Com o carinho dos filhos e netos, a estrela vence o câncer e volta às novelas
Festejar a vida é o que Arlete Salles (74) mais deseja após vencer um câncer de mama. “Ter voltado a encenar a peça O Que o Mordomo Viu e gravar Babilônia, exercendo meu ofício, é a celebração da minha recuperação, a chamada superação”, destacou ela, referindo-se à novela das 9 que estreia em março.
Seu drama começou em dezembro de 2013 e somou-se a outra tristeza: em maio do mesmo ano, sua mãe, Severina Salles, morreu aos 93 anos. “Achei que tudo passaria sem deixar rastro tão doloroso. Mas fiquei presa a sentimentos predadores da saúde: tristeza, melancolia, mágoa. O que fica disso é que a vida é uma dádiva, não se pode desperdiçá-la como vinha fazendo. Devemos nos manter atentos ao estado emocional tanto quanto somos cuidadosos com o corpo”, ressalta.
Nesse processo, Arlete contou com o amparo dos filhos, o ator Alexandre Barbalho (55) e o diretor Gilberto Salles (47), e dos netos, Pedro (24) e Joana (18), herdeiros do primogênito. “A palavra câncer assusta. Mas a perspectiva sempre foi boa”, contou Alexandre.
Para a atriz, esse apoio foi essencial. “Também tive amigas que me deram carinho, como Taís Araújo, Stella Torreão e Aracy Balabanian.Marília Pêra ligava diariamente”, contou, no hotel Les Jardins de Rio.
O que sentiu ao descobrir a doença?
Medo, foi desesperador! O diagnóstico já é um horror. Ainda frustrava a realização do projeto de estrear um espetáculo, onde viveria um dos momentos mais felizes da minha carreira: eu e o meu grande amigo Miguel Falabella iríamos contracenar.
O que foi mais importante?
A urgência em sair dessa situação me ajudou. Perguntei ao médico o que precisava ser feito e disse a ele ‘vamos começar já’. Fiz a cirurgia e me disseram que haveria o tratamento preventivo: quimioterapia e radioterapia.
Qual foi o momento mais difícil?
A quimioterapia é devastadora, muito invasiva. É difícil suportar o desconforto físico, as dores. A perda dos cabelos também é uma das coisas que mais trazem sofrimento à mulher, porque nos expõe. Fui ao cabeleireiro e mandei passar máquina zero. Quando os cabelos começaram a crescer e pude aposentar artifícios como touca e peruca, senti paz no coração e a presença da saúde.
Sempre acreditou na cura?
Vencer um diagnóstico desses exige força, determinação. Não é fácil mesmo. Concluí a quimioterapia física e emocionalmente ‘a zero’, mas fui em frente. Um dia, após deixar o hospital depois do tratamento, abracei o Alexandre e chorei, não mais de dor, mas de alegria. Há seis meses concluí essa jornada, estou curada graças aos profissionais Lisa Morikawa, Marisa Gomes, José Bines, Luiz Fernando, Augusto César, Priscila Campelo e Roberto Zani. Aí, coloquei as roupas na mala e fui para um voo de paz, para o teatro fazer a peça. Miguel, meu querido amigo, com esse trabalho, me resgatou para a vida duas vezes. Quando perdi minha mãe foi a forma de ele me ajudar a suportar. E, durante o tratamento, a ideia de que o teatro me esperava dava forças. Me recuperei a tempo de retomar este vaudeville. E veio o convite do Dennis Carvalho para atuar na novela. Minha personagem é homofóbica, racista, mas tem humor.
A doença a transformou?
Sou a mesma Arlete. Em 2013, perdi um pouco minha alegria natural, o amor à vida, a gratidão de exercer esse ofício. Esse diagnóstico difícil de ser suportado foi a forma dura de a vida me chamar a atenção. Com o alívio de ter superado, você se sente transformada.
O que diz a quem tem a mesma doença?
Tem de pensar positivo, acreditar que vai vencer. Encolher-se em um canto para chorar dificulta o tratamento. Eu pude me cuidar, mas nem todos conseguem.
Este será seu visual na TV?
Vou usar peruca loira, como uso no teatro. Agora, o trabalho me faz me sentir viva.
Você teve o apoio de um parceiro?
Não estou casada, namorando, nem noiva. Essa é uma hipótese remota. Mas a vida surpreende. Mistério sempre há de pintar por aí, já disse Gilberto Gil. E não vivo tão só, meu filho Gilberto mora comigo e, aos sábados, todos almoçam na minha casa.