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Teatro / Da TV para o teatro

Luiza Curvo se preparou dez anos para encarnar personagem no teatro

Em entrevista à CARAS Brasil, Luiza Curvo revela que se prepara para encarnar personagem baseada na obra de Fassbinder desde primeiro contato com o autor

Luiza Curvo vive romance conturbado com estilista narcisista em peça teatral - Divulgação
Luiza Curvo vive romance conturbado com estilista narcisista em peça teatral - Divulgação

Luiza Curvo (39) começou a carreira em novelas da Globo e conquistou o público com personagens como Cássia (de Chocolate com Pimenta) e Glorinha (de Era uma Vez). Aos 29 anos, a atriz decidiu focar na carreira teatral e agora, soma participação em muitas montagens de sucesso. Em entrevista à CARAS Brasil, ela comenta sobre sua personagem em Petra e relembra sua trajetória até os palcos.

Na peça — baseada no clássico de Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), As Lágrimas Amargas de Petra von Kant —, Luiza interpreta Karin, jovem por quem Petra (Bete Coelho) se encanta e sofre em um relacionamento conturbado. A personagem, definida por muitos como oportunista, foi construída pela atriz como uma "uma sobrevivente, que tenta ter um lugar no mundo".

Com uma admiração antiga pelo trabalho de Fassbinder, a intérprete revela que a construção de sua personagem durou anos. "O processo criativo para fazer a Karin começou quando conheci a obra do Fassbinder, há dez anos. Devorei todos os seus filmes, peças e biografias e decidi que queria montar esse texto". Nas obras do alemão, Luiza encontrou características que a fascinaram, como o destaque às pessoas marginalizadas, a presença de emoções contraditórias e protagonistas que não se resumem a indivíduos bondosos e ingênuos. 

Para a atriz, a leitura de Fassbinder sobre o sexo feminino na construção de As Lágrimas Amargas de Petra von Kant foi perfeita: "Ele era fantástico em fazer obras de arte que questionassem os modelos sociais e usou esse talento para dar às mulheres o protagonismo dessa história", opina.

"A peça fala sobre seis mulheres, cada uma com um universo riquíssimo de desejos, dúvidas e contradições. Elas estão conectadas ao mesmo tema, que é a paixão, e a forma como cada uma lida com o tema permite ao espectador um panorama feminino muito profundo". A intérprete afirma, ainda, que o texto da obra, mesmo que escrito no início dos anos 1970, se relaciona profundamente com a sociedade atual:

"Estamos nesse momento em que, cada vez mais, debatemos novas formas de relacionamentos. Algumas mulheres contemporâneas já têm o privilégio de poder viver suas relações e sua sexualidade com liberdade, mas muitas ainda reproduzem comportamentos talhados pelo patriarcado e pela misoginia", explica. Segundo Luiza, a "peça desmonta a imagem do discurso, muitas vezes vazio, a respeito de paixão, lealdade e comprometimento e nada é mais contemporâneo que isso".

Da TV para o teatro

A atriz conta que começou a trabalhar muito nova, aos oito anos, e sua estreia foi na televisão com Sonho Meu. Na novela de Marcílio Moraes (80), de 1993, Luiza deu vida à Aninha. "Ao todo, fiz mais de vinte anos seguidos de TV e também participei de alguns filmes", relembra.

Depois de participar de muitos sucessos quando criança e adolescente, a intérprete iniciou a faculdade na área — e já era contratada pela TV Globo, com carteira assinada, há dez anos. "Eu fui formada na prática antes da teoria por diretores como Denise Saraceni, Jorge Fernando, Wolf Maia, Fabrício Mamberti, Roberto Faria e tantos outros", comenta.

O trabalho com a Cia.BR116 - Teatrofilme começou quando a artista decidiu se dedicar ao teatro e, com a mudança de enfoque na carreira, ela acrescentou produções como Mãe Coragem, Gaivota, Ensaio Romeu + Julieta, Santo Inquérito e, agora, Petra no currículo. A dedicação à carreira teatral, entretanto, não significa o fim de interpretações na TV: "Tenho muito respeito pela minha trajetória como atriz que se iniciou na televisão e que agora também se expandiu para o teatro. Não sinto necessidade nenhuma de me fechar em apenas uma linguagem", enfatiza.

Como artista, Luiza afirma que sente vontade de cada vez mais explorar todos os formatos e possibilidades que a profissão permite: "Eu gosto de poder investigar o ser humano e isso pode ser explorado em diversos formatos", conclui.