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Teatro / ENTREVISTA

Elias Andreato resgata debate sobre etarismo em adaptação no teatro: 'Descartável'

Em entrevista à CARAS Brasil, Elias Andreato celebrou nova temporada de O Que Faremos com Walter? em Uberlândia

Mariana Arrudas
por Mariana Arrudas
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Publicado em 31/08/2023, às 17h00

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Elias Andreato como Walter, personagem da peça O Que Faremos com Walter?, e Marcello Airoldi - Foto: Caio Galucci
Elias Andreato como Walter, personagem da peça O Que Faremos com Walter?, e Marcello Airoldi - Foto: Caio Galucci

Dono de uma extensa carreira no teatro, Elias Andreato (68) se prepara para viver novamente a história do protagonista de O Que Faremos com Walter?, uma comédia argentina. Na pele de Walter, zelador de longa data em um condomínio, o ator abre a discussão sobre etarismo na sociedade.

"O velho é tratado de uma forma descartável", diz Elias Andreato, em entrevista à CARAS Brasil. "[Apesar de ser] uma discussão que ninguém se interessa, é muito pertinente. Já sou considerado um idoso, embora eu trabalhe muito e seja ativo, vejo que é como se nós fossemos invisíveis."

Na trama, produzida no Brasil por Leonardo Miggiorin (41), o artista interpreta o zelador que após anos prestando serviços aos condôminos, se torna um problema para os moradores. De forma cômica, o texto gera reflexões sobre como os idosos são tratados pela sociedade.

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A caminho da temporada em Uberlândia, Minas Gerais, o ator ressalta que a produção convida à reflexão sobre como a sociedade se comporta de maneira agressiva. "Estamos todos sobrevivendo e fazendo nosso trabalho. Não precisa bater, gritar e matar. Temos que ser mais amorosos", aponta. 

Elias Andreato voltou com o espetáculo Andaime, 15 anos após a exibição original. Para ele, a peça também passa pela discussão do etarismo. Ele conta antes de subir no andaime do teatro, viu muitos idosos trabalhando em construções em Perdizes, bairro em que mora. "As pessoas estão voltando para o mercado porque ninguém consegue sobreviver com a aposentadoria".

Para o futuro, o artista prepara duas peças: O Nome do Bebê, espetáculo dirigido pelo artista, volta em janeiro do próximo ano no teatro FAAP, e A Alma Despejada, peça em parceria com Irene Ravache (79), terá uma nova temporada no Rio de Janeiro, também em 2024. Abaixo, Elias Andreato relembra o início da carreira e abre sua relação com as redes sociais. Leia trechos editados da entrevista.


Você estreou profissionalmente no teatro em 1977, há mais de 40 anos. Como é ver sua trajetória até aqui?
Comecei a fazer teatro amador em Osasco, na periferia. De lá até aqui, foi uma longa jornada. Foi muito difícil. Não tenho formação acadêmica, comecei minha trajetória no teatro profissional como técnico, camareiro, contra-regra, fui fazendo som, trilha, luz, até subir no palco, com papéis pequenos e fazendo figuração. Foi um processo lento e eu era muito despreparado, mas fui sempre muito esforçado.

Sua trajetória certamente inspira outros jovens artistas...
Ao mesmo tempo que foi muito dolorido, me causa muito orgulho. Porque eu sobrevivi a tudo isso, eu tinha tudo para não dar certo. O que eu mais ouvia era para eu tentar outra coisa, as pessoas não eram muito generosas, eram bem cruéis.

Agora você está começando uma nova temporada de O Que Faremos com Walter? em Uberlândia. Qual a importância de debater o etarismo no teatro?
Toda vez que o teatro aponta alguma coisa, vale à pena investir. Não tem lugar de fala do idoso, é uma coisa extremamente delicada. Não temos, culturalmente falando, essa reverência aos mais velhos como no Japão e na China. Walter é uma comédia bem interessante. Estamos vivendo um período em que as pessoas estão muito violentas, agressivas e doentes. Os personagens fazem parte do nosso cotidiano e temos que ser mais amorosos com as pessoas.

Foto: Caio Galucci
Leonardo Miggiorin, produtor de O Que Faremos com Walter? | Foto: Caio Galucci

Você já sofreu algum preconceito por causa da sua idade?
Ainda não. Nesse sentido, o teatro é muito generoso. Como continuo trabalhando, assumo um lugar especial nisso. Gero possibilidade para outras pessoas. A partir do momento em que eu não estiver produzindo, provavelmente vão me descartar como qualquer outro. 

Você é bastante ativo nas redes sociais. Qual a sua relação com elas?
Claro que eu não sou uma brastemp, mas eu me viro. Durante a pandemia eu aprendi toda essa linguagem, fiz várias peças aqui na minha casa, aprendi toda essa linguagem. Foi muito prazeroso, conheci muita coisa... Com o Instagram a mesma coisa, fui criando conteúdo para me divertir. A única preocupação que eu tenho é a diversão e fazer aquilo que eu gosto.