projeto de “Beginnings”, eu vim a entender o valor mais profundo de incentivar as pessoas a olharem para seus bebês e perceber quão preciosos, bonitos e importantes eles são como seres humanos; que todos eles devem ser valorizados, encorajados e incentivados. Para mim, meu trabalho realmente é uma forma de expressar o milagre da nova vida, em todas as suas formas. Quer se trate de recém-nascidos, grávidas ou elementos da natureza."
- Quantos bebês você já fotografou? Dá para contar?
"Milhares! Verdadeiramente, minha vida tem sido cheia de bebês e me sinto muito honrada por tantas mães e pais terem dividido seus preciosos filhos comigo, o que torna possível para eu compartilhar com outros sua beleza, inocência e a maravilha e perfeição de cada criança."
- Depois de mais de 30 anos de carreira, qual é a foto mais inesquecível para a fotógrafa Anne Geddes?
"Diria que uma das minhas imagens favoritas é a Maneesha (com 16 anos) segurando Gabriella (com 10 semanas), a qual você pode ver no meu mais recente projeto, “Beginnings.” “Beginnings” era diferente de qualquer coisa que eu já tinha feito antes. O livro trouxe novas imagens significando o começo de uma vida na natureza e explorou uma mistura desses novos temas com aquelas minhas imagens de mulheres grávidas e bebês. O significado especial de Maneesha e Gabrielle para mim é realmente ligado a uma das minhas mais novas e icônicas imagens de “Until Now.” Maneesha também foi um bebê prematuro do mesmo tamanho e vê-la como uma linda jovem mulher segurando Gabriella é como uma inspiração para mim. Isso representa tanto a fragilidade e a força da vida, e os milagres que acontecem todos os dias."
- Como é seu processo criativo?
"Minha arte está sempre mudando, como eu estou inspirada de novo todos os dias. Minha fotografia evolui com assuntos pelos quais estou interessada e com a visão ou tema que espero comunicar. Agora, estou trabalhando em um projeto que gira em torno de mulheres grávidas e elementos da natureza pelos quais tenho me inspirado. Eu sempre fui admiradora de todo o processo de gravidez. É um momento incrível, importante e precioso na vida da mulher. Eu explorei em detalhes a gravidez em um dos meus livros anteriores, “Pure,” então, continuar a melhorar minha fotografia dessa forma é muito excitante e enriquecedor pra mim. É maravilhoso ouvir as histórias de vida das mulheres e da gravidez, suas esperanças por um novo futuro como mães, e compartilhar com elas sua empolgação e surpresa com o fato de estarem carregando uma nova vida dentro de seus próprios corpos. Sou muito honrada por essas lindas mulheres grávidas confiarem em mim para dividir este momento tão especial em suas vidas e trazer sua alegria e histórias pessoais para dentro do meu estúdio. Gravidez pode ser um momento muito vulnerável. Nós realmente nos tornamos uma extensão da família e meu estúdio torna-se uma atmosfera amável, calma e inspiradora, cheia de esperança."
"Eu acho que as mulheres que vem no meu estúdio, as mães e pais que trazem seus filhos, a grávida que vem com graciosidade e confiança em mim, todos eles têm uma coragem quieta. Toda vez que eles partem, digo para minha equipe, “Isso é surpreendente. Não somos incrivelmente privilegiados por sermos parte de suas vidas neste momento?”. Para ter sua confiança, para que eles saibam que eu quero fazer certo, e a maior parte quando estou fotografando, estou pensando “Oh meu Deus, eu espero que eu possa”.
"As formas pelas quais eu posso expressar minha criatividade e as pessoas podem compartilhar o resultado do meu processo criativo estão constantemente evoluindo também porque existem agora muitas novas maneiras por meio das quais minha fotografia pode ser vista, em formas que não eram possíveis quando eu comecei minha carreira. Você pode até ver e compartilhar minhas imagens agora via aplicativos de iPhone e iPad e jogos digitais. Ano passado, eu estava muito animada e satisfeita com a criação do meu primeiro e-book (livro eletrônico), a versão digital de “Beginnings.” Quando eu vi “Beginnings” como um e-book pela primeira vez, não pude acreditar como ele replica maravilhosamente as experiências que eu tive durante o ano, fotografando o livro no meu estúdio. Você pode ver imagens na tela cheia facilmente, como eu faço quando trabalho, e aumentar para ver detalhes surpreendentes. É impressionante."
"Então você simplesmente toca a tela ou passa um dedo para mudar a página para ver esses bebês lindos. É incrível um artista poder oferecer fotografias com tão alta qualidade que podem ser facilmente acessadas e carregadas com você. Estou ansiosa para as versões digitais de meus próximos projetos e também para tê-las disponíveis em português."
- Há aproximadamente 19 milhões de cópias dos seus livros em versão impressa pelo mundo, e as pessoas gostam especialmente do My First Five Years. Ele tem sido reimpresso com novas imagens várias vezes. O que faz este livro especial para as pessoas?
"My First Five Years é um livro de lembranças, um livro no qual famílias, amigos e entes queridos podem gravar os primeiros anos da vida do bebê em palavras e imagens. Este período é muito precioso e passa rapidamente. Acho que esse livro tem um significado especial para as pessoas porque as ajuda a preservar memórias de um momento tão especial em suas vidas com uma nova criança. Gosto de selecionar imagens recentes de meu último trabalho para novas edições desse livro."
- Existem algumas técnicas para acalmar os bebês para as fotos? Você pode nos contar?
"Meu estúdio é normalmente muito calmo e quieto, principalmente quando estou fotografando recém-nascidos, que é o que mais faço atualmente. Parece que quanto mais velha eu fico, mais jovem meu “assunto” fica. Talvez seja também porque não tenho mais energia para perseguir crianças de dois anos."
"Também gosto de tocar música clássica suave quando estou trabalhando. Sou uma fã particular de Mozart, e acho várias de suas composições muito calmantes. Tenho uma confortável “sala das mamães” ao lado do estúdio, completamente equipada com uma área para troca dos bebês, onde as mães podem relaxar e conversar. Assim que está todo mundo arrumado, cumprimento cada mãe e explico a imagem que quero alcançar. Nós cuidadosamente tiramos a roupa do bebê e o enrolamos em uma manta de algodão respirável personalizada para mim. No estúdio mesmo, há uma segunda sala e os pais podem ficar perto de seus bebês enquanto estou fotografando e ser parte do processo também."
"Trabalho com uma equipe muito pequena de pessoas nas quais acredito completamente, nós estamos juntos há muito tempo. Eles são muito responsáveis e experientes com bebês de todas as idades. Eu tenho minhas próprias, mas muito rigorosas regras para meu staff manusear os bebês. Por exemplo, todo bebê tem uma área de troca separada. Sempre que carregamos um bebê, sempre permanecemos no campo de visão do pai ou da mãe, e sempre explico meu próximo passo. Bebidas quentes nunca são servidas e irmãos, crianças mais velhas em particular, nunca são permitidos no estúdio quando estou fotografando bebês pequenos. Estamos sempre conscientes e respeitando as enormes responsabilidades envolvidas em fotografar crianças tão novinhas."
"Gostaria de dizer que eu tenho um remédio mágico para ajudar acalmar bebês a fazê-los pegar no sono, mas não tenho! Os bebês dormindo em minhas imagens são, na maioria, recém-nascidos que normalmente pegam no sono se estiverem aquecidos, confortáveis e alimentados. Uma mãe relaxada geralmente significa um bebê relaxado, então nós fazemos todas as mães se sentirem bem-vindas e especiais, como elas realmente são. Sempre tento fotografar pela manhã porque encontro os bebês mais estáveis, e tudo é sempre preparado e ensaiado no dia anterior. Quando os bebês chegam, tudo precisa girar em torno deles."
- Existe uma idade melhor para fotografar um bebê?
"Todas as idades! Bebês crescem e mudam muito rapidamente. Eu sempre mantive a câmera na mão quando minhas filhas estavam crescendo, para fotografar momentos e gravar as pequenas, maravilhosas e diárias experiências que você pensa que vai lembrar para sempre, mas acabam fugindo. E até hoje, com minhas filhas Kelly e Stephanie — que trabalham agora comigo no estúdio (e estou muito contente com suas escolhas pela fotografia e artes plásticas como carreiras) — sempre carrego câmeras. Nós continuamos nossa tradição de fotografar nosso tempo juntas – temos um rico tesouro de fotos da família."
- Quais são suas dicas para as mães que querem fazer boas fotos de seus filhos?
"Eu sempre sugiro manter sua câmera à mão, para facilmente capturar momentos que surgem. Desta forma, seu filho, acostumado com a câmera, não se distrairá com ela. Também recomendo usar luz natural sempre que possível. Luz natural, como a luz de uma janela, é mais agradável do que a dura luz direta do sol. Lembre-se também de incluir você mesma em algumas de suas fotos. Seus filhos gostarão de saber como você se parecia quando era jovem e eles vão provocar você com isso mais tarde também!"
