Ao lado dos filhos, Gabriel e Pedro Gracindo, o ator Gracindo Júnior encena a peça 'Canastrões', no Rio, em homenagem ao centenário de Paulo Gracindo
Há cerca de um ano e meio Paulo Gracindo (69), Gabriel Gracindo (34) e Pedro Gracindo (27) se reuniram para um encontro de família. Teria sido apenas mais uma conversa informal entre pai e filhos se de dali não tivesse surgido uma ideia que resultou num projeto: a peça Canastrões, em cartaz no Teatro Sesc Copacabana, no Rio. Além do significado especial de ter os três atuando no mesmo espaço, o espetáculo tem, para eles, uma importância muito maior. O projeto é também uma homenagem ao centenário do ator Paulo Gracindo (1911-1995), pai de Gracindo Júnior e avô dos rapazes.
Pai e filhos conversaram com exclusividade com CARAS Online nos bastidores do Teatro Sesc Copacabana horas antes de uma apresentação. Animado, Pedro explica que para eles era quase inevitável que em algum momento os três fossem atuar juntos. “Era quase óbvio que um dia isso iria acontecer. A gente é muito próximo, se dá muito bem, existe uma admiração como companheiro de trabalho”, afirma. “É muito comum falarmos de teatro, a peça é uma continuação, claro que muito especial, da relação que a gente já tem”, reforça Gabriel
Os atores contam que após algumas ideias e procuras por um bom texto para encenar, chegaram ao espanhol Moncho Rodriguez (60). O autor escreveu Canastrões, um texto metalinguístico sobre o ofício do ator, feito especialmente para eles. Gracindo Júnior conta que o pai o deixou de herança um canastro imaginário, repleto de memórias, personagens, sonhos, truques, que serviu de inspiração para o nome da peça. Leia agora o que eles contam sobre o espetáculo, sobre Paulo Gracindo e sobre o ofício de atuar.
Centenário de Paulo Gracindo
Outras coisas já tinham sido feitas pelo centenário, como o filme Paulo Gracindo, o bem-amado, que terá um livro com o mesmo nome lançado em breve, sobre a vida e obra do ator, um programa do Video Show especial na TV Globo, um selo nacional foi lançado. “Queríamos fazer uma série de coisas que contassem um pouco da história dele, só que isso é mais amplo. Não gosto, por exemplo, de sublinhar muito essa homenagem ao Paulo Gracindo, mas também é difícil não falar, porque a peça fala da história do ator, a família de atores, que vem de 400 anos atrás, eles vinham puxando seus canastros”, explica Gracindo Júnior, que colocou no espetáculo um personagem que não entra, apenas é citado, chamado O Invisível. “É meu pai, as pessoas percebem. Mas não há nada de biográfico no espetáculo, é uma entidade, como todos os nomes colocados em algumas poltronas do teatro, todos grandes canastrões, que da mesma maneira vieram ‘carregando seus canastros, cheios de memórias, poesia’”, conta Gracindo. Como decidiram não vender os assentos que ficam nas costas dos atores, no Teatro Arena do Espaço SESC, resolveram colocar nomes de grandes atores já falecidos nelas, como se ali estivessem, assistindo à peça.
Pai e filhos unidos
Os três se aproximaram ainda mais, depois de passarem três meses em Portugal, trabalhando na produção e montagem do espetáculo, junto com o autor Moncho, no centro de criatividade que ele tem no Norte do país. Em seguida, se apresentaram por oito cidades portuguesas. “Voltamos em junho. E a ideia era se ausentar, ter um foco nisso. Porque no Rio, o Gabriel e eu somos contratados da Record, o Pedro é músico, nos deslocamos. A gente queria uma pesquisa voltada para o teatro, com toda a alma, trabalhávamos doze horas por dia, com o corpo, saíamos cansados”, lembra Gracindo Júnior. Segundo Pedro, se eles já não fossem uma família, virariam uma. “Adoro trabalhar em família. Temos uma relação muito amiga e eles já estão velhos (todos riem), já dá pra encarar uma brincadeira juntos. Mas claro que o pai é muito forte. Volta e meia esse pai aparece e os chateia um pouco”, se diverte Gracindo, ao falar dele mesmo.
A mãe dos meninos
O ator é casado há 35 anos com Daisy Poli, 61, mãe dos meninos. “Ela também foi atriz e me conheceu porque fez um pequeno personagem numa peça comigo. Logo depois, fui produzir outro espetáculo, a chamei pra ser produtora, porque foi uma pessoa com quem me dei muito bem. Ela foi produtora de uma, duas, três peças e virou a minha produtora (risos). Ficou do meu lado e está aí até hoje, cuida de nós três”, fala Gracindo, que também é pai de Ian, 38, e Daniela, 37, (do casamento com Débora Duarte) além do enteado, Bernardo. E tem três netos: João Gabriel, filho de Gabriel, e João Pedro e Maria Fernanda, filhos de Ian.
Um tempo na tevê
Para se dedicar à peça, Gracindo Júnior recusou o convite para fazer a minissérie José, da Record. “Fiquei muito penalizado de ter acabado de fazer a minissérie ‘Rei Davi’ (mesma emissora) e estar envolvido com esse espetáculo, já todo planejado no Brasil”, explica ele, que quer levar a peça para São Paulo e mais dez cidades. Diferentemente dos outros espetáculos que fez nesses 50 anos, Gracindo não quer só ganhar dinheiro, mas que o povo conheça de fato o que está por trás do teatro. “Estou abrindo para todos os atores, para terem noção do que é o teatro de verdade, não é uma brincadeirinha boba, tem muito o que se observar. O texto do Moncho é um poesia, muito bonito. Que fique, como diria Odorico Paraguaçu, ‘nos anais e menstruais da história’”, fala, aos risos.
70 anos
No ano que vem, Gracindo Junior completa 70 anos de idade. Mas está muito ativo e em forma. “O ator é um bicho estranho, porque acredita que é muitos. Então, prefiro ser mais jovem, mais alegre, em forma, é uma opção minha, do personagem que anda comigo na vida”, fala. Desde os 14 anos, ele faz ginástica e nunca parou. Começou com a expressão corporal, no início da carreira, e depois foi praticar outros esportes. “Gosto muito de cuidar da saúde, é costume mesmo. Faço academia: ioga num dia, alongamento no outro, malho ferro, bicicleta. Estou sempre atento a manter a forma”, conta ele, que pensa em procurar uma nutricionista para se alimentar melhor, pois não resiste a uma carne seca.
Veja o vídeo com os bastidores do espetáculo na TV CARAS